Mais uma vez, vemos professores e professoras realizando uma paralisação, estadual e nacional, na luta por um piso salarial e fico a me perguntar: Quantos anos perdidos? Quantas gerações comprometidas por causa de um piso salarial que o magistério até hoje não conquistou de fato?
Recordo-me que em 1986 foi concedido, pelo então governador Jair Soares, um piso salarial de 2,5 salários mínimos, após 60 dias de greve do magistério com apoio dos pais e estudantes. Naquele mesmo ano, foi eleito o governador Pedro Simon.
Em 1987, eu, como presidente da entidade representativa dos pais, a ACPM-Federação, me reuni com o futuro governador Simon em sua casa de praia e posteriormente na sua residência em Porto Alegre, em janeiro e fevereiro, e entre tantas conversas sobre Educação lhe fiz um pedido: “Governador, não mexa no piso salarial conquistado pelo magistério, pois, se mexer, a Educação, a juventude e o seu governo serão prejudicados”.
Infelizmente, o governador Simon, ao assumir seu mandato, em março, não ouviu os pais e suspendeu o pagamento do piso. Todos os gaúchos que viveram naquela época sabem que passamos anos e anos com greves do magistério.
Passaram-se 25 anos de conflitos, a qualidade da Educação decaiu, os mestres desmotivados, gerações de estudantes comprometidas, e todos se perguntam: por quê?
Hoje, o governo federal instituiu um piso salarial proposto pelo então ministro da Educação Tarso Genro. O mesmo que, agora governador do Estado, não quer pagar o piso que propôs.
Que tristes paradoxos, um governador deu o piso, outro tirou, um governador (Antônio Britto) fez mudanças no plano de carreira (que dizem ser o entrave para dar o piso) e o outro governador (Olívio Dutra) desfez algumas mudanças, mas não deu o piso de 2,5 salários para o magistério. Agora, o atual governador não quer dar o piso que ele mesmo criou.
O mais paradoxal é que o piso de 2,5 salários de 25 anos atrás corresponde hoje a R$ 1.550, o piso que o governo federal criou é de R$ 1.451 e o governo estadual quer pagar cerca de R$ 1.260. Que triste conclusão: se tivesse sido mantido desde 1987 o piso salarial, não teríamos vivido 25 anos de conflitos, de consequente queda e prejuízos educacionais. São situações como essa que nos levam, entre outras causas, a ocupar os piores índices do IDH no mundo e os últimos lugares nos indicadores de Educação.
Entra governo, sai governo, independentemente de partidos políticos e ideologias, nada muda, todos os anos temos greves e mais greves em que alunos são prejudicados, a Educação é comprometida e o futuro da juventude vira uma interrogação. O piso tem que ser pago, chega de greves!
Será que vamos passar mais 25 anos em conflitos, sem reconstruir a Educação que o Estado, municípios e o país precisam e a sociedade clama?
Jocelim Azambuja, advogado e ex-presidente da ACPM-Federação, in: Zero Hora (RS)
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