Depois de 18
anos de relativa estabilidade da inflação, graças à reforma monetária que criou
o real, e nove anos de forte política de transferência de renda, impulsionada
pelos aumentos do salário mínimo e por programas como o Bolsa-Família, o
desempenho econômico e a sua resultante social estão transformando as condições
do Brasil, mas mais da economia que dos indicadores de qualidade de vida.Não
tem nada a ver com a situação de 1973, fim do chamado “milagre econômico” da
ditadura, quando o general-presidente Emílio Médici soltou a máxima segundo a
qual a “economia vai bem, mas o povo vai mal”. A economia, as liberdades
individuais e a qualidade de vida melhoraram em relação aos anos 1970 e 1980,
mas poderia ter havido maior avanço em questões de segurança pública e de
eficiência da Educação – dois dos componentes do bem-estar em qualquer nação.
Esse é o
resultado que emerge da mais abrangente pesquisa global, envolvendo 142 países,
sob o conceito de que a prosperidade não é apenas uma questão monetária, mas
também de bem-estar. Realizado pelo Legatum Institute, entidade apartidária e
sem fins lucrativos baseada em Londres, o estudo, intitulado Legatum Prosperity
Index, analisa 89 indicadores por nação, distribuídos em oito subíndices, para
identificar os fatores que explicam o sucesso e a felicidade.
Com Noruega,
Dinamarca, Suécia, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Finlândia, Holanda, Suíça
e Irlanda abrindo os 10 primeiros postos desse ranking dos países mais
bem-sucedidos do mundo – considerados os critérios de desempenho econômico;
oportunidade de negócios e empreendedorismo; governança pública; Educação;
saúde; segurança e percepção de proteção; liberdade pessoal; capital social –,
Brasil é o 44º entre as 142 nações avaliadas. Era o 41º em 2009, quando o
índice foi elaborado pela primeira vez, com 104 países listados.
O que
progrediu, o que regrediu e o que está estagnado? O destaque do Brasil no
Índice de Prosperidade coincide com o que se intui: o avanço dos fundamentos
econômicos. De 54º lugar no ranking de 2009 o país saltou para a 33ª posição em
2012. No item sobre liberdade individual, o país também está bem posicionado,
com o 25º lugar no subíndice global, embora estivesse melhor em 2009, na 16ª
posição.
Desastrosa é a avaliação da Educação. Já era ruim em 2009, quando o Brasil foi
listado em 58º lugar nesse quesito, e ficou pior este ano, ao ocupar a 79ª
posição na lista global. A Argentina, a título de comparação, é o 42º país mais
bem avaliado no quesito Educação (e ocupa o 48º lugar no ranking geral graças a
seus índices sociais).
Saúde, em
compensação, avançou do 64º para o 57º lugar (mas ainda distante da Argentina,
41º nesse subíndice, apesar de sua difícil situação econômica desde a moratória
da dívida externa, em 2001).
Mas
humilhante, para o Brasil, é o resultado da segurança pública como um dos
principais fatores a solapar a prosperidade. O país é o 87º menos seguro do
mundo (era o 79º em 2009), comparado na América Latina, segundo o Legatum
Institute, ao México (116º), onde cartéis de drogas se infiltraram no Estado, à
Colômbia (136º), que enfrenta uma guerrilha ativa, e ao Haiti (121º), o mais
pobre do continente.
Decepção da governança
Em pesquisa
realizada em 2010, 40,3% dos brasileiros disseram sentir-se seguros à noite,
contra 61,9% na média mundial, embora a taxa de vítimas de assalto fosse menor
que a média global – 14,9%, contra 16,8%. Tais números revelam uma sociedade
violenta, embora com indicadores expressivos de capital social: 90,6%, contra
80,6% na média global, dizem confiar em terceiros; 26% (e 28% no mundo) fazem
doações regulares; e 48% ajudam estranhos (45,7% no mundo).
A leitura
conjunta dos dados sobre capital social, de segurança e sentimento de proteção
e de Educação mostra um país necessitado de melhor governança, item em que
estamos na 56ª posição – melhor que a Argentina (75ª), mas muito abaixo do
Uruguai (27º neste subíndice e 31º no ranking geral) e do Chile (24º no
subíndice de qualidade da governança e 34º na lista global de 142 países).
Retorno social é baixo
Parte das
informações vem de pesquisa mundial do instituto Gallup, contratado pelo
Legatum. Outra parte sai de dados oficiais. Mal ou bem, eles revelam que na
economia o país está numa lenta escalada, com crescimento médio em cinco anos
(até 2010) de 3,4%, comparado a 2,7% da média global. Mas, apesar do gasto per
capita e em relação do PIB com a área social, ambos dos mais elevados para os
padrões internacionais, o resultado está muito aquém do necessário.
A se
considerar os 89 indicadores analisados pela pesquisa, o que surpreende é a boa
avaliação da sociedade diante do que recebe. E não se trata de aumentar o
gasto, mas o retorno do que é aplicado, função do talento dos governantes e da
qualidade das instituições.
Fonte: Estado de Minas (MG)
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