sexta-feira, 8 de junho de 2012

O nosso ensino médio não é sequer "médio"

Ano a ano, estamos enxugando gelo. Mais e mais gelo, quando nos reportamos ao Ensino médio, que ostenta a taça de chumbo no espectro das mazelas da Educação brasileira. Na faixa etária de 15 a 17 anos, apenas 47,7% mantêm adequada a relação idade/série e 1,9 milhão desses jovens abandonam a Escola em cada período letivo. Em 2011,o índice de reprovação atingiu 13,1%; o dobro do porcentual de 12 anos atrás. No Paraná, o contingente de reprovados cresceu de 11,5% para 12,6% de 2008 para 2011. É um quadro negro. Qualquer indústria estaria em estado falimentar com tão elevado porcentual de descarte. O colégio deve ser mais atraente, ou, de acordo com a pesquisa, o principal motivo de abandono e reprovação é que a “Escola é chata”. O conteúdo é por demais clássico, acadêmico – sem se importar com os diversos tipos de inteligência e potencialidades do aluno.
Em todo ranking comparativo com outros países, sempre pontuamos entre os últimos no quesito desempenho Escolar. Para reverter esse quadro, o primeiro passo – e único que não exige dispêndios financeiros – é reduzir o conteúdo da atual grade curricular do Ensino médio. Há poucas “quase unanimidades” entre os Educadores, e essa é uma delas. Amiúde, debatemos com os Professores das diversas disciplinas, e para a maioria há sobrecarga de conteúdos. Dessa rica convivência, ou fruto das visitas a outras Escolas do Brasil ou exterior, ou das nossas leituras, é com convicção que afirmamos: por decorrência dos vestibulares, o nosso Ensino médio necessita de uma assepsia, cujos vermes são os excessos da grade curricular.
É a hora e a vez de um bom discernimento para enxugar o programa do Ensino médio. Destarte, alargaremos os horizontes e estaremos dando um primeiro passo em direção aos países com boa estrutura educacional. Que não pairem dúvidas, porém, quanto à obrigação primeira da Escola: ministrar um bom Ensino curricular, preparando o Aluno para os concursos e a vida profissional. Reduzir o programa em 20% a 30% não implica em abaixamento no nível de aprendizagem, pois constituem penduricalhos desnecessários.
Uma vez implementada a redução e um melhor detalhamento dos conteúdos, há espaço e tempo para o início de um ciclo virtuoso: ofertar aos Alunos ensinamentos mais atraentes e edificantes. Exemplos? Oficinas (parte delas optativas) de Artes, Filosofia, Sociologia, empreendedorismo, leituras, Educação ambiental e financeira, informática, valores, cidadania etc. A atual geração dos jovens valoriza o lúdico, a multimídia, as práticas experimentais, a vivência dos fenômenos naturais e humanos, o diálogo entre as diversas disciplinas. Isto posto, estaremos mais próximos das palavras simples e plenamente inteligíveis do epistemologista suíço Jean Piaget: “Só se aprende o que tem sentido, o que é prazeroso”. Seria cômico se não fosse trágico: o nosso antigo segundo grau não é “médio”, é ruim. Com as exceções reconhecidas pelas famílias.
(Jacir J. Venturi, vice-presidente do Sinepe/PR, foi diretor de Escola e pro­fessor do Ensino fundamental e mé­­dio, de pré-vestibulares, da UFPR e PUCPR)
Fonte: Gazeta do Povo (PR)

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