A aprendizagem é um fenômeno social. Esta descoberta, que
foi primeiramente apontada por Vygotsky e depois amplamente aprofundada por
Wallon – médico francês contemporâneo de Piaget –, muda radicalmente o olhar do
consenso histórico de que aprender é um fato individual.
E ela tem consequências práticas profundas.
Em primeiro lugar, a sala de aula deve ter novíssima
estética. Adeus à cena Escolar das filas de Alunos, um atrás do outro, voltados
para o Professor postado na frente deles, explicando-lhes e escrevendo no
quadro para que copiem.
As trocas entre os Alunos ocupam um espaço importante,
inclusive porque “há momentos em que um bom Professor pode prestar um péssimo
serviço aos Alunos”. Esta afirmação é de Jean Piaget, o grande responsável pela
descoberta de que entre as experiências e os conhecimentos existe uma
construção, o que deu nascimento à teoria denominada Construtivismo.
A importância das trocas entre Alunos se assenta no fato
de que se aprende na interlocução com três grupos de pessoas – os que sabem
mais, os que sabem o mesmo e os que sabem menos do que aqueles que aprendem.
Até hoje, somente foi valorizada e operacionalizada a aprendizagem com quem
sabe mais que os Alunos, isto é, com os Professores. Portanto, entre os Alunos
deve reinar o silêncio, para que eles possam escutar devidamente a Professora.
O silêncio dos Alunos é uma condição imperativa na Escola que aí está, pois se
parte do princípio de que quem ensina é o (a)Professor (a). Quando se descobre
que Piaget está cheio de razão ao nos alertar de que há momentos, e muitos, em
que se aprende mais com iguais do que com superiores, há que se dar uma
reviravolta na estruturação da Escola.
Outrossim, esta reviravolta não concerne somente à sala de
aula. Ela abarca a Escola como um todo. Como “só ensina quem aprende”, o corpo
Docente tem também que estruturar-se calcado no grupal e não no individual. E
um grupo tem prerrogativas próprias para que seja operativo. O grupo precisa
ser estável e precisa de coordenação, porque “não há grupo sem coordenação”,
como bem lembrou Madalena Freire.
O corpo Docente de uma Escola precisa ter as riquezas de
um grupo estruturado. Um grupo só é estruturado se ele é estável e bem
coordenado. Uma Escola sem a consciência e a consistência de que seus
Professores e funcionários agem como parte de um grupo, e não como uma peça
isolada numa engrenagem meramente técnica ou administrativa, é um arremedo de
Escola e nela pouco se ensinará e, portanto, pouco se aprenderá.
É inadmissível que os Professores e funcionários de uma
Escola não tenham senão apego a ela porque ela é próxima de suas residências ou
por outras razões que não a da concretização de que, como um corpo, nela
produzem aprendizagem para seus Alunos.
É, portanto, fora de propósito que se aceite uma
movimentação de seus Professores sem nenhuma razão profissional, ou seja, sem
algo voltado para os objetivos ensinantes de uma Escola.
Além disso, como grupo só existe com coordenação, ele só
existirá com alguém que articule as autorias de quem dele participa. A
coordenação é tanto mais necessária quanto mais os agrupados são autores, isto
é, são criativos face às tarefas pelas quais cada grupo é responsável no
contexto em que atua.
Pois, muito especialmente uma Escola verdadeira só ensina
se há invenção por parte de seus Professores, uma vez que o processo de
aprendizagem dos Alunos é eminentemente singular e surpreendente, para o qual a
criatividade é pedra fundamental.
Assim, há que se ter, portanto, coragem de remexer nas
entranhas das Escolas, a fim de que elas acompanhem os mais consistentes e
atualizados achados das ciências do aprender – o de que as aprendizagens
acontecem grupalmente, o que fez consolidar-se uma nova teorização sobre a
aquisição dos conhecimentos – o pós-construtivismo.
Incorporar às Escolas a dimensão social da sua
estruturação é uma das chaves da possibilidade de reverter a catástrofe das
poucas aprendizagens, evidenciadas em todas as avaliações a que elas são
submetidas, nacional e internacionalmente.
Esther Pillar Grossi, doutora em Psicologia da Inteligência
pela Universidade de Paris, in: Zero Hora (RS)
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