quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Prazer na leitura

O diagnóstico do persistente distanciamento entre a cultura escrita e os brasileiros vem de diferentes fontes recentes. O Índice de Desenvolvimento da Educação básica (Ideb) indica que as habilidades de leitura e escrita, em algumas faixas etárias, estão muito aquém do desejado. O Índice Nacional de Alfabetização Funcional mostra o elevado grau desse tipo de Analfabetismo entre os brasileiros. E o relatório Retratos da Leitura no Brasil revela o baixo percentual de leitores e o assustador desinteresse pela leitura. As informações desses estudos apontam para uma mesma direção: a urgência de colocar no topo da agenda social brasileira o incentivo às práticas de leitura.
Pode-se pensar que já exista atenção dedicada ao tema, na medida em que se amplia o número de bibliotecas. Também há notícias de compra e distribuição de obras literárias nas redes de Ensino. Mas esse é apenas o primeiro passo de um desafio que é bem mais complexo e envolve políticas públicas que olhem para os livros, mas antes levem em consideração os processos de formação de leitores.
Revelador é o relatório Retratos da Leitura no Brasil, publicado pelo Instituto Pró-Livro e pelo Ibope Inteligência. O estudo mostra que a leitura não está fortemente associada a algo interessante ou prazeroso e, entre os que estão lendo menos que antes, 78% alegaram motivos relacionados à falta de interesse. Outro dado significativo é que 45% dos entrevistados entre os leitores que gostam de ler atribuíram ao Professor ou Professora o papel de maior estimulador da leitura - um pouco à frente até mesmo da mãe e muito acima do pai. Esses resultados nos levam ao coração deste tema tão complexo: o papel da Escola em formar leitores para além da Alfabetização.
O primeiro passo é repensar a formação do Professor, para que seja possível despertar nele um interesse genuíno pela leitura. O gosto tem um indiscutível componente de descoberta, de prazer, de experiência de livre pensar, que não é alcançado se a leitura for vista apenas como uma tarefa imposta. Por isso, tantos estudos enfatizam a importância da leitura de literatura, pelo caráter de liberdade que ela contém.
O prazer pela leitura não se ensina como uma lição convencional. É necessário um conjunto de políticas continuadas que garantam ao Professor o acompanhamento na sua trajetória de leitor, tempo para leitura, acesso ao livro, e que ele seja sensibilizado para o papel que desempenha de transmissor do gosto pela leitura.
Há iniciativas que apontam nessa direção. A Colômbia tem obtido vitórias no tema da formação de leitores, com um novo olhar para as bibliotecas. A experiência colombiana mostra que, para desenvolver o gosto pela leitura, é preciso restituí-la como prática social significativa, recuperar seu papel como uma inigualável experiência simbólica, que amplia a visão de mundo, produz cultura e nos torna mais capazes de compreender a condição humana.
Fonte: O Globo (RJ)

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