Passada a
eleição, a poeira ainda tentando se acomodar, os palanques sendo desmontados e
a pergunta que não quer se calar: Qual era mesmo o discurso, o plano de governo
dos candidatos para a Educação? Certamente o leitor mais atento vai sentir
falta de propostas mais concretas para esse setor.
Observamos que
os candidatos limitaram-se a mera repetição, que gerou em torno de: “ampliar a
Educação infantil; construir Creches, ampliar gradativamente a Escola de tempo
integral, expandir o número de Escolas.”. Fomos frustrados ao perceber a
inexistência de propostas, planejamentos, metas e ações mais ousadas e
criativas para os problemas que ora enfrentamos na Educação. Lendo algumas
propostas de governos estaduais e municipais, tivemos a nítida impressão de
total consentimento e submissão destes às diretrizes do Banco Mundial (Bird)
para políticas educacionais dos países em desenvolvimento.
A mesmice, ou
cautela para os mais “prudentes ”, foi sendo exposta, sem constrangimentos e
descaradamente o discurso da Educação para o desenvolvimento (re) aparece em
cena. Ainda que esse discurso de aliar Educação e desenvolvimento não seja
recente, possui no seu âmago o papel ideológico de livrar o sistema capitalista
de maiores julgamentos. Destarte, conforme a ótica neoliberal, o sistema
educacional tem a função de suscitar a ascensão social, assegurando a
"igualdade de oportunidades", “redução da pobreza ” e de outros
“milagres” prescritos pelo Bird. No entanto, esse discurso não se sustém, pois
o desenvolvimento de uma nação se dá por um conjugado de fatores. Logo, a Educação
não pode ser responsabilizada, nem promovida como salvadora da pátria.
Compartilhamos
da tese de que não há grandes nações sem boas Escolas, mas o mesmo deve
dizer-se da sua economia, da sua política, da organização
administrativa-financeira, da saúde, das políticas sociais e de outros tantos
elementos tão importantes quanto à Educação para o desenvolvimento da nação. Os
Educadores, “alheios” a esse discurso, tomam posse como “salvadores da pátria”,
lutam, fracassam e ainda são julgados culpados pela ineficiência do Ensino. O
fato é que os Educadores estão fartos dessa alocução desenvolvimentista, que
atribui à Escola uma função quase impossível diante das condições que nos são
impostas. Sejamos sensatos e, por favor, não hasteiem a bandeira da “ordem e
progresso ” no mastro frágil da Educação.
Como esperar o
máximo de retorno com o mínimo de investimento? A política da Educação atual é
privatista, paternalista, consensualista, intervencionista e refém da política
do Bird. O que evidencia o contrassenso entre os ditos “discursos”, as
políticas públicas e o ideário macroeconômico. Sinceramente, não dá para se
convencer de que as ações previstas pelos futuros governantes, conforme
prescritos pelo Bird estejam à altura da ideologia subjacente ao
desenvolvimento preconizado e a demandas educativas da sociedade brasileira.
Que tal aproveitar esse momento para realinhar o discurso e iniciar outra
conversa?
Eunice Nóbrega Portela, pedagoga e mestra em Educação, in:
Jornal de Brasília (DF)
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