Do jeito que
está hoje, o Brasil consegue crescer 4% ao ano com inflação um pouco abaixo de
6%, isso com o mundo em circunstâncias normais, mais ajudando do que
atrapalhando. Nos últimos dois anos, por exemplo, o mundo tem sido desfavorável,
o que explica parte do baixo crescimento brasileiro nesse período. Não se trata
aqui, portanto, de um pecado nacional. Todos os países estão rodando abaixo do
potencial.
Mas quanto
abaixo? Aí depende.
Ainda ontem
saiu o relatório da Cepal, Comissão Econômica para América Latina e Caribe,
estimando que a região, em 2012, vai crescer apenas 3,2%, menos do que se
esperava. De novo, todos estão nessa tendência, mas o Brasil (com 1,6%) vem no
fim da fila. Só fica na frente do Paraguai, que enfrentou uma tragédia
climática e perdeu boa parte de seu principal produto, a soja.
O México,
segunda maior economia da região, vai salvar uns 4%. Entre outros mais
importantes, Peru e Chile alcançam a casa dos 5% de expansão. A Colômbia
garante 4,5%. Na verdade, o Brasil puxa as médias para baixo. A da América do
Sul, por exemplo, cai para 2,8%, sempre considerando as projeções da Cepal para
o PIB 2012.
(É melhor
deixar de lado Argentina e Venezuela, cujas políticas econômicas não apenas
seguram qualquer expansão consistente, como desorganizam o que têm de bom.)
Assim, estamos
com dois pecados. O global, que derruba todos - e podemos colocar a maior parte
da culpa nos países desenvolvidos - e o nacional, que nos empurra mais um pouco
para baixo.
Com um castigo
adicional. A inflação brasileira é maior do que nos vizinhos de crescimento
mais rápido. Ou seja, isso de tolerar um pouco mais de inflação para soltar a
economia, claramente, não funciona nem aqui nem ao lado.
Essa
comparação é ainda mais embaraçosa quando se registra que a América Latina é
uma região de baixo crescimento no mundo emergente. Os asiáticos estão
atropelando.
Alguém poderia
dizer: qual o problema? Isso aqui não é uma copa mundial de PIBs.
Não é bem
assim. Crescer é, simplesmente, o país ficar mais rico. As pessoas têm mais
oportunidades, vivem melhor em economias em expansão. Claro, pode haver
crescimento com maior desigualdade de renda, mas todos melhoram quando uma
sociedade produz mais mercadorias e serviços. OK, nem todos, mas sempre é possível
aplicar políticas compensatórias, para as quais, aliás, é preciso ter mais
recursos.
Está tudo
incluído no PIB: comida, casas, vagas nas escolas, estradas, automóveis, metrô,
geladeiras, redes de água e esgoto, hospitais, fábricas, shopping centers, salões
de beleza, viagens, aeroportos, jornal, rádio e TV, diversão e arte. Tudo isso
é medido e indica os bens e serviços à disposição das famílias. Não é "só
PIB".
Por outro
lado, quando se verifica que outros países, parecidos, crescem mais, não é o
caso de invejar, nem de desprezar. Mas de uma conclusão simples: se eles
conseguem...
Se bem que há,
sim, uma ponta de inveja. Considerem a Coreia do Sul. Nos anos 60, quando o
Brasil já estava no grupo dos países de renda média, ela se alinhava entre os
mais pobres da África e da Ásia. Hoje, depois de décadas seguidas construindo
PIB velozmente, os coreanos vivem com uma renda per capita que é quase três
vezes a dos brasileiros. Vivem melhor. Desfrutam, por exemplo, da banda larga
mais rápida do mundo e seus alunos alcançam os primeiros lugares nos testes
internacionais.
Claramente,
fizemos muitas coisas erradas. E duas delas foram fatais: pouco investimento (e
muito consumo) e um fracasso na Educação.
Sim, um
fracasso que se mede até pelos resultados hoje comemorados. Colocamos todas as
crianças no Ensino Fundamental, ainda se registra esse êxito. Mas no século 21!
Todo mundo que importa já havia feito isso. Comemoramos os 7,5 anos de
escolaridade, quando os outros já estão em 14. E temos como meta para daqui a
alguns anos alcançar o menor nível escolar atual nos países desenvolvidos. Não
se pode dizer que o Brasil não tenha melhorado. Para não ir muito longe, as
duas décadas de meados dos anos 70 a 1994, quando se iniciaram as reformas da
era do Real, foram um desastre. Nos últimos 18 anos fomos da água para o vinho.
Mas estávamos atrasados e continuamos atrasados. Não vamos pagar os dois
pecados capitais - falta de investimento e escola ruim - tentando melhorar aos
pouquinhos.
Carlos Alberto Sardenberg, in: O
Globo (RJ)
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