Para os professores das escolas
públicas brasileiras, a dificuldade de aprendizagem dos alunos não é culpa
deles: apenas 11% dos profissionais da área creditam o baixo rendimento ao não
cumprimento do currículo ou à insegurança física da Escola. A responsabilidade
sobre o fracasso, para 60% deles, é da família e do próprio aluno.
Os dados foram tabulados pelo Estado
a partir do questionário da Prova Brasil 2009, respondido por 216.495 Docentes
de instituições públicas de todo o País que dão aulas para Alunos do 5.º e 9.º
ano do Ensino fundamental, público-alvo da avaliação.
No ranking dos culpados, que
apresentou 14 opções de resposta aos Docentes, o nível cultural dos pais e,
entre os Alunos, a baixa autoestima, o desinteresse e a indisciplina ocuparam
as sete primeiras posições (veja quadro nesta página). No primeiro lugar - como
principal problema que afeta o desempenho dos estudantes, apontado por 68,9%
dos Professores - está o não acompanhamento, por parte das família, dos deveres
de casa.
O índice é 40 pontos porcentuais
acima da primeira proposição, que relaciona o rendimento dos Alunos à figura do
Professor.
Ao todo, 26,9% dos Docentes acreditam
que sua sobrecarga de trabalho dificulta o planejamento das aulas e para 26,4%,
os baixos salários geram insatisfação e desestímulo.
Para especialistas, essa percepção
dos Docentes ajuda a explicar a situação precária da Educação no Brasil.
"Com isso na cabeça, o Professor já desiste do Aluno de cara. Nem
considera a hipótese de que o menino tem capacidade de aprender", diz a
Educadora Guiomar Namo de Mello, diretora de uma instituição dedicada a
projetos de Educação inicial e continuada de Professores da Educação básica.
"Essa visão simplista cai se
olharmos estudos que mostram que Alunos da mesma Escola com Professores
diferentes têm rendimento mais díspares do que o registrado na mesma sala entre
os que têm família engajada ou não", completa.
Para Maria de Lourdes Mello Martins,
que trabalha na Comunidade Educativa Cedac, instituição que oferece programas
de formação a Professores da rede pública, falta capacitação. "Mal
preparado, a primeira reação (do Professor) é reclamar da família e se isentar
da responsabilidade. É claro que uma família atenta, que arruma a mochila e
aponta o lápis, é linda. Mas quando você coloca isso como condição, culpa a
criança duas vezes: por ela ir mal e por não ter uma família exemplar. Daí é
óbvio que os Alunos terão baixa autoestima."
Docentes da rede pública de São Paulo
confirmam os resultados do questionário. Para o Professor de física Michael
Robson Costa, da Escola Estadual Tarcísio Álvares Lobo, os Educadores apenas
cumprem as exigências da grade curricular. "O retorno tem que ser do
Aluno", diz ele, embora admita que o sistema não atraia os estudantes.
"As avaliações, as normas, tudo é fora do que eles esperam."
A participação da família também é
bastante citada. "Tem Aluno que não tem pai nem mãe. E, quando tem, não se
interessa", comenta a Professora de matemática da Escola Estadual Capitão
Pedro Monteiro do Amaral, Andrea Landi. Segundo a Professora de inglês Melissa Campos,
que dá aulas na mesma Escola, a ausência da família desestimula não só a
criança, mas os Educadores. "Alguns largam mão, mas a maioria se
interessa, porque você não pode deixar de lado os Alunos que querem
aprender."
Fonte: O Estado de S. Paulo (SP)
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