segunda-feira, 22 de abril de 2013

A Matemática vai mal!


 “Não gosto. Isso é muito difícil!”, afirma Thaylla Emília de Oliveira Fe­rreira, aluna do 9° ano do Colégio Estadual Cultura e Coope­rativismo, em Goiânia, justificando seu desinteresse pela Matemática. A estudante, que acabara de ser expulsa da aula, sabe que vai precisar da disciplina futuramente, mas, por agora, não se preocupa com isso.
Ela é só uma entre os milhares de estudantes brasileiros que não gostam e que apresentam dificuldades no aprendizado da matéria, considerada uma vilã por uma grande maioria de alunos.
Um relatório elaborado pelo Movi­mento Todos pela Educação comparou o rendimento dos alunos do 5° ano do Ensino Fundamental ao das turmas do 3° ano do Ensino Médio. E os resultados foram claros: as escolas brasileiras não estão conseguindo ensinar Matemática.
De acordo com o estudo, quase 90% dos estudantes brasileiros que concluem o Ensino Médio saem da escola sem saber noções básicas da disciplina como operações de álgebra, leitura de gráficos, mapas e tabelas, probabilidade e porcentagem, entre outros.
Mas o prejuízo dos alunos não é apenas acadêmico. “A Matemática te dá ferramentas de pensamento lógico, racional, de análise crítica e recursos para enfrentar problemas e buscar novas soluções. O que preocupa não é que os alunos não tenham o conhecimento da disciplina, mas que eles não tenham nada desse pensamento matemático associado a ela, que é o que nos capacita para fazer muita coisa socialmente”, defende a coordenadora do grupo Mathema de formação e pesquisa, Kátia Stocco Smole.
Embora o Ensino Médio tenha apresentado o pior resultado, as dificuldades começam no Fundamental, garante Alejandra Meraz Velasco, gerente da área técnica do Todos pela Educação.
Para ela, o problema da aprendizagem em Matemática perpassa toda a Educação Básica e está centrado na carência de professores especialistas e na formação desses docentes.

Cadê o professor?
Como a Matemática assusta os alunos desde o Ensino Fundamental, é na outra ponta, na universidade, que o prejuízo se revela. A procura pelo curso é pequena e dos que entram, poucos conseguem se formar como professor, pois a evasão é grande e muitos preferem seguir o bacharelado em outras áreas, como na Engenharia e Informática.
“Não é nem pelo salário, mas pelas condições de trabalho. São salas cheias e aluno agredindo o professor. O profissional se sente ameaçado”, argumenta o diretor do Departamento de Mate­mática, Física, Química e Enge­nharia de Alimentos da PUC-GO, Antônio Newton Borges.
O resultado mais gritante dessa realidade é a deficiência de profissionais nas escolas. “Temos falta de docentes licenciados em Matemática e aí a secretaria depende, muitas vezes, de um contrato temporário de um professor sem formação completa e que ainda está na graduação,” reconhece a gerente de apoio do Ensino Fundamental da Secretaria Estadual de Educação de Goiás (Seduc), Viviane Pereira da Silva Melo.
No interior do estado a situação é pior, admite o superintendente do Ensino Médio da Seduc, Fernando Pereira dos Santos. “Se tem um contador na cidade disposto a dar aula de Matemática, nós contratamos. Às vezes, contratamos um professor para dar aula de Química, Física e Matemática tudo junto, porque não tem docente especializado.”
Contudo, segundo Viviane, a secretaria já detectou esses problemas e está implantando dois projetos que visam o reforço na disciplina e na correção de fluxo, mas a solução para o problema ainda não foi encontrado.
 
Formação conservadora
Se entrar na licenciatura já é difícil, permanecer nela é tarefa para poucos. A falta de valorização profissional faz com que alunos de nível mais baixo procurem a licenciatura, o que cria dificuldades durante o curso e também interfere no desempenho dos futuros docentes, explica José Pedro Machado, professor de Didáticas em Matemática na UFG.
Para evitar a evasão, a universidade criou uma disciplina para interligar os conhecimentos adquiridos no Ensino Médio ao Superior. Ainda assim, ele vê falhas na formação oferecida. “O professor está saindo para o mercado sem levar em consideração o contexto sociocultural dos aluno e a disciplina acaba por não fazer sentido para a realidade deles.”
Para José Pedro, o desinteresse dos alunos é explicado por essa má formação, já que os professores não tem didática suficiente para estimulá-los e para trabalhar diferentes conteúdos, além do livro didático, como as novas tecnologias. “São métodos e técnicas obsoletas”, critica ele.

Desinteresse dos pais
Enquanto os especialistas centram as críticas na academia, os professores que estão em sala de aula acreditam que o desinteresse e, consequentemente, o baixo rendimento dos alunos em Matemática tem outro vilão: os pais.
Ana Paula Mendes, que leciona a disciplina no Colégio Estadual Cultura e Cooperativismo e também do Colégio Shalon, vê com clareza a diferença do acompanhamento familiar que é feito na rede pública e privada.
Segundo ela, nas instituições de ensino particulares, os pais cobram resultados dos filhos e da escola e o rendimento, obviamente, é melhor nelas. “Na estadual, os pais nem sabem se tem tarefa de casa ou não. Eles não acompanham e, mesmo que a coordenação corra atrás deles, nós não podemos fazer nada no sentido de aplicar uma advertência ou reprovar”, desabafa.
Além disso, Ana Paula acredita que o sistema de avaliações da rede pública desestimula os estudantes. “Os alunos que vem do município já estão acostumados a apenas passar de Ciclos, estando aptos ou não. Eles chegam aqui sem saber nada: não somam, não subtraem, não multiplicam nem dividem. Mas ele não precisa fazer nada para tirar nota, porque nós não podemos reprovar.”
Mas a Matemática não é vilã para todo mundo. Nunca foi problema, por exemplo, para Bárbara Guimarães, estudante do 9° ano do Cultura e Cooperativismo. “Eu sempre me saí melhor nessa disciplina, mas não sei porquê,” brinca.
A dedicada aluna, que adora resolver um desafio, não sabe ainda qual será seu futuro profissional, mas já tem uma certeza: não será a carreira de Exatas. Mas Bárbara entende bem que, sem a Matemática, ela não irá muito longe profissionalmente.
Fonte: Tribuna do Planalto (GO)

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