Há inúmeros
caminhos para transformar a Educação. Porém, nem todos são fáceis, nem agradam
a todo mundo. Depois de renovar o Ensino da Inglaterra com medidas polêmicas –
como o fechamento das Escolas com desempenho ruim –, desde 2011 sir Michael
Barber é Conselheiro Educacional Chefe da Pearson, uma das maiores empresas de
Educação do mundo, com atuação em mais de 60 países. Hoje, o ex-assessor direto
de Tony Blair trabalha com desenvolvimento de produtos e serviços, com foco em
economias emergentes. Caso do Brasil, que já foi tema de estudos do
especialista, também Professor das universidades de Harvard e Londres.
Confira na
entrevista a seguir (feita por e-mail), a avaliação que Barber faz da Educação
brasileira.
Zero Hora –
Quais foram os pontos fracos encontrados nas Escolas britânicas? Eles também
existem em outras Escolas do mundo? Michael
Barber – A maior fragilidade das Escolas britânicas é a variação de
orçamento. Muitas crianças de origem pobre não progridem o suficiente. E, sim,
esse problema é encontrado, entre outros, em países como a Austrália e também
nos Estados Unidos.
ZH – Quais as
ações necessárias para melhorar a Educação? Como estudantes e Professores podem
se envolver nisso? Barber – Os três
passos mais importantes são: estabelecer patamares claros dos conteúdos que as
crianças devem aprender, mensurar o progresso Escolar, no nível local e global,
e assegurar, por meio do recrutamento e do desenvolvimento profissional, que os
Professores possuam as habilidades necessárias para educar.
ZH – A
democracia brasileira é considerada consolidada, ainda que jovem. Que desafios
o país deve enfrentar para que as políticas de Educação perdurem em diferentes
administrações? Barber – As maneiras
mais importantes de assegurar a continuidade são, primeiramente, alavancar
apoio para mudanças através de empresas e líderes comunitários e, em um segundo
momento, solucionar os problemas em sua raiz, para que as pessoas dentro e fora
do sistema educacional possam ver e sentir o sucesso das mudanças.
ZH – No
Brasil, boa parte dos programas nacionais de avaliação do Ensino são aplicados
pelo governo. Nós deveríamos começar a trabalhar com agências independentes,
como ONGs? Barber – Desde que os
sistemas de avaliação sejam robustos e livres de influência política, não há
problema que o governo os aplique. Muitos países criam agências independentes
do Ministério da Educação, para implementar avaliações que sejam independentes
e seguras. Organizações sem fins lucrativos, como o excelente Pratham, com atuação
na Índia, também podem contribuir, ainda que às vezes elas tenham seus próprios
interesses.
ZH – Hoje 5,1%
do Produto Interno Bruto do Brasil vai para Educação, enquanto algumas
entidades tentam dobrar essa taxa. Há um percentual ideal do PIB que deva ser
destinado para a Educação. O Brasil está longe deste número? Barber – Não existe uma porcentagem
ideal. O mais importante é investir bem o dinheiro. De maneira geral, governos
em todo o mundo estão gastando mais nas Escolas, mas frequentemente reduzindo o
subsídio para o Ensino Superior. Indivíduos e companhias também estão gastando
mais, então um aumento no percentual do PIB é equivalente. O Brasil está
aumentando o investimento em Educação de maneira muito rápida, o que pode ser
um risco para a qualidade. Nesse caso, uma boa gestão é essencial.
ZH – O senhor
já afirmou em entrevistas que o Brasil tem boas iniciativas em Educação, ainda
que elas sejam isoladas. O que esses projetos têm em comum? Barber – A liderança em nível estadual,
como em Minas Gerais, por exemplo, é uma condição necessária para o sucesso. No
Ensino Superior, certas organizações privadas têm tentado inovar radicalmente,
e, quando elas obtêm sucesso, isso desperta o interesse de outros Estados. Por
exemplo, a Universidade Anhanguera tem uma abordagem inovadora para o Ensino a
distância de baixo custo, com um modelo de distribuição mais espraiado.
ZH –
Considerando a alta diversidade do Brasil, quais problemas deveriam ser de
responsabilidade do governo federal e quais deveriam ser preocupação dos
Estados e municípios? Barber –
Infelizmente, não existe uma resposta exata para essa pergunta. O sucesso na
Educação básica, definitivamente, depende do Estado. O governo federal deveria
definir parâmetros nacionais, criar metas nacionais, expectativas alcançáveis e
utilizar sua crescente capacidade de financiamento para garantir um maior
equilíbrio.
Fonte: Zero Hora (RS)
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