Entre as buzinas de carro e o vaivém de executivos em pleno centro financeiro do País, os transeuntes da Avenida Paulista, em São Paulo, também são chamados por frases matemáticas: "Qual a raiz cúbica de 54 mil?", "Você aí, sabe a raiz quadrada de quatro?", "Qual a probabilidade de erro nesta questão, pessoal?".
Equipado com uma lousa portátil, um pincel atômico, um microfone e uma caixa de som, o professor Márcio Antônio Barbosa ganha a vida ensinando matemática no centro da capital paulista. O objetivo, segundo ele, é contagiar as pessoas com dicas e macetes numéricos - apelidados por ele de método "MAB", sigla formada com as iniciais de seu nome.
Graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Barbosa nunca gostou da seriedade da sala de aula. O modelo "professor no quadro e aluno sentado" nunca foi um cenário agradável para ele, que sempre teve o desejo de tornar os números um objeto de prazer e curiosidade para os estudantes, e não um pesadelo.
Barbosa já deu aulas particulares, foi professor de cursinhos pré-vestibular e até deu aulas preparatórias para concurso público. Nada o agradou. Foi somente há cinco anos que o professor encontrou sua sala de aula ideal: a rua. A ideia era simples: gravar DVDs com aulas de matemática divertidas e vender no centro. Mas como chamar atenção para um produto que normalmente as pessoas não querem nem de graça? Dando aulas ao vivo, em plena Avenida Paulista.
"Eu gosto de abrir as portas para a matemática. Eu fico ali, resolvendo questões complicadas e atiçando a curiosidade das pessoas", conta. Em apenas um dia, Barbosa chega a atrair a atenção de centenas de "alunos".
De acordo com ele, as pessoas que mais param para assistir às suas aulas ao ar livre são estudantes com dúvidas de matemática. "Na maior parte das vezes, são jovens com dificuldades para a prova ou para fazer o dever de casa. Eu sempre ajudo e esclareço a questão na hora", afirma.
Resolvendo equações e logaritmos em plena calçada, o único incômodo para Barbosa é o sol escaldante, mas o esforço é recompensado. Trabalhando diariamente, das 10h às 17h, Barbosa vende cerca de 60 DVDs por dia, o que resulta em uma média de 300 produtos por semana, a R$ 30 cada.
No total, são seis títulos: Introdução ao Cálculo Integral, Matemática para Vestibular e Concursos, Matemática Básica, Matemática Financeira, Matemática para Crianças e Raciocínio Lógico. "A renda é boa, mas o que me motiva mesmo é o contato com as pessoas", diz.
O professor destaca um caso que lhe aconteceu há alguns anos que, de acordo com ele, retrata as surpresas que só a rua garante. Barbosa escreveu uma questão de logaritmo no quadro e saiu para tomar um café no bar da esquina. Ao voltar, o problema estava resolvido, e a resposta estava certa.
"Tinha um gari limpando a rua na hora e eu perguntei se ele tinha visto quem foi a pessoa que resolveu. Ele respondeu que foi ele mesmo e ainda me pediu desculpas pela intromissão. Isso me deixou muito feliz. Ver um trabalhador como ele tão interessado em matemática a ponto de não se segurar e ir resolver a equação alheia", lembra.
O trabalho de matemático ambulante deu tão certo que hoje Barbosa se divide entre o centro de São Paulo, o centro do Rio de Janeiro e o centro de Brasília. E em fases como esta, época de vestibular, o professor ainda roda os três Estados montando a sua lousa portátil na frente de grandes universidades. "Eu fico tirando as dúvidas finais dos candidatos antes das provas", conta orgulhoso.
Fonte: Terra
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