Quem tem seus
trinta e poucos anos – um pouco mais ou um pouco menos dependendo da região –
vai se lembrar dessas nomenclaturas: científico, clássico e magistério. Antes,
essas modalidades direcionavam os estudantes para áreas de conhecimento
específicas, conforme suas aptidões. A partir da década de 70, o modelo foi
sendo gradualmente substituído por um formato mais generalista, usado até hoje.
Para Marcos Magalhães, ex-presidente da Philips do Brasil e atual presidente do
ICE (Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação), organização que tem
reformulado escolas de ensino médio em vários estados, é preciso fazer o
caminho reverso para recuperar a qualidade perdida.
“No Brasil,
encaminhamos os jovens para o ensino médio geral, que é um grande balaio.
Acabamos criando um Frankenstein com mais de 11 disciplinas, quando precisamos
criar uma gama de opções para que o aluno possa escolher aquilo para o que quer
ir se direcionando”, afirma Magalhães. Para ele, o Brasil deveria se inspirar
no modelo europeu, que reduz o número de disciplinas e cria um conjunto de
matérias eletivas como forma de desenvolver “uma melhor visão de futuro” nos
jovens. “O modelo ideal seria limitar a grade a seis matérias obrigatórias e o
restante delas serem eletivas. É preciso que o currículo seja integrado com
trabalhos, projetos, matérias transversais, projetos de vida, iniciativas fora
da escola, ambiente formativo e a mudança no papel do professor”, diz.
A opção
defendida por Magalhães de simplificar a grade curricular para liberar mais
tempo para que o aluno se dedique a suas aptidões tem ganho ressonância na
sociedade. Atualmente, a grade curricular é composta por 13 disciplinas
obrigatórias, mas o MEC estuda a flexibilização desse número, especialmente
depois que a etapa escolar amargou resultados estagnados em 3,4 no Ideb (Índice
de Desenvolvimento da Educação Básica) numa escala que vai de 0 a 10. “Neste
ano, nos encontramos com o [MInistro da Educação], Aloízio Mercadante, que já
está repensando o ensino médio. Ele conheceu alguns dos nossos centros de
ensino e vamos seguir em conversa”, afirma Magalhães.
Além das
alterações na grade curricular, Magalhães ressalta também a importância de que
os processos seletivos para as universidades, como o Enem e os grandes
vestibulares, sejam repensados. “Eles não deveriam ser uma prova única, mas
várias avaliações distintas, o que criaria uma condição melhor de escolha das
universidades”, afirma. A discussão é ainda mais relevante, diz ele, devido ao
crescimento econômico e a demanda por profissionais qualificados que o país vem
vivendo nos últimos cinco anos.
Magalhães tem
experiência no que está defendendo. Em 2004, ele criou o ICE, entidade sem fins
lucrativos, em parceria com o setor privado. Juntos, eles implementaram os
primeiros modelos dos CEEs (Centro de Ensino Experimental) ou ginásios
experimentais, como são mais conhecidos, que hoje já estão espalhados por
Pernambuco, Ceará, São Paulo, Goiás e Rio de Janeiro. Apenas o Rio adota o
modelo para o ensino fundamental 2; em todos os outros estados, a experiência é
de atuação no ensino médio.
Esses centros
são sempre escolas públicas, geridas em parceria com as secretarias de
educação. O ICE vai até essas instituições e desenvolve um modelo de educação
integral. Neles, os professores têm dedicação exclusiva e atividades
pedagógicas integradas entre as disciplinas. O primeiro CEE a ser implantado
foi o Ginásio Pernambucano, em Recife, onde Magalhães estudou. A escola, que
data da época do Brasil Império, foi referência de educação de excelência
durante décadas, mas sua qualidade foi declinando até ser interditada no fim da
década de 90 por falta de condições físicas. Em 2004, ela reabriu as portas já
com o novo modelo.
Fonte: Porvir
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