Cursar uma boa
faculdade basta para ser um bom professor? Como fazer uso de todas as
metodologias e conteúdos aprendidos? Como conseguir se aproximar dos alunos?
Como ensinar e ter certeza de que as crianças aprenderam?
Todas essas
questões incomodam (ou deveriam incomodar) o dia a dia dos cerca de 2 milhões
de professores brasileiros. E também deveriam estar presentes na reflexão dos
estudantes de Pedagogia e das licenciaturas, os futuros docentes.
Nesta
reportagem, o Todos Pela Educação ouviu especialistas em formação docente na
tentativa de detectar quais são as principais qualidades necessárias a um
docente de Educação Básica.
Didática
Saber o que
ensinar é um dos fundamentos da profissão de um bom docente. O conhecimento do
currículo e do projeto pedagógico da escola, bem como dos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) e das Diretrizes Curriculares Nacionais, são
necessários para dar uma boa aula. “O domínio pleno do conteúdo a ser
transmitido mostra que o professor tem competência na área na qual se formou”,
explica Célio da Cunha, professor adjunto na Faculdade de Educação da
Universidade de Brasília (UnB).
Sabe como
ensinar é igualmente importante. Se o professor não conhecer as diferentes
estratégias e metodologias de ensino, de nada adianta dominar a teoria. De
acordo com os especialistas, desenvolver estratégias para facilitar a
aprendizagem, assim como ter profundo conhecimento de como ocorre o
desenvolvimento cognitivo das crianças, fazem parte das ações dos bons
professores.
“O docente
deve saber criar oportunidades para o aluno aprender com todas as ferramentas
de ensino, sejam velhas ou novas”, afirma Anna Helena Altenfelder,
superintendente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação
Comunitária (Cenpec).
Os
especialistas ressaltam que o conhecimento do conteúdo e das metodologias de
ensino está diretamente ligado a uma formação inicial sólida. “Com uma boa
formação, o professor aprende a combinar teoria e prática. Isso significa que
ele dominou os conteúdos e sabe como funciona o processo de aprendizagem dos
alunos”, explica Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemman.
As novas
tecnologias, por exemplo, só fazem sentido se o professor sabe aonde quer
chegar e sabe que determinados conteúdos curriculares podem ter sua aprendizagem
facilitada por meio do uso desse ou daquele recurso digital. “O bom professor
guia os alunos no universo das tecnologias, utilizando diferentes recursos em
sala de aula e garantindo que sua exposição faça sentido aos estudantes”,
completa Mizne.
Formação continuada
Para ser
professor, não basta gostar de ensinar. Tem que gostar também de aprender – ou
seja, de estar sempre atualizado em relação às mais recentes pesquisas sobre
como se dá a aprendizagem das crianças e, consequentemente, como ensiná-las da
melhor forma. “Um bom professor vai atrás de referenciais que fundamentem seu
trabalho. Ele tem que saber estudar”, afirma Cisele Ortiz, coordenadora adjunta
do Instituto Avisa Lá.
Estando
antenado, o docente conseguirá avaliar seu próprio modo de lecionar. “Uma das
características de um bom professor é justamente analisar sua prática de modo
crítico”, destaca a doutora em Educação Lisbeth Cordani.
Compromisso com a aprendizagem
Administrar
todos e cada um dos alunos de uma mesma turma mostra que o professor tem
comprometimento com aprendizado da criança. “O docente deve saber que é direito
da criança ter acesso à Educação de qualidade. Isso está na base de tudo –
inclusive de seu trabalho”, diz Luciana França Leme, pedagoga e pesquisadora em
Educação da Universidade de São Paulo (USP).
É preciso
compreender a diversidade presente na sala de aula por meio de uma visão humana
dos diferentes perfis de estudante. “Reconhecer e respeitar as diferenças
sociais, culturais, étnicas e raciais é muito importante. Existem grupos de
crianças historicamente excluídas que estão no sistema de ensino agora – e a
escola, por excelência, é onde todos as diferenças se encontram”, define Elba
de Sá Barreto, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas.
Demonstrar
interesse por ouvir os alunos ajuda a ganhar a confiança deles além criar
vínculos. “Gostar de crianças e adolescentes é gostar dos alunos. É preciso
gostar do sujeito”, afirma Carlos Artexes Simões, professor do Centro Federal
de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet-RJ).
Formação cultural
O bom
professor também deve estar sempre atualizado, informado e interessado,
buscando cultura e novos conhecimentos. “É aquilo a que chamamos de visão de
mundo. O docente deve ser um sujeito engajado na sua realidade, com uma postura
crítica e de vontade de conhecer cada vez mais os bens culturais disponíveis”,
sintetiza Ricardo Martins, consultor legislativo da Câmara dos Deputados na
área de Educação.
“Entender o
valor do conhecimento na vida de todos nós é essencial, nos transforma – e isso
ninguém tira da gente”, afirma Regina Scarpa, consultora pedagógica da Fundação
Victor Civita. “Ser professor, portanto, é desempenhar uma função social, de
muita responsabilidade.”
Conhecer o
território, o que inclui compreender o perfil da comunidade do entorno da
escola também é importante para lidar com os estudantes que a frequentam. “Um
olhar focado, atento e sem preconceitos para a realidade que cerca a unidade de
ensino ajuda o docente a saber quais as melhores estratégias para lecionar para
esses alunos”, afirma Anna Helena Altenfelder, do Cenpec.
Gestão
Um docente
comprometido com seu trabalho também tem uma visão ampla de como funciona o
sistema de ensino. “O professor deve ter conhecimento de como a sua escola se
insere nesse sistema justamente para saber quais demandas a unidade de ensino
deve atender”, destaca Elba de Sá Barreto, pesquisadora da Fundação Carlos
Chagas. “Ele não pode ser considerado um assistente social, mas também não deve
estar indiferente a certas necessidades básicas e condições de vida das
crianças – mesmo porque tudo isso impacta no aprendizado.”
Saber
trabalhar em equipe também aparece como um aspecto relevante no trabalho do
professor, o que inclui estabelecer parcerias com outros professores, coordenadores
e com o diretor. “Mas isso também vale para a relação com os alunos, já que o
docente deve saber trabalhar com o coletivo de crianças e adolescentes todos os
dias”, ressalta Gisela Wajskop, diretora geral acadêmica do Instituto
Singularidades.
Avaliação
Saber usar e
lidar com avaliações de diferentes tipos é imprescindível, são “termômetros” do
aprendizado da turma. Os especialistas destacam que o bom professor deve saber
quais as melhores ferramentas para analisar o desempenho de sua turma tanto interna
quanto externamente, o que inclui saber ler e utilizar os dados das avaliações
em larga escala como a Provinha e a Prova Brasil.
“O professor
deve saber articular esses dados, fazendo as informações que ele tem de sua
turma conversarem com aquelas que as provas externas revelam”, explica Luciana
França Leme, pedagoga da USP. “Isso serve até para ele fazer sua
autoavaliação.”
Todos Pela Educação
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