Ano a ano, estamos enxugando gelo.
Mais e mais gelo, quando nos reportamos ao Ensino médio, que ostenta a taça de
chumbo no espectro das mazelas da Educação brasileira. Na faixa etária de 15 a
17 anos, apenas 47,7% mantêm adequada a relação idade/série e 1,9 milhão desses
jovens abandonam a Escola em cada período letivo. Em 2011,o índice de
reprovação atingiu 13,1%; o dobro do porcentual de 12 anos atrás. No Paraná, o
contingente de reprovados cresceu de 11,5% para 12,6% de 2008 para 2011. É um
quadro negro. Qualquer indústria estaria em estado falimentar com tão elevado
porcentual de descarte. O colégio deve ser mais atraente, ou, de acordo com a
pesquisa, o principal motivo de abandono e reprovação é que a “Escola é chata”.
O conteúdo é por demais clássico, acadêmico – sem se importar com os diversos
tipos de inteligência e potencialidades do aluno.
Em todo ranking comparativo com
outros países, sempre pontuamos entre os últimos no quesito desempenho Escolar.
Para reverter esse quadro, o primeiro passo – e único que não exige dispêndios
financeiros – é reduzir o conteúdo da atual grade curricular do Ensino médio.
Há poucas “quase unanimidades” entre os Educadores, e essa é uma delas. Amiúde,
debatemos com os Professores das diversas disciplinas, e para a maioria há
sobrecarga de conteúdos. Dessa rica convivência, ou fruto das visitas a outras
Escolas do Brasil ou exterior, ou das nossas leituras, é com convicção que
afirmamos: por decorrência dos vestibulares, o nosso Ensino médio necessita de
uma assepsia, cujos vermes são os excessos da grade curricular.
É a hora e a vez de um bom
discernimento para enxugar o programa do Ensino médio. Destarte, alargaremos os
horizontes e estaremos dando um primeiro passo em direção aos países com boa
estrutura educacional. Que não pairem dúvidas, porém, quanto à obrigação
primeira da Escola: ministrar um bom Ensino curricular, preparando o Aluno para
os concursos e a vida profissional. Reduzir o programa em 20% a 30% não implica
em abaixamento no nível de aprendizagem, pois constituem penduricalhos
desnecessários.
Uma vez implementada a redução e um
melhor detalhamento dos conteúdos, há espaço e tempo para o início de um ciclo
virtuoso: ofertar aos Alunos ensinamentos mais atraentes e edificantes.
Exemplos? Oficinas (parte delas optativas) de Artes, Filosofia, Sociologia,
empreendedorismo, leituras, Educação ambiental e financeira, informática,
valores, cidadania etc. A atual geração dos jovens valoriza o lúdico, a
multimídia, as práticas experimentais, a vivência dos fenômenos naturais e
humanos, o diálogo entre as diversas disciplinas. Isto posto, estaremos mais
próximos das palavras simples e plenamente inteligíveis do epistemologista
suíço Jean Piaget: “Só se aprende o que tem sentido, o que é prazeroso”. Seria
cômico se não fosse trágico: o nosso antigo segundo grau não é “médio”, é ruim.
Com as exceções reconhecidas pelas famílias.
(Jacir J. Venturi, vice-presidente do
Sinepe/PR, foi diretor de Escola e professor do Ensino fundamental e médio,
de pré-vestibulares, da UFPR e PUCPR)
Fonte: Gazeta do Povo (PR)
Nenhum comentário:
Postar um comentário