domingo, 27 de fevereiro de 2011

Até quando?

Domingo, de manhã. Depois de uma semana de trabalho, ponho-me a rever os conteúdos dados, planejo as minhas próximas aulas e começo a corrigir um teste que apliquei em minhas quatro turmas de 7º ano. Por saber que é cultura só “iniciar” as aulas depois do carnaval, durante as duas semanas que o antecedem poucos alunos frequentam a escola, pois já sabem que o “bicho só começa a pegar depois da folia”.
Foram duas semanas de muita conversa e revisão de conteúdos, coisa light. Expliquei, exemplificando, o que é um substantivo, um adjetivo, um artigo, um pronome, um verbo, e o advérbio. Pareciam aquelas aulas dos sonhos, em que todos participam com gosto, até porque estamos em fase de “namoro”. Eu me empolgo e alimento a ideia de que a Educação tem solução, ou seja, “eu sou um exemplo vivo de que a coisa pode dar certo!”
Mas, basta iniciar a correção do simples teste, daqueles que você professor considera “moleza”, feito com consulta e levado pra casa para ser entregue no dia seguinte, para que um sentimento de vazio, de incompetência, se apodere de mim. Parece que os alunos que fizeram a atividade não foram os mesmos que participaram ativamente das aulas! O melhor resultado foi 30% de acertos!
O que será que aconteceu, meu Deus? Onde se encontra a causa do problema? Com eles? Que são incompetentes para responder a questões básicas, conteúdos de séries iniciais? Comigo? Que não consigo fazer com que simples conteúdos sejam fixados por eles? Com a escola? Com a Secretaria de Educação? Com o MEC?
Socorro! Como é difícil essa nossa caminhada! Paro de corrigir os testes, senão daqui a pouco precisarei colocar um isordil sob a língua. Já me encontro totalmente alterado! Parece que a minha boa manhã acabou ali. Voltar à sala de aula? Pra quê? Para ter que falar durante horas e horas e nada ser aproveitado!
 A solução é escrever. E à proporção que o papel vai aceitando passivamente a minha indignação e a catarse vai se fazendo, vou desacelerando os batimentos cardíacos, respirando mais devagar, me acalmando...
Lembrando Camões: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. E é essa subjetividade que permeia a Educação. A Educação é um processo, repito incansavelmente pra mim, e não devo esperar resultados em curto prazo. Viu? Assim é o professor! Já estou mais compreensivo, mais brando para recomeçar amanhã, segunda-feira, pois vou ter que encarar uma galera que não quer nada com os estudos, enquanto eu preciso continuar acreditando... até quando?
 Prof. Erivelton R. Almeida

6 comentários:

  1. Bem, acho que uma análise que abarque e responda todos os questionamentos é profunda demais, mas ouso levantar algumas questões:
    1- Para quê estudar? Nosso país não é exatamente daqueles que valorizam a educação. A ignorância é estimulada em todos os lugares da letra do funk à impunidade do político corrupto;
    2- Nossos alunos sofrem de um abandono muito grave: o abandono moral. Lembra da nossa época de estudantes, que se não estudássemos éramos cobrados, privados de várias coisas? Isto acabou. Já cansei de presenciar pais que chegam na escola sem saber a série, quanto mais a turma que o filho está.
    3- O aluno sabe que sempre pode jogar para frente, pois as chances de "passar de ano" são muitas.
    4- Há a visão distorcida, ainda, de que "passar de ano" e receber o bolsa escola é o que interessa. Aprender para quê?

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  2. E é por isso a pergunta que dá nome ao nosso blog: Escola Pra Quê?
    Obrigado, Silvia, por compartilhar de nossa angústia!

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  3. Muito tristes estas opiniões e ponderações. Dizer que não são verdades seria hipocrisia. Sou tomada por um profunda tristeza. Tristeza de quem viveu a sala de aula durante 31 anos, tristeza de quem ainda acredita na educação, tristeza de quem vê o mundo travestido de tantas lamúrias e tristezas.
    Sabem, ainda penso que tudo pode mudar, é preciso lutar pelos menos nas 4 paredes de nossas salas de aulas, lutar e salvar neste universo alguns poucos indivíduos que vêem na educação a saída para tantas mazelas. Talvez isso responda "Escola pra quê?"
    Abços
    Maria Lúcia

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  4. Cara Malu, concordo! Se ainda há um lugar em que podemos fazer a diferença, este lugar chama-se SALA DE AULA! Mas viver a escola pública tem sido um desafio constante, e se ainda me angustio é porque ainda me incomoda a falta de resultados que espero (e posso) alcançar. O dia em que eu ficar indiferente a tudo que me rodeia, está na hora de fazer as malas e partir pra outra. Mas por enquanto...

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  5. Passei por este 'post' algumas vezes.

    O li . . . re-li . . . refleti sobre o mesmo . . . refletiu-me . . . por fim, desatei-me a pensar.

    Pensei sobre várias situações que se referem a prática docente. Vaguei por horas entre pensamentos bons e ruins. Quis falar sobre tantos episódios . . . lembrei-me de alguns casos. No entanto, preferi o silêncio efêmero. Ah, penso que é melhor deixar de lado tudo que nos traz 'negatividade'. Guardei na memória boas lembranças então. Por ora, sinto-me à vontade para postar um comentário acerca da discussão levantada.

    Bem, sei (e anseio) que, como fruto do meu incansável labor e do de tantos colegas de profissão (aqueles ainda comprometidos com as causas da Educação), muitos de nossos alunos serão capazes de acessar um ambiente virtual como este, receber informações (especialmente, em um tempo no qual o conhecimento parece se tornar um 'bem' tão perecível)sem que tenham que aceitá-las de forma passiva. Ora, é sabido que vivemos em uma Era na qual é preciso ter habilidade com o manuseio da informação. Isto, requer entre outras coisas, analisar criticamente pacotes e mais pacotes de informações que recebemos diariamente e fazer uso adequado destes. Então, surge a pergunta: Estariam os nossos educandos, de fato, preparados para tal feito?

    Ponho-me a pensar novamente . . .

    "[...] O pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar. [...]"

    Se penso, logo ensino! Sendo assim, quero fazer de minhas inquietações pontes que me favoreçam travessias por onde minha condição de educador (por Amor à profissão) leva-me a acreditar que há Luz no Fim do Túnel.

    Mantenho-me a pensar . . . E aí, vem a tão esperada pergunta: ESCOLA PRA QUÊ?

    A primeira coisa que me vem à cabeça?? Bem, 'FAZER OS ALUNOS PENSAREM!'

    "Pensar é aprender a ser livre, responsável e honrado. Pensar é esforço e inconformismo, para com o mundo e também para consigo mesmo. Pensar é duvidar e criticar, não de forma altaneira ou presunçosa, senão por desejo do bem comum. Pensar é ter o tempo de poder fazê-lo. Pensar não é repetir ou reproduzir. Pensar é ativar o que de nobre há no ser humano, porque pensar é também sentir e intuir". _ O café dos filósofos mortos. Nora K. e Vittorio Hösle. Anaya. Madrid, 1998, p.9.

    Forte Abraço =]
    Carlos Fabiano

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