sábado, 27 de outubro de 2012

A solução está na Educação?

Estudei toda minha Educação básica numa Escola pública chamada Camilo Dias. Lembro-me com saudades de minha primeira Professora. Fecho os olhos e a vejo caminhando pela sala, apresentando a “família da Casinha Feliz”. E tantos outros Professores passaram por minha vida, me marcaram e contribuíram para a minha formação. Liderei um jornalzinho estudantil. Fiz, ao lado de meus colegas, denúncias e abusos de Professores. Questionávamos a situação. Buscávamos melhorias e acreditávamos em mudanças positivas. Recordo-me que havia uma forte necessidade de darmos nossa parcela de contribuição para tais mudanças que, quem sabe, revolucionasse nacionalmente a maneira de pensar e agir dos jovens daquela década de 90.
Não passei por palmatórias, castigos em caroços de milho ou coisa parecida, e sempre houve respeito pelos Professores. Não éramos obrigados a amar a todos do mesmo modo, mas nunca esquecíamos quem era a autoridade na sala de aula. Sou Professora. Vivencio o que meus Professores vivenciaram, mas há muita coisa diferente. Percebo que o respeito já quase não existe mais. A postura dos Alunos mudou de forma negativa e, infelizmente, a do Professor também. Presencio condutas de colegas totalmente às avessas do que seria óbvio no processo de educar.
Muitos Professores chegam à sala de aula desestimulados, descompromissados e alheios ao seu valoroso papel. Por outro lado, os Alunos, ignorados pelos pais, ou pela ausência deles, acreditam que a Escola é o complemento do lar, onde se pode fazer tudo o que se quer. Assim, se origina o caos e a descrença de que pode haver um Brasil melhor. O grande mestre, Paulo Freire, disse que “Ninguém nega o valor da Educação e que um bom Professor é imprescindível. Mas, ainda que desejem bons Professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus filhos sejam Professores. Isso nos mostra o reconhecimento que o trabalho de educar é duro, difícil e necessário, mas que permitimos que esses profissionais continuem sendo desvalorizados”.
Há um trabalho árduo mental e físico. Disso, ninguém pode negar, mas, também não podemos negar que muitos de nós ainda ocupamos o cargo e o encaramos como “bico” e, assim, não é possível enxergar o humano que há no Aluno. Então, quase que viramos máquinas e despencamos no processo. Apesar de, lamentavelmente, concordar com Freire, bem sei que um grande fator impede que desejemos esta profissão a alguém: o conceito de Educar ficou delegado somente à instituição Escolar. E a família, onde se encaixa? Praticamente deixou de existir. Alunos chegam à Escola sem saber sua origem, sem identificar autoridade de pai e mãe, sem saber como conceituar o vocábulo Família. Aí, palavras gentis como: por favor, com licença e obrigado vão sumindo e, por conta disso, a relação Professor x Aluno vai ficando cada vez mais gasta e vazia. É necessário que façamos uma reflexão a respeito de nossa postura em sala de aula. Cabe-nos reverter esta apocalíptica situação a nosso favor.
Sofremos pressão de todos os lados por conta das falhas traiçoeiras do nosso Sistema e já passamos da época de reproduzir clichês atribuindo a ele toda culpa: na sala dos Professores- “Falta de material didático? A culpa é do Sistema!” Nos corredores das Escolas- “Salas superlotadas? A culpa é do Sistema!” Não nego que realmente convivemos com um Sistema que pouco se preocupa com a formação crítica do indivíduo e, consequentemente, faz pouco caso da realidade da Educação neste país, mas, se optamos por seguir este caminho, devemos fazê-lo com sabedoria e força de vontade de que as coisas realmente mudem e para melhor. Isso nos compete. É nosso dever romper este ciclo vicioso.
Dizem que o Professor não conhece seu valor. Eu acredito que muitos de nós desconhecemos o nosso papel vital para a engrenagem da humanidade. Este fator faz a diferença. Queremos mudanças, mas ainda alimentamos nosso troll da ignorância paternalista quando ajudamos a eleger estreantes ou veteranos gananciosos e egoístas que dificilmente estarão interessados em contribuir para uma sociedade melhor. E repetimos que “o povo tem o governo que merece!”
Educadores de meu Estado, bem sei de nossa batalha diária. Ela é árdua, mas, acreditem: ela será satisfatória todas as vezes que você sentir que valeu a pena. Todo esforço é digno quando se vê o resultado final. Sempre quando inicia o ano, faço votos de que eu fique representando para meus Alunos aquilo que meus Professores me representaram: Educação, amizade, compromisso e simpatia. Tudo isso guardado em doces lembranças. Que possamos utilizar o dia 15 de outubro, para refletirmos sobre nossa postura e que possamos modificar o nosso meio de tal modo que seja percebido, não nos números das notas bimestrais, mas nas atitudes transformadoras e inconformadas com a realidade que vivemos. Aí sim, estaremos, de fato, reconhecendo nosso papel e nosso valor. Não é necessário estocarem maçãs em nossas mesas, mas seria muito engrandecedor se os Alunos também reconhecessem a nossa importância singular nessa "ponte" que leva ao Conhecimento. Feliz dia do Educador a todos e, em especial, a os Educadores de minhas doces lembranças.
Suzana Mouta Rodrigues de Lemos, professora, in: Folha de Boa Vista (RR)

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