Como o maestro de uma orquestra ou o
líder de uma empresa. É assim que países como Estados Unidos e Inglaterra veem
os diretores das Escolas – nações nas quais o cargo é considerado o mais
importante depois do Professor, conforme apontam pesquisas internacionais, como
a feita pela Wallace Foundation em 2011. No Brasil, no entanto, falta muito para
atrair líderes para o cargo, capacitá-los com qualidade e criar boas condições
de trabalho. Com poucas exceções, exige-se pouca competência de quem quer
assumir o posto, os treinamentos deixam a desejar e as dificuldades materiais
das Escolas representam um grande desafio para o bom andamento das atividades.
O primeiro grande problema é a forma
como são selecionados os diretores no Brasil. Em dez estados, os ocupantes
desses cargos são escolhidos por indicação política – sistema desaconselhado pelos
Educadores por facilitar o uso político do cargo pelas Escolas. O método é a
base para a escolha de diretores em 40% das Escolas municipais do país, segundo
o Ministério da Educação.
Formação de gestores tem lacunas no
país
Além de formas deficientes para a
escolha de diretores, os eleitos não são preparados nas universidades para
enfrentar os desafios de gerir uma Escola – o que afeta também a rede
particular de Ensino. “A capacitação de profissionais da gestão Escolar ainda
está na fase de ‘Alfabetização’ em nosso país. Os [programas] ofertados em
nível de especialização, que não têm nenhum caráter de especialização,
caracterizam-se pela generalização de conceitos e teorias”, lamenta Heloísa
Lück, coordenadora de uma pesquisa sobre o tema conduzida pela Fundação Victor
Civita. Nesse sentido, treinamentos oferecidos por secretarias de Educação
também não oferecem um conteúdo que seja útil no cotidiano Escolar. “Em geral,
falta conscientização de que é preciso melhorar a capacitação e acompanhar mais
de perto esses profissionais”, afirma Maria Carolina Nogueira Dias,
especialista em Gestão Educacional da Fundação Itaú Social.
Academia de diretores leva mais
qualidade às Escolas de Nova York
Uma iniciativa implementada em 2003
em Nova York causou uma reviravolta nos índices de aprendizagem nas Escolas da
cidade. Depois da criação da Academia de Lideranças de Nova York para diretores
das Escolas, o rendimento em Inglês e Matemática de Alunos de instituições que
estavam abaixo da média melhorou e se nivelou com o de outras boas Escolas. A
iniciativa foi apresentada em São Paulo, no mês passado, por Irma Zardoya,
presidente da academia. Seguindo os meios de seleção empresariais, a academia
implantou um recrutamento semelhante aos programas de trainee de
multinacionais. Os novos diretores só assumem a posição após 14 meses de
treinamento, com simulações de situações reais do cargo. Aqueles que não forem
considerados aptos podem ser dispensados.
A eleição é hoje a forma mais
realizada. Por mais que permita a participação da comunidade, é um método falho
em garantir a competência do escolhido, já que não costuma ser acompanhado de
provas que testem as competências dos profissionais. Das 20 unidades da
federação que adotam o pleito, algumas como fase anterior à indicação política,
apenas Bahia, Ceará, Distrito Federal, Minas Gerais e Pernambuco fazem um tipo
de avaliação como pré-requisito para serem eleitos.
O concurso público, em uso somente em
São Paulo, é o mais próximo dos sistemas internacionais de captadores de
líderes para as Escolas. “É uma forma de provimento que ajuda a contratar os
melhores e evita abusos e privilégios. A sua utilização não fere a gestão
democrática da Escola, como pensam alguns. E, para evitar engessamento, não existe
estabilidade absoluta”, diz o Professor Ocimar Alavarse, da Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo (USP).
Fiscalização
Outro entrave para a melhoria da
gestão das Escolas no país é a falta de mecanismos que ajudem a avaliar o
trabalho dos diretores. Especialistas concordam que o desempenho de uma Escola
não depende só da atuação do diretor, mas também da equipe e das condições
materiais das Escolas, que são precárias no Brasil. Mesmo assim, insistem na
necessidade de delimitação de indicadores que sejam acompanhados pelas
secretarias de Educação para promover melhores resultados.
“Critérios utilizados hoje em algumas
redes públicas de Ensino são questionáveis. Quando esses parâmetros forem bem
adotados e os gestores tiverem o suporte dos órgãos públicos para atingir essas
metas, como acontece em outros países, com certeza teremos boas surpresas na
aprendizagem dos nossos Alunos”, acredita Priscila Cruz, diretora-executiva do
movimento Todos pela Educação.
Trabalho depende do apoio da comunidade
A gestão de uma Escola engloba uma
complexidade de aspectos pedagógicos – materiais e administrativos – difíceis
de equacionar. Principalmente quando faltam recursos. Além disso, no Brasil,
muitas Escolas da rede pública funcionam em regiões socioeconômicas
vulneráveis, o que aumenta o desafio dos diretores.
Quem consegue trabalhar nessas
condições pode ser considerado um herói. Esse é o caso de Wilson Marcionilio,
diretor da Escola Estadual Manoel Ribas, ao lado da Vila Torres, em Curitiba.
No cargo desde 2010, ele conta que assumiu a instituição depois que o
Ministério Público do Paraná (MP), em parceria com lideranças locais, tomou
medidas para evitar que a Escola fosse fechada.
Aplicando o projeto do MP, com a
ajuda do governo estadual e de toda a equipe de Professores e funcionários do
colégio, Marcionilio está conseguindo um maior apoio da comunidade e tem
mantido as crianças por mais tempo na Escola, transformada em instituição de
Ensino integral.
“Os principais problemas da
instituição são a forte tendência à evasão dos estudantes e outros inerentes a
dificuldades da comunidade localizada nas proximidades da instituição, como
o tráfico de drogas. O nosso trabalho não consiste só em gerir a Escola, mas
fazer dela um local atraente para as crianças e, ao mesmo tempo, em
estarmos próximos às famílias para que elas compreendam a importância dos
estudos para as crianças”, diz.
Fonte: Gazeta do Povo (PR)
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