Os estudantes negros da rede pública
estadual têm apresentado desempenho inferior aos Alunos brancos no Programa de
Avaliação da Educação Básica (Paebes). É o que mostra um estudo realizado por
um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas
Gerais, com base nos dados do Paebes de 2009 e 2010. Em algumas séries e
disciplinas avaliadas, a diferença chega a 27 pontos.
O estudo foi coordenado pelo Centro
de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (Caed) da universidade, que é
responsável pela elaboração das provas do Paebes. Uma das autoras da pesquisa,
a doutoranda em sociologia Juliana Frizzoni Candian, explica que os estudantes
negros apresentam desempenho menor mesmo quando comparados com outros Alunos de
iguais condições socioeconômicas.
“Por muito
tempo, pensava-se que as diferenças de desempenho eram reflexos apenas das
desigualdades sociais, mas há também uma desigualdade racial. Longe de dar a
entender que os negros têm dificuldades cognitivas, queremos mostrar que eles
enfrentam condições desfavoráveis de aprendizado”, diz.
A maior diferença registrada foi na
disciplina de Matemática do 5º ano do Ensino fundamental. Em 2009, os
estudantes pretos tiraram até 27 pontos a menos na prova que os brancos, e 19
pontos a menos que os pardos, nas mesmas faixas de condições sócio-econômicas.
Em 2010, a pesquisa uniu as notas de
Alunos pretos e pardos e constatou que a maior diferença também ocorreu em
Matemática, mas no 9º ano: os Alunos brancos fizeram até 22 pontos a mais que
os não brancos.
A pesquisa também constatou que as
diferenças aumentam à medida em que melhoram as condições socioeconômicas dos
Alunos. Os estudantes negros cujos pais têm maior Escolaridade e que possuem
mais bens materiais – itens usados para medir as condições dos Alunos – chegam
a ter desempenho igual ao de estudantes brancos com a pior condição
sócio-econômica da tabela.
Segundo a pesquisadora, isso mostra
que a variação de desempenho é sempre menor entre os negros, mesmo quando as
condições sócio-econômicas de ambos é melhor.
A pesquisa
não analisou os motivos que levam a essa diferença, mas levanta uma hipótese.
“É possível que as desigualdades raciais sejam reproduzidas pelos Professores
na sala de aula, desfavorecendo, de alguma forma, os Alunos não brancos. É algo
que precisa ser estudado com mais profundidade, em uma outra pesquisa”, diz.
A falta de oportunidades e o
preconceito da sociedade acaba se reproduzindo no ambiente Escolar. Por isso,
segundo a subsecretária de Educação da Secretaria Estadual de Educação (Sedu),
Adriana Sperandio, as Escolas têm assumido cada vez mais o desafio de promover
a valorização da população afrodescendente.
“Nós temos conhecimento dessa
diferença de desempenho apontada na pesquisa, mas não podemos separar os Alunos
do restante da turma para que eles aprendam mais. Todos eles têm condições
iguais de aprendizado. O que falta é superarmos o preconceito, na Escola e na
sociedade.”
Recentemente,
cerca de 100 Professores passaram por um curso de especialização em Educação
Étnico-Racial, da Universidade Federal do Espírito Santo. “Por lei, esses
conteúdos devem ser trabalhados em sala de aula. A presença do debate nas
Escolas é o que pode transformar a realidade.”
“Exclusão se reproduz” - Gilda
Cardoso, especialista em Educação
“Desde a década de 1970, pesquisas
apontam que a Escola produz e reproduz os processos de exclusão da sociedade,
mesmo sem intenção. Isso acontece com a questão racial e com outros tipos de
exclusão, como a social e a de gênero. Não há um problema relacionado ao
preconceito, diretamente. Mas se o Aluno já chega defasado e encontra um
Professor que não está preparado para recuperá-lo a tendência é que esse
Professor se empenhe mais em valorizar o aprendizado dos outros Alunos. E o
processo de exclusão se reafirma e se reproduz. Pensar em cotas raciais pode
ser interessante para remediar essa situação. Mas é preciso promover políticas
públicas que deem oportunidades iguais para todos.”
Fonte: A Gazeta (ES)
Nenhum comentário:
Postar um comentário