quinta-feira, 28 de junho de 2012

Educação e afeto

Não há binômio humanístico que encerra maior afeição do que o título deste artigo. Tanto a Educação quanto o afeto são expressões que agregam sentidos inerentes à coisa mais essencial da existência: o amor. A Educação é um processo executado em função do amor, uma vez que tem como meta e efeito o resgate das sombras, ou seja, da ignorância. Um Educador é um redentor, no sentido de mudar a frequência existencial de um semelhante, para melhor. Ele promove, em determinado grau, um salto quântico de uma pessoa em termos de compreensão e interação com o mundo. Por sua vez, o afeto é a mais genuína expressão do amor, uma vez que é algo concreto, que, em si mesmo, significa amor. Uma atitude de afeto, aparentemente banal, de uma pessoa para outra, pode também ser um resgate, mas num plano distinto da Educação; distinto, sim, mas complementar.
Minhas melhores recordações da época de Escolarização são aquelas em que tive o privilégio de ter algum mestre afetuoso. As Professoras das primeiras séries cujos nomes eu guardo com sobrenome e tudo foram as mais dedicadas e carinhosas. Mas a família assumiu um novo perfil, decorrente das inúmeras transições e reavaliações dos conceitos e valores; os meios de produção, antes atribuições exclusivamente masculinas, passaram a contar com as mulheres, e a maioria delas, ainda assim, não deixou de ser mãe e dona de casa, passando a se desdobrar no cotidiano para cumprir essas atribuições diversas. Muita água suja foi, na verdade, jogada fora, mas com ela também muita água limpa.
O fato é que algumas lacunas não mudaram na vida de muitos; o afeto mesmo é a lição que sabemos de cor, só nos falta aprender. A expressão da afeição, para muitos ainda é difícil, truncada; há uma certa antipatia remanescente de se mostrar carinhoso. Acredito que a interação entre os personagens de sala de aula é inevitável e deve ser trabalhada no sentido da aprendizagem integral, com o desenvolvimento da afetividade, condição imprescindível para que se consolidem efetivamente as aprendizagens em geral. Obviamente há uma hierarquia entre esses personagens, na relação de sala de aula, o que é próprio de toda relação. Essa hierarquia é determinada pelo sentido do fluxo de aprendizagem de um personagem para o outro, numa relação de ajuda, mas todos se respeitam. Um Professor que, no trato com seus Alunos, é afetivo e respeitoso, já sai na frente, pois cria um ambiente de estudo sem condições estressantes e ainda dá testemunho vivo de uma relação que valoriza o outro.
Mas infelizmente ninguém está afetuoso hoje ou estará amanhã – o verbo é ser. Um Professor é afetuoso ou não, o que não significa que a afetividade é exclusivamente inata. Pode-se trabalhar esse aspecto, pois no fundo todos têm essa semente, bastando fazê-la brotar, para o bem do outro. Mesmo estando sucateada dentro da pós-modernidade, a Escola ainda é o núcleo da formação e discussão de ideias, formadora responsável de opiniões e agregadora de competências necessárias para a construção do conhecimento e da pessoa. A genuína afetividade é o humanismo por essência.
Fonte: Estado de Minas (MG)

Nenhum comentário:

Postar um comentário