terça-feira, 9 de abril de 2013

O jurássico e doentio sistema educacional brasileiro

Por mais que parte da imprensa e uma pequena camada da sociedade questionem sobre a decadência educacional no Brasil, o quadro conjuntural continua horrendo. Atualmente todos os níveis estão corroídos, do Ensino fundamental ao universitário, justamente por ser cada grau consequente do outro imediatamente inferior, nada obstante os esforços hercúleos dos profissionais da Educação ao tentarem, em luta vã, atenuar os estragos.
O convencional é o máximo que se vê. O investimento é parco, e parte deste é eivado de desvios, direcionamentos e intervenções políticas que fragmentam os recursos materiais, patrimoniais, alimentícios... não importando o que, e para onde vão; enquanto a Educação neste país se resumir à lousa e ao mimeográfo a política social da dependência alienada perdurará. Nesse prumo, Rubem Alves prega que “Escola é máquina de destruir crianças; nas Escolas as crianças são transformadas em adultos, na formação de rebanhos de ovelhas, todas balindo igual, todas pensando igual”.
Fico a imaginar o tanto de informações que recebi em toda minha vida Escolar para quais nunca precisei usá-las; assuntos batidos e desnecessários que me faziam acreditar que eu iria contribuir com o meu país através da balela: Brasil, país do futuro! De quem e para quem? As mesmas “receitas de bolo” da Educação impostas há um século ainda vingam no modelo atual, como se ciência só se aprendesse na Escola. Atualmente se apregoa que a sala de aula ideal é aquela na qual o Aluno se acostuma a fazer uso do computador; tudo bem, mas este mesmo Aluno já aprendeu a manusear um livro? Populismo, marketing político, interesses escusos... tudo vale para camuflar uma cruel realidade.
Não é mais somente impressão, é fato que os Alunos de hoje não querem o inédito, o novo; têm aversão à leitura, mentem para si mesmos e para o círculo no qual está inserido. É tudo na superficialidade do Google, do Ctrl C + Ctrl V. Kant, na ‘Crítica da Razão Pura’ acunha que “O conhecimento começa quando submetemos o objeto a ser conhecido a um interrogatório”. É como diz Gilberto Dimenstein, “A ânsia da Escola é tirar a incógnita do processo educativo. Quanto menos incógnita, mais a prova vai ser feita, melhor o Aluno vai fazer o vestibular e mais os Pais vão aplaudir”. É uma crise de percepção, para qual ler um livro é uma tortura para os educandos do século XXI. Um fato crucial para esta leprosa realidade é comumente retratada por Edgar Morin... “Não se pode reformar a instituição se anteriormente as mentes não forem reformadas (...) Quem educará os Educadores?”.
Consequência prática disso? Os Pais clamando às Escolas que não deixem seus filhos seguirem para as séries seguintes em função de reprovações incontestes, tal qual ocorreu com uma desesperada Mãe Veridiana Rodrigues Ramires, cujo filho estudava em Escola de rede municipal santista e que, mesmo tendo obtido notas baixíssimas em disciplinas como Português, Matemática, Geografia e História, seguiu seu itinerário estudantil pulando para a série seguinte, independentemente do número de faltas que tivesse, por complacência da Escola, do sistema educacional imposto. Este pseudo-estudante faz parte do grupo grande de Analfabetos funcionais guardados neste País, matéria-prima farta e fácil para a bandalheira eleitoral vigente. Pessoas que se inserem no mundo universitário sem sequer discernir sobre um texto básico, simplório. Gente que não se acostumou a estudar de verdade e tenta falsear a tudo e todos na vida acadêmica.
A tragédia é tanta que no último resultado de correção das redações do ENEM notas razoáveis foram concedidas para candidatos que dissertaram de hino de clube de futebol a receita de miojo. Inacreditável! Além disso, a permissividade de erros absurdos no uso da língua pátria, de ortografia à concordância, banalizada pela banca examinadora do Ministério da Educação – MEC, amostra não só o perfil do alunado brasileiro como a incompetência dos gestores (que são políticos e não técnicos) que comandam o que chamam de Educação neste fantasioso país. Não se justificaria, em nenhuma hipótese, as correspondentes e altas notas aplicadas.
Hoje acredito que o sistema de cotas nas universidades foi criado para alimentar os absurdos criados nos Ensinos fundamental e médio que, dessa forma, douram a pílula e encobrem a incapacidade de se ingressas pelos meios normais com fulcro na meritocracia. Fogem-se aos méritos; aniquilam-se a lógica; metralham-se direitos, afundam a Educação. Para que qualidade educacional, então?
Fonte: Folha de Boa Vista (RR)

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