O Diário Oficial da União publicou na última segunda-feira
o decreto que regulamenta a lei das cotas sociais em universidades e institutos
federais, reservando 50% das vagas para estudantes que cursaram o Ensino médio
em Escolas públicas e, dentro deste percentual, distribuição de vagas por
critérios raciais, conforme a representatividade medida pelo IBGE em cada
Estado da federação. As ações afirmativas são sempre polêmicas, mas
inquestionavelmente necessárias para reparar injustiças históricas e para
proporcionar a determinados segmentos sociais oportunidades que, de outra
forma, jamais receberiam. Só não podem ser utilizadas para mascarar o fracasso
da Escola pública no Ensino básico.
As instituições terão quatro anos para se adaptar ao novo
regramento de forma integral, mas já deverão oferecer reservas de vagas nos
processos seletivos para matrículas em 2013 – o que significa imediata revisão
dos concursos que estavam sendo preparados. A mudança mais relevante, em
relação ao projeto aprovado em agosto pelo Senado, foi o veto presidencial do
artigo que tratava da seleção dos estudantes pela média aritmética das notas
obtidas no Ensino médio. Por sugestão do MEC, a classificação levará em conta o
Enem (Exame Nacional do Ensino médio).
A grande preocupação dos opositores do sistema de cotas é
com a perda de qualidade do Ensino Superior, que passa a receber maior
quantidade de Alunos mal preparados. Argumentam os críticos que a inclusão
pelas cotas impõe um dilema às universidades: ou baixam o nível de excelência e
perdem Alunos, ou acabam “expulsando” os cotistas, que não conseguirão
acompanhar os cursos. Trata-se de uma visão radical, pois aulas de reforço
certamente poderão compensar eventuais deficiências. E o problema real é outro,
e bem maior: a degradação crescente do Ensino médio. É neste nível que se
agudiza a crise geral da Educação pública, com Professores desencantados em
virtude da desvalorização profissional, estudantes insatisfeitos com a mesmice
das Escolas, famílias pouco comprometidas com o Ensino das crianças e governos
incapazes de encontrar saídas para o brete educacional.
Na Educação básica é que precisamos de cotas – que não são
sociais nem raciais –, pois felizmente o país conseguiu universalizar o acesso
neste nível. O que o país precisa é de cotas de qualidade, para que todas as
crianças – e não apenas as exceções – aprendam, progridam e se capacitem a
disputar as oportunidades que a vida oferece. Engana-se quem pensa que a dívida
histórica com os excluídos está paga com o simples acesso à Escola básica ou
com o sistema de compensações ora implantado no Ensino Superior.
O Brasil só sairá do fim da fila nos rankings
internacionais de Educação quando oferecer aos estudantes boas Escolas,
conteúdos relevantes e possibilidades efetivas de ascensão social pelo estudo,
pelo esforço, pelo merecimento.
O que o país precisa é de cotas de qualidade, para que
todas as crianças – e não apenas as exceções – aprendam.
Fonte: Diário de Cuiabá (MT)
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