O episódio da
votação das novas regras de distribuição dos royalties do petróleo caiu como
uma batata quente nas mãos do governo. Por um grave erro de avaliação e falha
na negociação política, a Câmara dos Deputados derrubou a proposta avalizada
pelo Planalto, que previa a destinação de parte dos royalties para a Educação,
e aprovou o texto que veio do Senado, que beneficia os Estados e municípios não
produtores em detrimento dos produtores.
Agora o
projeto vai para a sanção da presidente Dilma Rousseff, que tem até o dia 30
para se manifestar. Se defender a proposta que apoiava, a presidente vai
descontentar todos os Estados e municípios brasileiros, exceto os produtores,
Rio de Janeiro e Espírito Santo. É uma decisão politicamente difícil, mas o
governo está colhendo os frutos de uma articulação frágil e erros de cálculo.
Afinal, o
projeto aprovado pela Câmara na semana passada passou pelo Senado há nada menos
do que um ano, em outubro de 2011. É o projeto do senador Wellington Dias
(PT-PI), cujo relator foi o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). Em vez de
aproveitar esse tempo para negociar mudanças, deixou tudo para a última hora.
O governo
confiou que o projeto substitutivo do deputado Carlos Zarattini (PT-SP) sairia
vencedor. Zarattini fez várias concessões de última hora, inclusive, por
sugestão do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, aumentou os recursos para
os Estados produtores e reduziu a fatia dos municípios.
Nos últimos
dias, a negociação esteve a cargo do ministro da Educação, Aloizio Mercadante,
que tentou convencer os deputados da nobreza a destinar parte dos royalties à
Educação.
O culpado não
é um só nesse caso. Durante as negociações em torno do projeto, houve confronto
até entre o líder do governo e o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e o
Palácio do Planalto. O deputado criticou a interferência do governo nas
articulações. Mas não conseguiu evitar que o plenário da Câmara aprovasse, por
286 votos a favor e 124 contra, o texto do Senado.
O projeto
aprovado altera a distribuição de royalties e participação especial, que é um
percentual cobrado das empresas com maior capacidade de produção, de todo o
petróleo localizado no mar, inclusive dos campos já licitados, entre a União,
Estados e municípios. Até então, a regra beneficiava fortemente os Estados onde
estão localizados os poços de petróleo, Rio e Espírito Santo, sob a
justificativa de que a exploração do combustível interfere no ambiente, na
ocupação e em vários outros aspectos. A descoberta da imensa reserva do
pré-sal, e o consequente aumento do bolo, levou à conclusão que os critérios de
distribuição dos royalties precisavam ser rediscutidos. Trata-se de um volume
que gira atualmente ao redor de R$ 22 bilhões, 80% dos quais vão para Estados produtores,
e pode chegar a entre R$ 60 bilhões e R$ 100 bilhões em 2020, com o pré-sal.
O senador
Wellington Dias (PT-PI), autor do projeto de lei aprovado, afirma que, pela
Constituição, esse dinheiro pertence a todos os entes da federação. A
Constituição também é invocada pelos Estados produtores para combater as
mudanças, especialmente das operações já licitadas pelo regime de concessão.
Para o senador fluminense Francisco Dornelles (PP), o projeto é
"totalmente inconstitucional, fere o pacto republicano, os princípios da
federação e inviabiliza o Rio de Janeiro". Por isso, o senador e outros
representantes do Rio no Congresso defendem o recurso ao Supremo Tribunal
Federal (STF), se a presidente não vetar o projeto. O Estado do Rio, incluindo
municípios, estima sua perda de receita em R$ 116,8 bilhões entre o próximo ano
e 2030; e o Espírito Santo, de R$ 11 bilhões, de agora a 2020.
Apesar do
interesse do governo federal nos recursos do petróleo para ampliar o
investimento em Educação - agora uma obrigação estabelecida pelo Plano Nacional
da Educação (PNE) -, não parece garantido que vá se indispor com tantos Estados
e municípios para obter um dinheiro que pode conseguir de outra forma. Mais
provável mesmo é que a discussão vá para a Justiça, juntando-se a outras 5 mil
ações sobre conflitos federativos, apesar de o petróleo do pré-sal ser apenas
uma boa aposta para o futuro, no momento.
Mais do que
tudo, o governo perdeu a oportunidade de discutir amplamente o destino dos
recursos obtidos com o pré-sal. Diante de uma riqueza extraordinária porém
finita como essa, vários países constituíram fundos para as gerações futuras.
Do jeito que o projeto de lei está, o dinheiro poderá parar no ralo dos gastos
ordinários.
Fonte: Valor Econômico (SP)
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