O Paraná avançou na oferta de uma
carga horária maior aos alunos da rede estadual de ensino em 2011 com a
ampliação do contraturno, que hoje já é encontrado em mais de 1,8 mil dos 2,2
mil colégios públicos do estado. Mas o investimento nas atividades
extracurriculares, em muitos casos em parceria com o governo federal e
instituições privadas, ainda não foi acompanhado de uma expansão no número de
escolas de ensino integral – que têm pelo menos sete horas diárias de
atividades para todos os alunos. A meta do governo estadual é chegar a 500
unidades desse tipo em 2014.
Até o ano passado, o Paraná tinha
1,7% dos alunos da rede estadual em escolas integrais. A parcela é bastante
baixa se comparada à meta que está em discussão no Plano Nacional de Educação
(PNE), que prevê o atendimento de 25% dos estudantes em regime integral.
Conforme o Censo da Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), 18,8 mil
estudantes ficavam o dia todo na escola na rede estadual do Paraná no ano
passado, dentro de um universo de 1,09 milhão de matrículas. Em 2010, embora a
quantidade de alunos em ensino integral tenha sido maior, o número de
matrículas também foi superior: 21,2 mil alunos em período integral para um
total de 1,12 milhão.
Em nota, a
Secretaria de Estado da Educação (Seed) disse que o ensino integral favorece a
aprendizagem dos alunos, mas que a ampliação da jornada exige aumento de
investimentos públicos, pois “requer maior número de professores e organização
para o atendimento dos alunos”. A secretaria também informou que prepara um
levantamento dos resultados do contraturno escolar oferecido em 2011 para
nortear as atividades deste ano.
Critérios
As escolas brasileiras trabalham em
média com uma carga horária diária de quatro horas. O Ministério da Educação
(MEC) considera como ensino integral uma jornada ampliada para sete horas. A
oferta na rede pública, no entanto, deve seguir critérios. A doutora na área de
educação integral e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Yvelise
Arco Verde lembra que as atividades oferecidas aos alunos precisam estar
integradas ao projeto de formação educacional da escola. “É preciso também
rever espaço, tempos e a infraestrutura da escola”, acrescenta ela, que foi
secretária de Educação no governo Requião.
O casamento das atividades dos dois
períodos também é fundamental na opinião do professor da Faculdade de Educação
da Universidade de Brasília (UnB) Cleyton Hercules Gontijo. “Muitas vezes,
parece que há duas escolas diferentes funcionando no mesmo prédio e é isso que
não pode acontecer. A recreação, por exemplo, não pode ser vista de forma
complementar, precisa estar direcionada com o conteúdo das disciplinas”,
explica.
O
professor Paulo Bareicha, também integrante da Faculdade de Educação da UnB e
especialista no tema, afirma que há significados diferentes para o conceito de
ensino integral, desde a atividade em contraturno até o conceito de
cidades-educadoras, nas quais os estudantes podem encontrar em visitas a museus
e parques conteúdos normalmente aprendidos em salas de aula.
Oferta cresce, mas está longe do
ideal
No ano passado, 1,6 milhão de
estudantes do ensino fundamental (1.º ao 9.º anos) no Brasil tiveram aulas em
tempo integral. O número é 72% superior ao registrado em 2009 e 35% maior que o
verificado no ano de 2010. No entanto, o crescimento ainda é tímido. O ideal,
que está em discussão no Plano Nacional de Educação (PNE), é que 25% dos alunos
do ensino fundamental tenham educação integral. Em 2011, os 1,6 milhão
representaram apenas 6% das 25,8 milhões de matrículas.
Essa taxa
já foi menor. Em 2009, somente 3,5% dos estudantes do ensino fundamental
ficavam na escola em dois períodos. Já em 2010, esse porcentual subiu para
4,5%. O avanço, embora lento, se deve ao programa Mais Educação, do governo
federal, que repassa recursos às escolas que aderirem à ampliação da jornada
escolar.
Plano
Na semana que vem, o PNE deve ir à
votação na Câmara Federal. O plano contempla a política pública educacional
brasileira até 2020. Conforme o relator do projeto, o deputado federal Angelo
Vanhoni (PT-PR), a proposta que prevê colocar 25% dos alunos do ensino
fundamental no período integral vai implicar em um aumento drástico de custos,
principalmente porque a ideia é que a permanência dos estudantes nas escolas seja
acompanhada de professores e não monitores.
Segundo o deputado, hoje um aluno do
ensino fundamental da jornada integral custa em média R$ 370 por ano ao governo
federal. Se a ampliação prevista no PNE for aprovada, o custo passará a ser de
R$ 2,3 mil por aluno. “Com essa mudança, a intenção é colocarmos 11 milhões de
crianças em período integral”, diz.
“É uma política boa, mas que na
verdade é um ônus adicional”, opina o presidente da União Nacional dos
Dirigentes Municipais de Educação (Undime) em Santa Catarina, Rodolfo Joaquim
Pinto da Luz. Segundo ele, para que a medida funcione é preciso aplicar 10% do
Produto Interno Bruto (PIB) na educação – índice defendido pela maioria dos
educadores e entidades representativas do setor. Hoje, apenas 5% do PIB são
investidos em educação. Para Vanhoni, que previu uma destinação de 7,5% do PIB
no setor educacional no projeto do PNE que começará a ser apreciado pelo
plenário, a ampliação da oferta do ensino integral já será suficiente. Esse
índice também é defendido pelo MEC.
Gazeta do Povo (PR)
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