terça-feira, 5 de junho de 2012

Diferenças de aprendizagem prolongam "apartheid social", diz especialista

As diferenças de aprendizagem que persistem entre regiões e classes sociais do país normalmente afetam as crianças de famílias mais pobres e prolongam um quadro de apartheid social. A avaliação foi feita na quarta-feira, no Senado, pela diretora executiva do Movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz. Ela participou de audiência pública promovida pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) para debater as dificuldades que o país enfrenta no cumprimento de metas educacionais.
— Temos um grande desafio, que é oferecer educação de qualidade para todos. No entanto, a qualidade não existe sem equidade — disse.
Priscila Cruz apresentou um panorama estatístico da situação do ensino no país, avaliando o cumprimento de cinco grandes metas. As maiores disparidades foram verificadas no nível de conhecimento atingido pelos ­estudantes.
No Sudeste, por exemplo, 65,6% dos alunos atingiram o esperado em relação à escrita, 64,6% corresponderam à meta em leitura e 55,7% tiveram o desempenho pretendido em matemática. No Nordeste, esses índices não passaram de 30,3% em escrita, 42,5% em leitura e 28,3% em matemática.
Quanto à universalização do ensino, ela destacou que a taxa de atendimento escolar da população de 4 a 17 anos avançou de 83,8% para 91,5% em dez anos, até 2010. No entanto, segundo a diretora do Todos pela Educação, os dados gerais e médios escondem grandes desigualdades regionais e por segmento de renda. No Norte, por exemplo, a taxa de atendimento ainda está em 87,8%.

Piso do Professor
Na avaliação do secretário de Educação Básica do Ministério da Educação, Antonio Cesar Callegari, o país tem condições de enfrentar o desafio da qualificação do ensino. Ele disse que a destinação de mais recursos não é a única questão em pauta, mas defendeu o aumento de verbas para o setor.
Callegari destacou a sugestão do governo de aumentar os investimentos, dos atuais 5% para 7%, no âmbito do Plano Nacional de Educação, em exame no Congresso. E apontou como uma das prioridades a formação inicial e continuada dos professores. A despeito das reações de prefeitos e governadores, o secretário defendeu um aumento ainda mais firme no valor do piso salarial do professor.
No entanto, Cyro Miranda (PSDB-GO) e Ana Amélia (PP-RS), que solicitou a audiência, mencionaram as dificuldades dos estados e prefeituras para pagar o piso.
— Que essa obrigação legal não gere impasse que leve a uma intervenção em estados e municípios que deixem de cumprir o piso — disse Ana Amélia, cobrando maior participação do governo federal, o “primo rico” que fica com a maior parte dos impostos.
Com relação ao financiamento da educação, Inácio Arruda (PCdoB-CE) destacou os esforços de parlamentares que estão tentando garantir para a área a destinação de 50% dos futuros recursos do fundo a ser formado pelo petróleo da camada pré-sal. 

Bolsas Privadas
O professor Fernando Schüler sugeriu no debate que sejam ofertadas bolsas a estudantes, também em escolas privadas do ensino fundamental e médio, custeadas com incentivos fiscais. Para ele, essa seria a saída para a oferta de ensino de qualidade, em curto tempo e com menores custos. O professor apontou como um bom exemplo o Programa Universidade para Todos (Prouni), que concede bolsas de estudos em universidades privadas para estudantes de baixa renda oriundos da rede pública.
No entanto, Cesar Callegari, do Ministério da Educação, criticou a proposta. De acordo com ele, o que o professor sugere vem sendo chamado de “sistema de voucher”, em que recursos públicos são canalizados para criar vagas no sistema privado. Na prática, Callegari disse que esse sistema vem sendo muito mal avaliado, não representando solução para o problema do financiamento da educação nos países onde foi adotado.
Paulo Bauer (PSDB-SC) coordenou o debate na CE, que é presidida por Roberto Requião (PMDB-PR).

Projetos aprovados
Na terça-feira, a CE também deu parecer favorável ao PLC 36/12, que autoriza o Ministério da Educação a criar 77 mil cargos e funções, a serem preenchidos até 2014. Desse total, 43.875 vagas são destinadas a professores. O projeto ainda será examinado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), antes de passar pelo Plenário.
Já a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) aprovou, na quinta, uma sugestão apresentada e discutida no Projeto Jovem Senador, que procura aproximar o Senado das escolas brasileiras. Ana Rita (PT-ES) recomendou a aprovação da proposta que inclui os programas de avaliação seriada, realizados a cada ano no ensino médio, entre os mecanismos de acesso às instituições federais de ensino superior.
A sugestão partiu da estudante Jéssica Perez e será formatada em projeto de lei para tramitar no Senado e na Câmara dos Deputados.
Fonte: Jornal do Senado (DF)

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