Estudei toda
minha Educação básica numa Escola pública chamada Camilo Dias. Lembro-me com
saudades de minha primeira Professora. Fecho os olhos e a vejo caminhando pela
sala, apresentando a “família da Casinha Feliz”. E tantos outros Professores
passaram por minha vida, me marcaram e contribuíram para a minha formação.
Liderei um jornalzinho estudantil. Fiz, ao lado de meus colegas, denúncias e
abusos de Professores. Questionávamos a situação. Buscávamos melhorias e
acreditávamos em mudanças positivas. Recordo-me que havia uma forte necessidade
de darmos nossa parcela de contribuição para tais mudanças que, quem sabe,
revolucionasse nacionalmente a maneira de pensar e agir dos jovens daquela
década de 90.
Não passei por
palmatórias, castigos em caroços de milho ou coisa parecida, e sempre houve
respeito pelos Professores. Não éramos obrigados a amar a todos do mesmo modo,
mas nunca esquecíamos quem era a autoridade na sala de aula. Sou Professora.
Vivencio o que meus Professores vivenciaram, mas há muita coisa diferente.
Percebo que o respeito já quase não existe mais. A postura dos Alunos mudou de
forma negativa e, infelizmente, a do Professor também. Presencio condutas de
colegas totalmente às avessas do que seria óbvio no processo de educar.
Muitos
Professores chegam à sala de aula desestimulados, descompromissados e alheios
ao seu valoroso papel. Por outro lado, os Alunos, ignorados pelos pais, ou pela
ausência deles, acreditam que a Escola é o complemento do lar, onde se pode
fazer tudo o que se quer. Assim, se origina o caos e a descrença de que pode
haver um Brasil melhor. O grande mestre, Paulo Freire, disse que “Ninguém nega
o valor da Educação e que um bom Professor é imprescindível. Mas, ainda que
desejem bons Professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus filhos
sejam Professores. Isso nos mostra o reconhecimento que o trabalho de educar é
duro, difícil e necessário, mas que permitimos que esses profissionais
continuem sendo desvalorizados”.
Há um trabalho
árduo mental e físico. Disso, ninguém pode negar, mas, também não podemos negar
que muitos de nós ainda ocupamos o cargo e o encaramos como “bico” e, assim,
não é possível enxergar o humano que há no Aluno. Então, quase que viramos
máquinas e despencamos no processo. Apesar de, lamentavelmente, concordar com
Freire, bem sei que um grande fator impede que desejemos esta profissão a
alguém: o conceito de Educar ficou delegado somente à instituição Escolar. E a
família, onde se encaixa? Praticamente deixou de existir. Alunos chegam à
Escola sem saber sua origem, sem identificar autoridade de pai e mãe, sem saber
como conceituar o vocábulo Família. Aí, palavras gentis como: por favor, com
licença e obrigado vão sumindo e, por conta disso, a relação Professor x Aluno
vai ficando cada vez mais gasta e vazia. É necessário que façamos uma reflexão
a respeito de nossa postura em sala de aula. Cabe-nos reverter esta
apocalíptica situação a nosso favor.
Sofremos
pressão de todos os lados por conta das falhas traiçoeiras do nosso Sistema e
já passamos da época de reproduzir clichês atribuindo a ele toda culpa: na sala
dos Professores- “Falta de material didático? A culpa é do Sistema!” Nos
corredores das Escolas- “Salas superlotadas? A culpa é do Sistema!” Não nego
que realmente convivemos com um Sistema que pouco se preocupa com a formação
crítica do indivíduo e, consequentemente, faz pouco caso da realidade da
Educação neste país, mas, se optamos por seguir este caminho, devemos fazê-lo
com sabedoria e força de vontade de que as coisas realmente mudem e para
melhor. Isso nos compete. É nosso dever romper este ciclo vicioso.
Dizem que o
Professor não conhece seu valor. Eu acredito que muitos de nós desconhecemos o
nosso papel vital para a engrenagem da humanidade. Este fator faz a diferença.
Queremos mudanças, mas ainda alimentamos nosso troll da ignorância paternalista
quando ajudamos a eleger estreantes ou veteranos gananciosos e egoístas que
dificilmente estarão interessados em contribuir para uma sociedade melhor. E
repetimos que “o povo tem o governo que merece!”
Educadores de
meu Estado, bem sei de nossa batalha diária. Ela é árdua, mas, acreditem: ela
será satisfatória todas as vezes que você sentir que valeu a pena. Todo esforço
é digno quando se vê o resultado final. Sempre quando inicia o ano, faço votos
de que eu fique representando para meus Alunos aquilo que meus Professores me
representaram: Educação, amizade, compromisso e simpatia. Tudo isso guardado em
doces lembranças. Que possamos utilizar o dia 15 de outubro, para refletirmos
sobre nossa postura e que possamos modificar o nosso meio de tal modo que seja
percebido, não nos números das notas bimestrais, mas nas atitudes
transformadoras e inconformadas com a realidade que vivemos. Aí sim, estaremos,
de fato, reconhecendo nosso papel e nosso valor. Não é necessário estocarem
maçãs em nossas mesas, mas seria muito engrandecedor se os Alunos também
reconhecessem a nossa importância singular nessa "ponte" que leva ao
Conhecimento. Feliz dia do Educador a todos e, em especial, a os Educadores de
minhas doces lembranças.
Suzana Mouta Rodrigues de Lemos, professora, in: Folha de
Boa Vista (RR)
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