Se há um grau de Ensino, no Brasil,
que anda rateando há muito tempo é o de nível médio. Assinalam-se feitos no
Ensino fundamental (mais de quantidade do que de qualidade), nossa
pós-graduação é digna de ombrear-se com a de países industrializados, há boas
perspectivas de avanços na Educação infantil, mas o Ensino médio representa uma
entropia no sistema. Agora mesmo, há estranheza quanto ao número de reprovados
em geral e também aos que abandonam os estudos, desinteressados do seu futuro profissional.
Segundo dados oficiais, o índice de repetição em 11 foi de 13,1% (é o pior
desde 1999).
As causas? Podem ser variadas, mas
algumas são pontuais. Por exemplo, o excesso de matérias nos confusos
currículos existentes. Em nenhum lugar do mundo desenvolvido há tanta
diversificação. O Conselho Nacional de Educação colabora para aumentar a
confusão, quando sugere a incorporação de mais Sociologia e Filosofia ao
currículo. Não havia disponibilidade de tempos vagos para que isso acontecesse.
Em algumas Escolas públicas, essas duas matérias surgiram com a redução de
aulas de Língua Portuguesa e Matemática. É claro que os resultados só poderiam
ser desastrosos.
Os problemas do Ensino médio se
agravam em virtude da fase de transição por que passam os jovens, além da
natural imaturidade proveniente da adolescência. Some-se a isso o desinteresse
dos pais, na maioria dos casos, e estão criadas as condições para justificar o
fenômeno, a que se deve agregar a falta de um bom programa de bolsas de estudo
para jovens de baixa renda. É essencial criar um projeto seguro de
financiamento estudantil, no Ensino médio, como existe o ProUni para o Ensino
superior. Quem sabe, aproveitando a estrutura nacional dos Centros de
Integração Empresa-Escola, que nos seus quase 50 anos de vida promoveram quase
10 milhões de estágios para os nossos jovens. É preciso sempre mais.
A Universidade Aberta do Brasil (UAB)
já possui 639 polos de Educação pública à distância, aproximando-se de 900 mil
Alunos. É um avanço considerável e a intenção da presidente Dilma Rousseff de
ampliar o número dos atuais 38 Institutos Federais de Educação, Ciência e
Tecnologia tem o mais amplo apoio da sociedade. Mas isso tudo é para quando? O
ritmo dessas obras não é dos mais animadores. Já surgiu alguém fazendo graça
com o problema que é sério: sugeriu-se entregar a coordenação das obras à Fifa.
Ela sabe apertar o governo.
Com Enem ou sem Enem, queremos um
Ensino médio mais inteligente, preparando os nossos jovens para a sociedade do
conhecimento e da inovação. Deseja-se dar um salto no número de universitários
brasileiros, hoje na casa dos 8 milhões. Isso não será alcançado com um Ensino
médio ultrapassado e desinteressante.
Arnaldo Niskier, Jornalista e professor, in: O Globo (RJ)
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