Está ficando cada vez mais claro que
um dos principais problemas que a sociedade brasileira enfrenta hoje em dia é a
péssima qualidade da Educação que é oferecida na grande maioria de nossas
Escolas públicas e privadas. Isso tem consequências muito importantes, passando
pela produtividade das nossas empresas até a criminalidade que nos afeta todos
os dias. Apesar de grande parte da sociedade já ter compreendido que a Educação
é mais importante para a nossa competitividade do que a proteção de setores
específicos da nossa economia, há uma dificuldade muito grande para melhorar a
qualidade da Educação. Nossos avanços, apesar de estarem acontecendo, são muito
lentos.
Nesse ritmo, demoraremos décadas para
alcançar o nível educacional de Shangai na China, por exemplo. Será que devemos
nos resignar e deixar a Educação ir melhorando lentamente ao longo dos anos? Ou
será que há mecanismos para aumentar a qualidade mais rapidamente? O que
mostram as evidências?
As pesquisas realizadas no Brasil e
no exterior mostram que a gestão do sistema Escolar é o que realmente faz a
diferença. Nesse sentido, pesquisadores estão desenvolvendo novas técnicas para
medir a qualidade da gestão nas Escolas e encontrando resultados bastante
interessantes. As medidas de gestão mais importantes têm a ver com estratégia e
planejamento. Mede-se, por exemplo, se a Escola acompanha o desenvolvimento dos
Alunos nas fases críticas de aquisição de conhecimento, com dados de avaliações
periódicas, disponíveis para todos os interessados.
Outra questão importante é se o
desempenho das Escolas nos exames de proficiência está sendo monitorado de
forma adequada, se é discutido com os Professores e funcionários e quais são as
consequências dessas discussões. Um ponto importante diz respeito aos
Professores. Como a Escola lida com os Professores que não estão fazendo seu
trabalho adequadamente? Por quanto tempo o desempenho insatisfatório é
tolerado? É possível substituir os Professores com desempenho persistentemente
abaixo do esperado?
Os primeiros resultados dessas
pesquisas, realizadas em países desenvolvidos, têm mostrado que há uma variação
muito grande na qualidade da gestão nas Escolas e que as Escolas melhor
dirigidas têm notas maiores nas avaliações de proficiência. Outra pesquisa
mostra que as Escolas charter americanas, que atendem as minorias, são mais
efetivas em termos de notas quando acompanham e dão "retorno"
frequente para os Professores sobre o seu desempenho, usam dados de avaliações
para guiar todo o processo de instrução, dão mais horas de aula e tem
expectativas altas com relação aos Alunos. Tamanho de classe, gastos por Aluno
e qualificação dos Professores não parecem influenciar os resultados dessas
Escolas. Não há segredo.
Nesse sentido, é muito decepcionante
que as discussões sobre o plano nacional da Educação tenham se focado no
aumento de gastos com Educação. Na verdade, o foco da discussão deveria ser
leis que permitissem maior flexibilidade na gestão Escolar, em particular na
contratação e demissão de Professores e diretores, que são os atores centrais,
juntamente com os Alunos, do processo educacional. De nada adianta aumentar os
gastos com Educação para aumentar o salário dos Professores e com isso atrair
melhores profissionais para o Ensino, se não houver a possibilidade de
substituir os professores que tem desempenho abaixo do esperado.
O corporativismo é um dos fatores que
mais atrapalha a busca por melhores resultados no Brasil, não só na Educação,
mas também em várias outras áreas. Por exemplo, os funcionários do judiciário
estão entre os profissionais mais bem pagos no Brasil. Entretanto, a justiça
brasileira é uma das mais morosas do mundo e os seus funcionários vivem em
greve. Se aumentos de salários resolvessem o problema, nossa justiça seria uma
das mais eficientes do mundo. O corporativismo faz com que os Professores na
Bahia, por exemplo, estejam em greve há mais de dois meses, período em que
todos os Alunos estão sem aulas. Enquanto as greves de ônibus são resolvidas em
um dia, as da Educação demoram muito tempo, pois não afetam diretamente o dia a
dia das pessoas. Como aprender sem aulas?
Para citar um exemplo caseiro, a
cidade de Sobral no Ceará conseguiu em apenas quatro anos (2005 a 2009)
aumentar o seu Ideb de 4 para 6,6, alcançando a meta estabelecida pelo governo
federal para a cidade para 2021! As notas de matemática dos Alunos da 4ª série
na prova Brasil aumentaram 44% nesse período. Quando perguntado sobre o que foi
feito para melhorar tanto em tão pouco tempo, o secretário de Educação local
afirmou que o principal foi o foco nas crianças menores e na Alfabetização. Foi
feito um monitoramento das Escolas, com avaliações constantes sobre o progresso
de todos os Alunos.
Além disso, houve responsabilização,
ou seja, os Professores e diretores são diretamente responsáveis pelo sucesso
ou fracasso dos Alunos. Os profissionais que alcançam as metas são premiados.
Os bons resultados aumentaram a autoestima dos Professores, o que criou um
círculo virtuoso. Quando perguntado se houve aumento dos gastos com Educação na
cidade para atingir esse resultado, o secretário respondeu: "Dez anos
passados, a gente gasta o mesmo porcentual com Educação e consegue avanços
significativos". Enquanto isso, o relator do PNE pensa em aumentar os
gastos com Educação para 10% do PIB, drenando recursos de todas as outras áreas
para satisfazer a demanda dos Professores. Pode?
Naercio Menezes Filho, professor, in: Valor Econômico (SP)
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