A presidente
Dilma Rousseff deve sancionar a lei do novo Plano Nacional da Educação (PNDE),
cujo projeto, aprovado há dez dias na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
da Câmara dos Deputados, praticamente dobra os gastos com a educação pública no
país. Passa dos cerca de 5,1% do PIB atuais para 10% do PIB até 2022. A
aprovação na CCJ teve caráter conclusivo e o projeto seguiu para o Senado
Federal.
Cumprida a
trajetória de aumento gradativo do Orçamento o Brasil será, em dez anos, de
longe o país que mais investe em educação no planeta.
Para financiar
essa meta, o Projeto de Lei 8.035/2010, em seu Artigo 5º, Inciso 4, determina a
utilização de "50% dos recursos do pré-sal, incluídos os royalties".
Responsável
pelo caixa do Tesouro Nacional, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que
a presidente Dilma não pretende vetar o projeto, embora ele considere essa nova
rodada de multiplicação dos recursos - que mais do que dobraram de 1980 (2,4%
do PIB) até hoje - um objetivo "muito ambicioso e muito ousado".
Mantega,
porém, defende a medida como uma maneira de evitar que governantes, no futuro,
caiam na tentação de cortar verbas para essa área, como ocorreu no passado.
Assegurar um progressivo aumento dos recursos daqui por diante seria, assim,
uma forma de recuperar o país da negligência histórica com a educação do povo
brasileiro.
O projeto de
lei que tramita há dois anos no Congresso previa, na sua origem, que as verbas
da União, dos Estados e dos municípios, somadas, chegassem a 7% do PIB nesse
período. Com esse compromisso o Brasil estaria entre os quatro maiores
investidores em educação, perdendo apenas para a Dinamarca, Islândia e Noruega,
e à frente dos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Alemanha e a sempre citada
como exemplo de sucesso, Coreia do Sul, que despende 5% do PIB com educação
pública. A média dos investimentos nos países da Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de 5,8% do PIB. Pela metodologia da OCDE,
no Brasil chega a 5,7% do PIB.
Com 10% o país
será único no ranking, muito acima de todos os casos bem sucedidos na
implementação de uma política educacional que conseguiu unir o "gastar
mais" com o "gastar bem".
Na Câmara, o
percentual foi sendo acrescido durante a tramitação do projeto, por pressões da
base aliada, dos partidos da oposição e de representantes da comunidade
educacional, que teriam concluido que 10% do PIB é o mínimo necessário para uma
educação de qualidade.
A meta
progressiva do investimento público será avaliada no quarto ano de vigência do
PNE e poderá ser ampliada por meio de lei, para atender às necessidades
financeiras do cumprimento das demais metas do plano. Pelo texto aprovado, o
governo se compromete a investir pelo menos 7% do PIB na área nos primeiros
cinco anos de vigência do plano e 10% ao fim de dez anos.
Essa é a
precondição para se atingir outra meta do PNE, a de universalização e a
ampliação do acesso em todos os níveis educacionais. O plano prevê, ainda, o
incentivo à formação inicial e continuada de professores e dos demais
profissionais da educação, avaliação e acompanhamento periódico e
individualizado de todos os envolvidos - estudantes, professores, gestores e
demais profissionais.
Segundo Márcio
Firmo, economista estudioso da educação, o patamar atual do investimento no
setor associado à transição demográfica por que passa o país, já representaria
um aumento importante do gasto por aluno e, comparado com outras economias, o
Brasil estaria bem provido de recursos.
Nos próximos
20 anos a população em idade escolar (dos seis aos 18 anos) vai decrescer em
cerca de 20%. Se a lei estabelece como meta chegar a 2022 com investimentos
equivalentes a 10% do PIB, mesmo desconsiderando o decréscimo da população em
idade escolar, o investimento por aluno subiria cerca de 80%.
Mantega disse
que ainda não fez contas para atestar se essa é uma meta razoável e admitiu que
"se exagerarmos na dose, não teremos nem como gastar".
No ano passado
o investimento público em educação alcançou 5,1% do PIB, um aumento de 1,2
ponto percentual do produto desde o ano 2000.
A elevação
mais expressiva ocorreu na educação básica, que passou de 3,2% do PIB para 4,3%
do PIB nesse período.
Não há um
estudo sério que estabeleça relação direta entre o aumento do orçamento
destinado à educação e a melhoria do aprendizado dos alunos.
O tema é
complexo, não comporta decisões simples nem suporta erros de diagnóstico. Os
parlamentares optaram pelo caminho mais fácil. Se o país começa a perder o jogo
no ensino fundamental, basta aumentar a verba que tudo vai melhorar.
Não é assim.
Gastar mais, com dinheiro carimbado, não significa necessariamente gastar
melhor. Pode apenas aumentar o desperdício.
Claudia Safatle, in: Valor Econômico
(SP)
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