A meta de oferecer Ensino em tempo
integral em, pelo menos, 50% das Escolas públicas daqui a 10 anos é perspectiva
pra lá de tímida, para não dizer frustrante, inscrita no Plano Nacional de
Educação (PNE), aprovado quarta-feira por comissão especial da Câmara dos
Deputados. Pior: há dúvida se o investimento prescrito será suficiente para
atender os objetivos previstos. O Projeto de Lei nº 8035/10, do Executivo,
fixava em 7% do PIB os recursos a serem aplicados no setor na próxima década. O
relator do texto, Ângelo Vanhoni (PT-PR), elevou o percentual para 7,5%. Depois
o governo admitiu aplicar meio ponto percentual mais, chegando a 8%. Comparados
aos 5,1% atuais, o avanço é inequívoco. Mas a superação do atraso educacional
brasileiro exige bem mais.
É preciso conferir ao setor
prioridade absoluta, fazer da sua qualificação uma obsessão nacional, acordar
de vez para o fato de que Escolaridade e produtividade caminham junto. Uma das
maiores economias do mundo, o Brasil está longe de poder se gabar dos recentes
avanços alcançados na Educação. O Censo de 2010 revelou que, até aquele ano,
metade da população (50,2%) com 10 anos ou mais nem sequer havia completado o
Ensino fundamental. Em 2000, 65,1% estavam nessa lamentável situação. Urge
acelerar o processo. Autor de destaque que passa os investimentos para 10% do
PIB, o deputado Ivan Valente (PSol-SP) argumenta que países como Japão, Coreia
do Sul e outros se desenvolveram aplicando até 17% de suas riquezas em
Educação.
Ressalve-se, contudo, que destinar
dinheiro ao setor tampouco é suficiente. Urge qualificar o investimento. O
Brasil praticamente universalizou o acesso às salas de aula nos últimos anos,
mas as deficiências do Ensino são tantas que sua população ainda se iguala à do
Zimbábue (país que detém um dos piores índices de desenvolvimento humano do
mundo) em número médio de anos de estudo: 7,2. Sem Escolas, conteúdos e mestres
atraentes, a evasão Escolar não refluirá. A valorização dos Professores deve
ser ponto inicial do processo. Mais do que um piso salarial de âmbito nacional,
a categoria deve ter plano de carreira consistente, que incentive o
aperfeiçoamento. Nas cidades, falta capacitação adequada a quase 15% do
magistério; na zona rural, a 50%.
É vergonhoso o país tornar-se a sexta
economia do planeta com apagão de mão de obra qualificada e planejar a adoção
do tempo integral nas Escolas apenas para daqui a uma década, contentando-se em
contemplar até lá apenas metade da rede pública. Mais: pelo Plano Nacional de
Educação, os Professores da Educação básica têm até 2020 para se formarem em
licenciatura. A falta de ousadia arrisca transformar esse passo de tartaruga
num caminhar de caranguejo, crustáceo conhecido por traçar as trajetórias
andando de lado. Sem desmerecer os progressos previstos no PNE, é de verdadeira
revolução que carece o Ensino neste país.
Fonte: Correio Braziliense (DF)
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