A falta de qualidade da Educação
brasileira não é de hoje. Já na Primeira República, o Educador paulista Orestes
Guimarães liderava o movimento de cunho nacionalista chamado “Entusiasmo pela
Educação”, e convocava a atenção da sociedade para o impacto socioeconômico e
político do investimento na Educação popular. No início do século 20, 80% dos
brasileiros eram Analfabetos e 46% da população entre sete e 14 anos se
encontravam fora da Escola. Segundo estatísticas da época, o Brasil estava em
penúltimo lugar em índice de Alfabetização entre as nações “civilizadas”. Quase
um século depois, temos ainda 9,7% de Analfabetos na população entre 15 e 64
anos de idade e 3% de crianças de sete a 14 anos fora da Escola. Mais: somente
56,1% dos estudantes que concluem o 3º ano do Ensino fundamental aprenderam o
que era esperado em leitura; e 42,8%, em matemática. E continuamos a ocupar os
últimos lugares nos rankings mundiais de Educação, como o Programa Internacional
de Avaliação de Alunos (Pisa).
É um contrassenso que o Brasil,
considerado a 6ª economia do mundo, esteja na lanterna nos rankings
internacionais de Educação. Os últimos resultados do Pisa confirmam essa
discrepância entre o poder econômico de um país e o nível educacional de seus
cidadãos. A avaliação da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) mostra que o PIB per capita tem influência para o sucesso educativo, mas
só explica 6% das diferenças de desempenho médio dos estudantes. Os outros 94%
refletem o modo como os recursos fazem a diferença.
As análises da OCDE sugerem que a
relação entre investimento na Educação e desempenho não tem mais impacto a
partir de um patamar de US$ 35 mil de gasto cumulativo por Aluno em sua
Educação dos seis aos 15 anos. Por exemplo: países que gastam mais de US$ 100
mil com seus estudantes, como Suíça e Estados Unidos, apresentaram níveis
semelhantes de desempenho em comparação aos que gastam menos da metade desse
valor por Aluno, como a Hungria e a Polônia.
O Brasil destina a cada Aluno US$ 18
mil em média, durante os nove anos de estudo do Ensino fundamental. Comparando
investimento dos países e o desempenho de leitura média no Pisa, estamos acima
apenas do Kirguistão, um dos países mais pobres da Ásia Central, com 5 milhões
de habitantes e às voltas com guerras étnicas. Portanto, o nível de
investimento com Educação básica no Brasil, além de estar num patamar baixo, é
ineficaz porque não implica bons resultados e indica claramente que não estamos
empregando bem os investimentos em Educação.
Cabe, então, uma pergunta: como fazer
para que a qualidade realmente chegue a todas as Escolas do país? Coreia,
Finlândia e Xangai sobressaem nas avaliações internacionais de matemática e
linguagem e servem como exemplos de sucesso para quem busca melhorar o
desempenho educacional. Como ponto de partida, esses países acreditam que todos
os alunos são capazes de aprender e lhes dão essa oportunidade, com uma
abordagem individualizada na aprendizagem, foco na aquisição de habilidades
complexas do pensamento desde o início da Educação infantil e alinhamento com
as novas tecnologias.
Outra prática importante nesses
países é o foco em gestão educacional, delegando aos próprios gestores o
controle sobre recursos humanos, materiais e finanças. Esse modelo requer a
contrapartida governamental no compromisso com a formação inicial e contínua
dos Educadores, além de planos de carreira que atraiam os profissionais mais
qualificados.
Os exemplos estão postos e é preciso
agir com urgência para superar esse histórico de perdas na área educacional.
Não se trata mais da simples vontade de “querer mudar“, mas sim de uma
indeclinável “exigência de mudanças” de uma sociedade em constante
transformação, que nos conecta, em tempo real, em interações físicas e digitais
a um mundo sem fronteiras. Não há mais tempo para retórica sobre a abertura da
Escola para um incrível mundo novo.
Fonte: Correio Braziliense (DF)
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