O diagnóstico
do persistente distanciamento entre a cultura escrita e os brasileiros vem de
diferentes fontes recentes. O Índice de Desenvolvimento da Educação básica
(Ideb) indica que as habilidades de leitura e escrita, em algumas faixas
etárias, estão muito aquém do desejado. O Índice Nacional de Alfabetização
Funcional mostra o elevado grau desse tipo de Analfabetismo entre os
brasileiros. E o relatório Retratos da Leitura no Brasil revela o baixo
percentual de leitores e o assustador desinteresse pela leitura. As informações
desses estudos apontam para uma mesma direção: a urgência de colocar no topo da
agenda social brasileira o incentivo às práticas de leitura.
Pode-se pensar
que já exista atenção dedicada ao tema, na medida em que se amplia o número de
bibliotecas. Também há notícias de compra e distribuição de obras literárias
nas redes de Ensino. Mas esse é apenas o primeiro passo de um desafio que é bem
mais complexo e envolve políticas públicas que olhem para os livros, mas antes
levem em consideração os processos de formação de leitores.
Revelador é o
relatório Retratos da Leitura no Brasil, publicado pelo Instituto Pró-Livro e
pelo Ibope Inteligência. O estudo mostra que a leitura não está fortemente
associada a algo interessante ou prazeroso e, entre os que estão lendo menos
que antes, 78% alegaram motivos relacionados à falta de interesse. Outro dado
significativo é que 45% dos entrevistados entre os leitores que gostam de ler
atribuíram ao Professor ou Professora o papel de maior estimulador da leitura -
um pouco à frente até mesmo da mãe e muito acima do pai. Esses resultados nos
levam ao coração deste tema tão complexo: o papel da Escola em formar leitores
para além da Alfabetização.
O primeiro
passo é repensar a formação do Professor, para que seja possível despertar nele
um interesse genuíno pela leitura. O gosto tem um indiscutível componente de
descoberta, de prazer, de experiência de livre pensar, que não é alcançado se a
leitura for vista apenas como uma tarefa imposta. Por isso, tantos estudos
enfatizam a importância da leitura de literatura, pelo caráter de liberdade que
ela contém.
O prazer pela
leitura não se ensina como uma lição convencional. É necessário um conjunto de
políticas continuadas que garantam ao Professor o acompanhamento na sua
trajetória de leitor, tempo para leitura, acesso ao livro, e que ele seja
sensibilizado para o papel que desempenha de transmissor do gosto pela leitura.
Há iniciativas
que apontam nessa direção. A Colômbia tem obtido vitórias no tema da formação
de leitores, com um novo olhar para as bibliotecas. A experiência colombiana
mostra que, para desenvolver o gosto pela leitura, é preciso restituí-la como
prática social significativa, recuperar seu papel como uma inigualável
experiência simbólica, que amplia a visão de mundo, produz cultura e nos torna
mais capazes de compreender a condição humana.
Fonte: O Globo (RJ)
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