terça-feira, 12 de junho de 2012

Negros vão pior na escola

Os estudantes negros da rede pública estadual têm apresentado desempenho inferior aos Alunos brancos no Programa de Avaliação da Educação Básica (Paebes). É o que mostra um estudo realizado por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais, com base nos dados do Paebes de 2009 e 2010. Em algumas séries e disciplinas avaliadas, a diferença chega a 27 pontos.
O estudo foi coordenado pelo Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação (Caed) da universidade, que é responsável pela elaboração das provas do Paebes. Uma das autoras da pesquisa, a doutoranda em sociologia Juliana Frizzoni Candian, explica que os estudantes negros apresentam desempenho menor mesmo quando comparados com outros Alunos de iguais condições socioeconômicas.
“Por muito tempo, pensava-se que as diferenças de desempenho eram reflexos apenas das desigualdades sociais, mas há também uma desigualdade racial. Longe de dar a entender que os negros têm dificuldades cognitivas, queremos mostrar que eles enfrentam condições desfavoráveis de aprendizado”, diz.

Matemática
A maior diferença registrada foi na disciplina de Matemática do 5º ano do Ensino fundamental. Em 2009, os estudantes pretos tiraram até 27 pontos a menos na prova que os brancos, e 19 pontos a menos que os pardos, nas mesmas faixas de condições sócio-econômicas.
Em 2010, a pesquisa uniu as notas de Alunos pretos e pardos e constatou que a maior diferença também ocorreu em Matemática, mas no 9º ano: os Alunos brancos fizeram até 22 pontos a mais que os não brancos.
A pesquisa também constatou que as diferenças aumentam à medida em que melhoram as condições socioeconômicas dos Alunos. Os estudantes negros cujos pais têm maior Escolaridade e que possuem mais bens materiais – itens usados para medir as condições dos Alunos – chegam a ter desempenho igual ao de estudantes brancos com a pior condição sócio-econômica da tabela.
Segundo a pesquisadora, isso mostra que a variação de desempenho é sempre menor entre os negros, mesmo quando as condições sócio-econômicas de ambos é melhor.
A pesquisa não analisou os motivos que levam a essa diferença, mas levanta uma hipótese. “É possível que as desigualdades raciais sejam reproduzidas pelos Professores na sala de aula, desfavorecendo, de alguma forma, os Alunos não brancos. É algo que precisa ser estudado com mais profundidade, em uma outra pesquisa”, diz.

Superar o preconceito é desafio dentro da Escola
A falta de oportunidades e o preconceito da sociedade acaba se reproduzindo no ambiente Escolar. Por isso, segundo a subsecretária de Educação da Secretaria Estadual de Educação (Sedu), Adriana Sperandio, as Escolas têm assumido cada vez mais o desafio de promover a valorização da população afrodescendente.
“Nós temos conhecimento dessa diferença de desempenho apontada na pesquisa, mas não podemos separar os Alunos do restante da turma para que eles aprendam mais. Todos eles têm condições iguais de aprendizado. O que falta é superarmos o preconceito, na Escola e na sociedade.”
Recentemente, cerca de 100 Professores passaram por um curso de especialização em Educação Étnico-Racial, da Universidade Federal do Espírito Santo. “Por lei, esses conteúdos devem ser trabalhados em sala de aula. A presença do debate nas Escolas é o que pode transformar a realidade.”

A palavra do especialista
“Exclusão se reproduz” - Gilda Cardoso, especialista em Educação
“Desde a década de 1970, pesquisas apontam que a Escola produz e reproduz os processos de exclusão da sociedade, mesmo sem intenção. Isso acontece com a questão racial e com outros tipos de exclusão, como a social e a de gênero. Não há um problema relacionado ao preconceito, diretamente. Mas se o Aluno já chega defasado e encontra um Professor que não está preparado para recuperá-lo a tendência é que esse Professor se empenhe mais em valorizar o aprendizado dos outros Alunos. E o processo de exclusão se reafirma e se reproduz. Pensar em cotas raciais pode ser interessante para remediar essa situação. Mas é preciso promover políticas públicas que deem oportunidades iguais para todos.”
Fonte: A Gazeta (ES)

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