quinta-feira, 4 de abril de 2013

Fé imposta na sala de aula


Na maioria das Escolas públicas brasileiras, para passar de ano, os alunos têm que rezar. Literalmente. Levantamento feito pelo portal Qedu.org.br a partir de dados do questionário da Prova Brasil 2011, do Ministério da Educação, mostra que em 51% dos colégios há o costume de se fazer orações ou cantar músicas religiosas. Apesar de contrariar a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), segundo a qual o Ensino religioso é facultativo, 49% dos diretores entrevistados admitiram que a presença nas aulas dessa disciplina é obrigatória. Para completar, em 79% das Escolas não há atividades alternativas para estudantes que não queiram assistir às aulas de religião.
A., de 13 anos, estuda numa Escola municipal em São João de Meriti em que o Ensino religioso é confessional, e a presença nas aulas, obrigatória. Praticante de candomblé, ela diz sofrer discriminação por parte de três Professoras evangélicas, que tentam convertê-la. Com medo de retaliações, a menina pede que nem seu nome nem o de seu colégio sejam identificados. Ela relata que é obrigada não só a frequentar as aulas, como também a fazer orações.
- A Professora manda eu rezar "Ó pai bondoso, livra-nos de todo espírito do mal, para quem é da macumba entrar para a igreja", porque eu sou do candomblé. Se eu não repetir a oração, ela me manda para a sala da direção. E a diretora diz que a Professora tem que ensinar o que ela acha que está certo. Não posso faltar, senão, ela disse que vou ser reprovada - conta a aluna do 5º ano do Ensino fundamental.
A. recorda o constrangimento por que passou uma amiga sua candomblecista em 2012. Como parte de um ritual de iniciação na religião, a menina havia raspado o cabelo e tinha que usar vestes brancas durante um período:
- Quando a Professora viu, rezou "tira todo o capeta do corpo dessa menina, que ela tem que ir para a igreja". Depois disso, minha amiga trocou de colégio. Quando eu fizer o santo (ritual de iniciação), nem vou poder ir à Escola.
Pós-graduada em Orientação Educacional e Supervisão Escolar, a Professora Djenane Lessa incluiu o caso de A. como objeto de estudo em sua pesquisa de campo para a pós-graduação em Ensino da História e da Cultura Africana e Afrodescendente no Instituto Federal de Educação do Rio de Janeiro (IFRJ). Ela analisa a situação e lembra que a LDB veda qualquer tipo de proselitismo.
- A Escola é um espaço laico. Em uma aula de religião confessional com um grupo misto, de várias orientações religiosas, uma oração direcionada pode ser entendida como proselitismo, já que obriga a quem não tem interesse a ouvir ou mesmo a repetir a mesma - diz Djenane.
Já no colégio estadual em que Y. cursa o 1º ano do Ensino médio, em Engenho de Dentro, as aulas de Ensino religioso são facultativas, mas não há atividades alternativas para quem não quiser frequentá-las. A estudante de 15 anos é umbandista e diz que o Professor, católico, fala sobre várias religiões, mas reza orações como Pai Nosso e Ave Maria, além de cantar músicas gospel.
- Fico quieta durante as orações, mas todo mundo reza. Tem vezes que o Professor me chama de macumbeira, e tenho que corrigi-lo. Outros Alunos ficam rindo de mim, dizendo que a "má cumba" é para fazer o mal. Mas não ligo. Adoro minha religião e vou continuar nela - afirma ela, sem querer revelar sua identidade.
Fonte: O Globo (RJ)

Um comentário:

  1. É lamentável o trabalho destes "professores",que com certeza não tem nenhuma formação em Ensino Religioso e acabam com as chances desta disciplina que é tão maravilhosa quando aplicada com métodos psicopedagógicos sensatos,que respeitem as diretrizes da educação.

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