Problemas de gestão, falta de
planejamento e desentendimentos sobre as regras de investimentos educacionais
colocaram 54 municípios brasileiros numa incômoda "lista vermelha".
Eles não cumpriram regra constitucional que obriga prefeituras a aplicar 25% de
suas receitas em manutenção e desenvolvimento de ensino, de acordo com
levantamento mais recente do Ministério da Educação (MEC), baseado no exercício
de 2010.
Embora o número possa ser residual, considerando
que o país tem mais de 5,5 mil cidades, o que deixa de ser investido em
educação é “preocupante”, na opinião de Paulo Cesar Malheiro, coordenador do
Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Educação (Siope). A maioria
das cidades é pobre e localizada no interior do país, com exceção de Diadema,
no ABC Paulista, e Goiânia, a única capital listada pelo Siope. “Há cidades
investindo 17%, 20%. Em certos casos, isso pode representar R$ 100 mil, R$ 200
mil a menos para o orçamento da educação, o que é muito dinheiro para
determinadas cidades”.
Segundo ele, a principal explicação
para o problema é a divergência de interpretação das regras do financiamento
entre prefeituras, tribunais de contas e o governo federal. Na hora de prestar
contas, a maior parte dos municípios da lista vermelha, conta Malheiro, inclui
despesas com aposentadoria e pensão como gasto efetivo com educação. “E muitas
vezes essas contas são aprovadas pelos tribunais, mas são rejeitadas quando
chegam no Siope. Aí a cidade é desaprovada na Lei de Responsabilidade Fiscal”,
explica o gestor.
Quando uma conta não passa pelo crivo
da LRF, o município deixa de receber transferências voluntárias do governo
federal para todas as áreas, não só educação. Também há discussão sobre recursos
federais que entram nos caixas municipais. “Muitas cidades que recebem dinheiro
de programas de transporte, alimentação escolar e construção de creches
registram essa verba como gasto próprio, mas o sistema lança o valor como gasto
que faz parte dos 18% das receitas que cabem a União investir em ensino. É
claramente problema de gestão e planejamento. Se isso fosse melhor não
faltariam recursos”, complementa Malheiro.
Tibau e Taipu, no Rio Grande do
Norte, aplicam menos de 25% das receitas em ensino, mas tiveram suas contas
aprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado. “É preciso analisar caso a caso,
mas questões de interpretação são normais no universo jurídico”, argumenta
Carlos Thompson Costa Fernandes, do TCE do Rio Grande do Norte.
A Secretaria Municipal de Educação de
Diadema, que aplicou 24,8% em educação em 2010, diz em nota que a apuração do
Siope para suas contas é inconsistente e entrou na Justiça contra o órgão
federal. “Por não conseguir resolver os problemas administrativamente, a
Prefeitura de Diadema foi obrigada a promover Ação Judicial no sentido de
salvaguardar seus direitos e, principalmente, continuar a receber as
transferências voluntárias.” O município defende que investiu 25,09% e teve
julgamento favorável. “O FNDE não pode impedir que o Município receba verbas de
transferências voluntárias.”
Fonte: Valor Online
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