Dia desses, estava num grupo de
pessoas falando sobre livros, leitura e leitores e em se falando disso, a
realidade indisfarçável não pode deixar de vir à tona: lê-se muito pouco no
Brasil. O brasileiro lê pouco. Aliás, até fora do Brasil o brasileiro lê pouco.
Nossa amiga batalhadora das letras, catarinense radicada na Suiça, Jacqueline
Aisenman, com o sucesso da sua revista literária eletrônica Varal do Brasil,
mais as antologias, que divulgam a lite-ratura brasileira pelo mundo afora,
resolveu abrir um livraria com títulos em português em Genebra. Uma livraria
com livros de autores brasileiros, primordialmente, para leitores brasileiros,
para a colônia brasileira que, como Jacqueline, vive na Suiça. Pois teve que
fechar depois de alguns meses, pois os brasileiros que vivem lá também não
compram livros.
Então há que se fazer a pergunta que
não quer calar: o que é preciso para incentivar o hábito da leitura, para fazer
com que o brasileiro leia mais, que se interesse mais pela literatura? O
consenso foi que o preço do livro, a falta de bibliotecas, o pequeno número de
livrarias existentes no Brasil não são, exatamente e exclusivamente, os
culpados disso. A Educação em nosso país é que é deficiente, não está fazendo o
seu papel como deveria.
A Educação brasileira está num
processo crescente de deteriorização: o sistema de Ensino sofreu mudanças, nos
últimos anos, que ao invés de melhorar o aprendizado do primeiro e segundo
graus, complicaram métodos que estava funcionando até então. A Alfabetização,
no primeiro grau, no sistema antigo, possibilitava que os Alunos aprendessem a
ler e escrever no primeiro ano. Hoje, com alterações equivocadas, existem
crianças no terceiro ano ? considerando-se que foi aumentado um ano do Ensino
fundamental, com a inclusão do pré ? e até no quarto que não conseguem dominar,
ainda, a leitura e a escrita. Os Professores são mal pagos, falta treinamento,
qualificação, as Escolas não são equipadas com o mínimo necessário, muitas
vezes, para os Professores trabalharem, faltam Escolas e das Escolas existentes
algumas estão caindo aos pedaços. Falamos da Escola pública, mas o rendimento
da Escola particular também não é dos melhores.
Constata-se, não é de hoje, que a
Educação, neste nosso Brasil, está caminhando para a falência, infelizmente. E
não está se fazendo muita coisa para mudar isso. Se a Escola não melhorar, se a
Educação não tiver mais qualidade, essa lacuna que é a falta de tempo, a
impossibilidade de incluir aulas de leitura e interpretação no conteúdo
programático, para incutir o gosto pela literatura em nossos leitores em
formação continuará.
E nossas crianças, nossos estudantes
crescerão sem estímulo para a leitura, crescerão sem gostar de ler e, além de
não comprar livros, entrarão na vida adulta e enfrentarão o mercado de trabalho
sem qualificação para conseguirem um bom emprego. E, consequentemente, não
terão uma boa renda, o que os impedirá de comprar bons livros.
É uma bola de neve: se os pequenos
leitores em potencial não aprenderem a gostar de ler, não terão muito gosto
pelo estudo, pois estudar significa ler, o que significa também que terão que
trabalhar mais e ganharão menos, tendo menos tempo e dinheiro para boas
leituras. E não saberão nem aproveitar oportunidades mais baratas, como as
bibliotecas e sebos que existem. E os filhos deles terão o mesmo destino, pois
em casa que não tem livro, crianças não poderá gostar de livros, pois não se
gosta de uma coisa que não se conhece. E a bola de neve continuará rolando.
Não é uma nova descoberta, mas a
verdade é que precisamos de mais atenção e mais dedicação do poder público pela
Educação, para que ela seja recuperada. Se não tivermos uma Educação decente,
nossas crianças não serão adultos que gostarão de ler e a maldição, aquela que
reza que brasileiro não lê, continuará a rondar nosso país. De maneira que a
solução para que se leia mais é, mais do que tudo, uma Educação de qualidade.
Precisamos cobrar isso de nossos governantes. Antes que seja tarde demais.
Existem Professores dedicados e abnegados, em nossas Escolas públicas, que
apesar das dificuldades e do pouco reconhecimento, são exemplos, ao mostrar
como fazer para que nossas crianças gostem de ler. Felizmente. Eles são a prova
de que se pode fazer uma Educação de qualidade. Mas precisam ser reconhecidos,
ou podemos vir a perdê-los, e o ciclo da derrocada da Educação completar-se-á.
Luiz Carlos Amorim, articulista, in: Diário
do Amapá (AP)
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