sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Churrasquinho, Pós-modernidade e Big Brother

Por Rogério Carvalho (*)

Depois de um dia inteiro de trabalho ministrando duas oficinas pedagógicas com o tema “A Ressignificação do Fazer Escolar” e de ouvir em uma palestra espiritualista que a Terra está deixando de ser um planeta de provas e expiações, fui com a família comer um tradicional churrasquinho da cidade. O corpo cansado, a mente em constante desaceleração e aquela confortável sensação “o dia acabou”. Não havia acabado!!

Na TV, começava o Big Brother e logo uma animada discussão tomou conta da mesa ao lado da nossa. Os participantes do lamentável e rasteiro debate, todos em média com uns vinte e cinco anos (creio que mal vividos) se antagonizavam ao revelar os seus favoritos ao prêmio. Fregueses de outra mesa entraram na contenda revelando detalhes da vida de ex-bbbs, tecendo comparações, entre atuais e antigos, revelando enfim uma grande facilidade para a retenção de cultura inútil. Tentei me abstrair, elevar meu pensamento, mas foi em vão, me rendi à indignação! Comentei com meus botões que o Brasil é o “país do futuro” e constatei que precisava reagir escrevendo.

O programa em si não me agride no alto dos meus 39 anos. Nada contra a apelativa exibição da mulherada seminua, dos saradões ocos, dos flertes envolvendo os mais variados arranjos sexuais que a Globo insiste em legitimar pela necessidade que o seu staff possui de legislar em causa própria. Pô! Vivi os anos 80! Sou professor de História! Sou cabeça! O que tem me apavorado é a comoção da população brasileira em sua ampla estratificação social! O que me apavora, é a massificação do banal e a constatação de que os pensadores do fenômeno “Pós-modernidade” estão corretos!

O historiador inglês Perry Anderson um dia escreveu que a Modernidade era caracterizada pelas imagens das máquinas e que a Pós-modernidade, fenômeno global que hoje vivenciamos, pelas máquinas de imagem. Vivemos então, a era da exibição do que antes fazíamos questão que fosse privado. A moda hoje é devassar a vida alheia com qualidade digital e em escala global (sem trocadilhos)!

Entendo que neste mundo cão as empresas precisam sobreviver. Que na propaganda e na guerra vale tudo. Que as emissoras vivem do Ibope e que se os canais educativos não sacaram que o segredo é baixaria, intriga e putaria, problema é deles! Não compreendo é esta adesão, o burburinho da urbe e o consentimento inebriado de um povo que possui sim opção.

Será que o simulacro de Baudrillard é real? Que a cultura sucumbiu à sedução das  imagens, do movimento e desta realidade “matrix” regurgitada pela sociedade de consumo?

Pode ser que a explicação para o sucesso desse lamentável espetáculo esteja na concepção junguiana da projeção, fenômeno através do qual materializaríamos no exterior nossa subjetividade. Vá saber!!! Pode ser que esta massa mistificada projete na “casa”, neste ou naquele participante, a idealização de algo que se gostaria de ser, possuir ou destruir.

Por fim, não sou de iniciar movimentos de engajamento, nem mesmo de aderir aos mesmos. Estas palavras podem ser consideradas a manifestação de uma ingênua indignação diante de tantas incertezas estruturais e de causas perdidas.

Is this real life? Haverá vida inteligente após o Big Brother? Quais serão os próximos valores indicados ao paredão?

(*) Professor de História e recente devoto de São Judas Tadeu

Um comentário:

  1. Felizmente, nossos alunos são fãs do programa... FELIZMENTE??? COMO ASSIM????
    É que aí surge a oportunidade de contestarmos não só o tal programa, mas tudo que há por trás dele.
    Surte efeito? Afinal, são algumas horas semanais contra todo um contexto familiar e cultural.
    Bem, pensar tiveram que pensar. Tiveram uma perspectiva diferente do senso comum sobre os meios de comunicação. Agora, o que fazem com a informação, é com cada um. Afinal, eu não vejo o tal programa. Na realidade, tenho aproveitado bastante o meu tempo não vendo novela, lendo neste período. Mas, tenho colegas de profissão que adoram o programa, inlcusive discutindo sobre o assunto na sala dos professores...

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