sábado, 13 de outubro de 2012

Avaliação de professores ajuda a corrigir falhas

Os indicadores educacionais usam hoje, principalmente, o desempenho dos estudantes para medir a qualidade do Ensino no Brasil. Porém, outro método também pode ser eficaz e produzir resultado em menos tempo: a avaliação do Professor pelo Aluno. Embora apresente algumas limitações e seja feita pela própria Escola, a metodologia é considerada por especialistas como uma alternativa para controlar a qualidade, tanto no Ensino médio quanto no fundamental.
A ideia é que – em até dois momentos por ano – os estudantes respondam sobre o desempenho do Professor em sala e o resultado seja usado pela Escola para desenvolver cursos e atividades que ajudem os Docentes em seus pontos fracos.
No Ensino médio da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), estudantes avaliam seus Professores há mais de 25 anos. A cada final de semestre eles podem apontar falhas e qualidades dos mestres. Embora a avaliação não seja obrigatória, cerca de 60% dos estudantes participam.
A chefe do departamento de Educação da pró-reitoria de Graduação da UTFPR, Sônia Ana Leszczynsky, explica que os Professores são os primeiros a saberem o resultado. Conforme os problemas e defeitos apontados, a instituição organiza oficinas para contornar falhas pontuais em pouco tempo. “Cada Professor tem uma nota geral que mede seu trabalho como um todo. Essa nota é composta, além dessa avaliação, pela produção acadêmica e pela pesquisa que desenvolve na instituição”, explica.
Na rede privada, essa forma de avaliação é quase obrigatória, já que o resultado, somado a outras consultas institucionais, serve como parâmetro para o controle de mercado. Entretanto, na rede pública do Paraná, o teste de qualidade é praticamente inexistente.
Para driblar esse cenário, a Escola Estadual Emílio de Menezes, no bairro Capão Raso, em Curitiba, criou um método interessante para dar voz aos Alunos. Todo fim de ano, durante o conselho de classe, os representantes de cada turma podem comparecer e falar diretamente a cada Professor como os estudantes avaliam seu trabalho. “Essa participação acontece há mais de seis anos, mas fomos modificando ao longo do tempo. Esse processo contribui muito para a melhoria do nosso Ensino”, diz o diretor Nilson Alves da Silva. 

Maturidade
O que mais preocupa as Escolas e os Professores em relação a esse tipo de avaliação é a maturidade dos Alunos. Nem sempre é fácil conseguir que eles respondam sobre o desempenho do Docente sem serem parciais, elogiando apenas um Professor divertido e engraçado ou reclamando daquele que, embora ótimo profissional, é mais rígido ou sério.
Por isso, as Escolas que fazem essas avaliações costumam preparar as turmas com antecedência. Pedagogos e coordenadores explicam para todos os Alunos como o processo funciona, o que é importante levar em consideração e os efeitos que os resultados têm para a sua formação. Segundo a pedagoga e Professora da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) Maria Cristina Elias Estival, mesmo os estudantes mais novos têm capacidade para avaliar um Professor. 

Eficácia depende de aceitação do Docente
Além das dificuldades a serem dribladas em busca de uma avaliação eficiente, que leve o Aluno a responder da forma mais sincera possível e sem brincadeiras, existe outro fator que pode interferir no resultado: o próprio Docente. Afinal, é o Professor que terá de mudar seu desempenho para que o sistema de Ensino da Escola evolua.
O primeiro passo é ele entender e aceitar os resultados, sem levar mágoa ou raiva para a sala de aula em caso de críticas. Foi por meio de uma avaliação dessas que o Professor Carlos Denaide, do curso técnico em Mecânica da UTFPR, percebeu que não estava dando o mesmo tratamento a todos os Alunos. Em uma consulta, um estudante mais tímido reclamou que ele o deixava de lado, sem dar atenção aos seus trabalhos práticos. “Fiquei chateado com isso, pois gosto de ser justo com todos. Assim que soube, mudei de comportamento e entendi que realmente era falha minha.”
No caso de Denaide, a avaliação é feita pelo site da instituição e preenchida pelos próprios Alunos. Quando os estudantes são mais novos – nos primeiros anos do Ensino fundamental –, os pais costumam responder às perguntas e o Professor pode, em certo ponto, sentir-se injustiçado, pois não são os pais que acompanham as suas aulas.
Com 25 anos de profissão, a Professora do 5.º ano do Colégio Expoente Ipema Marly Ribeiro acredita, porém, que a avaliação dos pais é mais eficaz ainda, pois é em casa que a criança vai demonstrar que não está aprendendo bem ou que está descontente com algum comportamento do Professor. “O resultado de uma avaliação feita pelos pais também é válida e eficiente, até porque nesses casos outros fatores serão levados em conta”, comenta.
Os outros fatores são, na grande maioria das Escolas privadas, estrutura física, material didático, atividades extracurriculares e até o serviço de outros funcionários. No Expoente, embora uma boa avaliação não resulte diretamente em aumento de salário, o Professor bem avaliado costuma a ser convidado para dar aulas em mais turmas ou até a sair do Ensino fundamental para dar aulas no médio ou no pré-vestibular.

Sucesso
Nos EUA, resultado de pesquisa interfere na remuneração. As Escolas americanas são um exemplo de sucesso do uso de avaliações de Professores para melhorar a qualidade do Ensino. Um projeto piloto do Distrito de Colúmbia aplicou, em 2011, um teste em seis Escolas e os resultados mostraram que ele foi mais eficiente do qualquer outra ação feita com o mesmo objetivo. Lá, Alunos de todas as idades podem responder a perguntas e contribuir para a melhoria do Ensino. Diferentemente do Brasil, nos Estados Unidos as avaliações afetam diretamente os cargos e as remunerações dos Docentes. Contudo, nos dois países, especialistas consideram que o processo só é eficaz se Escola e Professores aceitarem mudar o método de Ensino se forem mal avaliados. "Existe uma Escola em Portugal onde são os Alunos que dão um norte para o Professor. Ou seja, eles que apontam para que lado deve ir o planejamento, quais atividades estão ou não dando resultado", conta a pedagoga e Professora da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) Maria Cristina Elias Estival. (AS)
Fonte: Gazeta do Povo (PR)

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