As três Escolas que tiveram notas mais altas no Exame
Nacional do Ensino médio 2011 têm aula em tempo integral. Entre colégios que
tiveram grandes viradas no Índice de Desenvolvimento da Educação básica (Ideb)
entre 2009 e 2011, muitos também têm Educação integral.O sucesso tem sido
explicado por alguns estudiosos: quanto mais tempo ficam expostas ao processo
Ensino-aprendizagem, mais aprendem.
Mas a proposta do Ensino integral precisa ultrapassar a ideia
de mais tempo na Escola. É isso que defende a gerente da Fundação Itaú Social,
Isabel Santana. Formada em Filosofia pela Pontificia Università Gregoriana, MBA
em Gestão e Empreendedorismo Social e há 25 anos na área social, com
experiência em elaboração e gestão de projetos sociais, Isabel acredita que é
preciso aumentar, além da carga horária, a diversidade de assuntos. O conceito
integral precisa ser aplicado não só no relógio, mas também nos espaços e no
conteúdo. A gerente ainda observa que quatro horas na Escola é pouco. A cada
ano que passa, o acúmulo de conhecimento aumenta, mas o tempo em sala de aula,
não. Isabel ainda cita que, das quatro horas, o período de aprendizado é
dividido com outras questões, como a chamada dos estudantes.
Para o Ensino médio, ela reforça ainda mais a ideia de
aumentar o tempo e a diversidade de conteúdos.
Diário
Catarinense – Passar quatro horas na Escola,
como é para a maioria dos estudantes brasileiros, é pouco? Por quê?
Isabel Santana – Quatro horas na Escola é pouco, pelo menos por três
razões. Primeiro, porque além de quatro horas ser pouco, destas quatro horas, o
tempo que é efetivamente utilizado no Ensino-aprendizagem é menor ainda. A
gestão do tempo nas Escolas precisa ser aprimorada. Perde-se tempo com processos
burocráticos e sem sentido, e não se usa o tempo para o que é essencial.
Exemplo: na troca entre Professores, numa aula que tem 50 minutos, ele gasta
10, 15 minutos com a chamada de Aluno. Esse é um único exemplo de que o tempo é
usado em outra coisa que não é aula de verdade. A segunda razão é que o espaço
Escolar é, antes de tudo, um espaço de relações, onde existem conteúdos a serem
trabalhados e processos a serem vivenciados. Há ainda um acúmulo de
conhecimento da humanidade, o que se estende às crianças. Esse acúmulo demanda
mais coisas para aprender, e a gente continua mantendo o mesmo tempo de Escola
de séculos atrás. Desconheço outro país do mundo que tenha só quatro horas de
Ensino. A terceira razão é que existem estudos e pesquisas quantitativas que
demonstram que há aumento de aprendizagem aumentando o tempo na Escola.
DC – A questão financeira continua sendo a maior barreira
para que a Educação integral não esteja presente na maioria das Escolas?
Isabel – Ainda existe dificuldade financeira, mas, em breve,
haverá diminuição de crianças entrando na Escola e aumento de recursos. A
barreira financeira é temporária. A dificuldade é formação dos Educadores, ter
planos de carreira que consigam priorizar a permanência do mesmo Professor na
Escola. Existe uma dificuldade que é o currículo e a diversificação das
atividades. Não precisamos pensar num único modelo.
DC – Em seminário promovido pela Fundação Itaú Social, em
São Paulo, ficou clara a necessidade da Educação integral ensinar também de
maneira integral. Trazendo o tema da Educação integral para o Ensino médio, o
que seria preciso abordar nesta etapa tão problemática?
Isabel – Quando falamos em Educação integral, a pergunta por
trás é: “Qual o tipo de formação que queremos dar para as novas gerações da
nossa sociedade?” Vale para crianças, adolescentes e jovens. É para toda a
Educação básica. Quando falamos em Ensino integral, estamos sempre trabalhando
em ampliar o tempo que o Aluno está exposto ao processo de Ensino-aprendizagem,
porque não dá para pensar a Educação integral sem estruturar o tempo. Mas
defendemos também a ampliação do espaço. Não deve acontecer só no espaço
Escolar. Quando se pensa no Ensino médio, isso se torna ainda mais importante.
Não é Escola o dia todo, e sim Educação o dia todo. Ampliação de tempo, espaço
e conteúdo. Se eu aumento o tempo, também preciso pensar qual é o recheio, o
conteúdo. Não dá para pensar numa política de Educação integral sem dar
oportunidade para que o Aluno se desenvolva o máximo. Oferecer mais tempo, mais
espaços, e precisamos de adequação e escolhas do conteúdo. Olhando esse
conjunto, no Ensino médio, não dá para pensar na Educação integral como um
único modelo, uma única oferta. Se eu tiver um único modelo, só com Escola de
oito horas por dia e em muitos dias, muitos jovens vão começar a ficar fora
disso, porque não terão interesse.
DC – Em SC, o governo aposta no Ensino médio integral e
inovador para conter os índices de reprovação e abandono desta etapa. Aos
jovens, são oferecidas aulas de inglês, empreendedorismo, informática. Este
modelo pode ser considerado adequado? Se não, o que é preciso ter além disso?
Isabel – Um ponto importante, não só para SC, mas para todas as
redes de Educação pensarem, é o quanto o currículo que está sendo oferecido consegue
misturar os conteúdos de jeito mais produtivo. Eu sempre acho que não é
adequado colocar em um período só as matérias que são exigidas para prova e,
num outro período, as atividades complementares. Reforça muito a ideia de que
um é Escola e o outro é mais leve, mais solto. Pensar o currículo de forma
integrada, que seja desenvolvido em conjunto, em horário estendido. Outro ponto
é que cada Escola, cada ONG desse um cardápio de oportunidades que pudesse ser
acessado pelos jovens em momentos diferentes. Tenho aula de informática, mas
posso ter informática para produção de vídeos, textos, desenho de moda, por
exemplo. Quando o jovem se sente participante da escolha, ele se envolve mais,
a evasão é menor, e passa a configurar um projeto com sentido educacional. Se
não tivermos, fica muito difícil aderir ao projeto.
DC – Como usar as ONGs na oferta de Ensino integral?
Isabel – As ONGs podem ser fortes aliadas. É preciso que o
governo se abra, as ONGs se abram para o processo educacional em conjunto.
Fonte: Diário Catarinense (SC)
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