sábado, 9 de junho de 2012

Mostrando a Língua - 49

Hoje temos duas 'consultas' pequenas, mas valiosíssimas. Apresento pela ordem de recebimento: a da diqueira Mônica Souto ( IFFluminense) e a do diqueiro Mau-Mau ( Maurício Monteiro- Ucam).

1- Olá Edinalda,
É correto usar em redação acadêmica o termo enquanto, para designar uma opinião como membro de um grupo, por exemplo:
"Enquanto aluna da licenciatura, observei que os alunos possuem..."
Bj,
Mônica Souto

2- Prezadíssima Edinalda,
Saudades, muitas saudades!
Acabei de ler um livrinho com o meu filho, Pitixa, Minha Vira-Lata, De Walcyr Carrasco. No final ele fala sobre as diferenças sociais. Num determinada parágrafo ele diz: "...Quando chega em casa, ela me abraça com as patinhas!...".
Sempre escutei que o correto é "quando chego a casa" e não "quando chego em casa". Quem chega, chega a algum lugar e não em algum lugar.
É isso mesmo?
Bjs,
Mau-mau.

Analisando a consulta de Mônica, é possível alinhavar, gramaticalmente, dois sentidos e, portanto, dois usos para o enquanto. Observem:
A) com o sentido de tempo:
    -'que seja eterno enquanto dure...'
    -'enquanto houver sol...'

B) com o sentido de conformidade (como, na qualidade de)
     - ' enquanto aluna, pesquisou o tema.'
    - ' decidiu que enquanto professor, apoiaria a paralisação.'
Então, gente, está certo o uso que nossa diqueira usa para exemplificar. Mas ela tem razão em estranhar e isso se deve ao fato de a expressão estar sendo utilizada à exaustão. Nesse sentido, dentro de pouco tempo, podemos 'profetizar', a academia começará a esboçar reação de recusa. Mônica, antenadíssima, certamente já identificou o desgaste do termo e se antecipou. Nas minhas orientações, já chamo a atenção dos orientandos para evitar o emprego. 

2- A consulta deste pai zeloso (Mau-Mau) que, sei, abre mão de uma garrafa de vinho (ele já me contou isso!) Em favor de um livro para o filho, procede também e, infelizmente, a redação está errada. O correto seria acompanhar seu raciocínio, Maurício: quem chega, chega a.
Então, a oração deveria ser: " quando chega a casa, ela me abraça com as patinhas!...".
Mas, vejam isto: temos, no Brasil, uma concessão para poetas, escritores, compositores que é a 'licença poética'. Amparados pela permissão (às vezes, permissividade) os que escrevem podem extrapolar o uso culto da língua, sem ônus ou remorsos.
Mas, acho que vcs concordam comigo no seguinte: em se tratando de literatura infantil, todo cuidado é pouco em razão da formação linguística da criança e sua natural competência para absorver tudo, inclusive erros. Um pouco mais de responsabilidade seria salutar e recomendável.
É isso, gente.
Até quarta, abçs da
Edinalda

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