quinta-feira, 17 de março de 2011

Professor: espécie em extinção?

Recentemente, segundo me disseram, foi fechada a última escola de datilografia de São Paulo. Quem não se lembra das famosas enciclopédias que ilustravam as bibliotecas de nossos pais? Hoje, transformou-se tudo em CD ou máquinas de busca (Yahoo e Google). O disco de vinil e o fax já são peças de antiguidade. Uma das maiores livrarias do mundo é virtual e se chama Amazon.com.
No ano passado, o Inep (Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais) realizou um estudo que projetou a carência de 250 mil professores da quinta à oitava série do ensino fundamental e de todo o ensino médio no Brasil.
Ainda segundo o Inep, nos últimos 12 anos, apenas 457 mil professores se formaram em cursos de licenciatura. Para uma demanda de 235 mil professores no ensino médio e 476 mil nas turmas de quinta à oitava série.
O que aconteceu com os futuros professores? Sumiram? O pessoal não quer mais ensinar? Entre as possíveis explicações, encontram-se duas mais prováveis. A primeira, respalda-se no explosivo crescimento de alunos matriculados nos ensinos fundamental e médio. Apenas neste último, o crescimento anual saltou de 545,3 mil, em 1985, para 1,7 milhão, em 2002.
A outra explicação para a falta de educadores está no fato, muito preocupante, de que os demais mercados de trabalho oferecem oportunidades muito mais estimulantes, e não apenas no aspecto financeiro. Com o conhecimento se transformando na moeda mais desejada pelo mercado, muitos futuros professores abandonam seus planos originais e encontram (ou são encontrados por) ofertas nunca imaginadas em outras paragens. Para se ter uma ideia, o mercado financeiro vem recrutando estudantes recém-formados nos cursos de Matemática e Ciências.
Além disso, outro estudo da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) informa que metade dos professores brasileiros que estão trabalhando tem entre 40 e 59 anos. O quadro pintado sobre o futuro da educação é bem claro: os professores caminham para a extinção.
A tendência pode ser invertida? Acredito que sim. Como a equiparação salarial com as demais profissões ainda vai demorar para acontecer, ou seja, o aspecto financeiro continuará a ser um fator desestimulante, algumas soluções inteligentes e enriquecedoras para as escolas e seus alunos podem ser adotadas. Talvez, até permitam que profissionais não oriundos exclusivamente da licenciatura sejam fundamentais.
Vem dos Estados Unidos um exemplo que muito me chamou a atenção. O sistema educacional público americano resolveu “arrancar” mentes brilhantes e inovadoras dos mais diversos campos de atividade: finanças, advocacia, engenharia, marketing, fotografia, medicina. Teve gente até da Marinha!
O objetivo principal dessa estratégia é a melhoria da qualidade do ensino. É uma tentativa de “importar” as formalidades e o pragmatismo do mundo corporativo, entre outras práticas.
Outro detalhe que se destaca nessa nova forma de recrutamento de professores é a busca por pessoas idealistas – e esse é o ponto que mais me chamou a atenção. O sistema de ensino público norte-americano procura pessoas que entendam a educação como uma forma de buscar uma sociedade melhor. Muitos dos candidatos que se alistaram e conseguiram uma vaga trocaram carreiras promissoras e, claro, com melhores salários, por esse ideal. Lá, nas terras do tio Sam, a média salarial de um professor não é lá grande coisa. Está bem abaixo de muitas outras profissões, mas também não é tão cruel quanto a realidade tupiniquim. Fica entre 31 mil e 40 mil dólares anuais (um advogado recém-formado em uma boa universidade americana recebe pelo menos o dobro disso).
Acredite, caro leitor, a demanda pelas vagas oferecidas foi muito grande. Muitos profissionais de sucesso que estavam a repensar suas vidas se apresentaram. Já não buscavam somente a satisfação financeira. Queriam algo mais. Queriam poder participar e, de certa forma, influenciar na educação dos jovens de seu País. Queriam ajudar na formação de novos cidadãos.
Sinceramente, acredito que existam muitos brasileiros loucos para ensinar e melhorar este País. Muitos deles não são, necessariamente, professores, mas têm muito oferecer.
Júlio Clebsch, maio de 2003.

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