quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Política e Educação

Passada a eleição, a poeira ainda tentando se acomodar, os palanques sendo desmontados e a pergunta que não quer se calar: Qual era mesmo o discurso, o plano de governo dos candidatos para a Educação? Certamente o leitor mais atento vai sentir falta de propostas mais concretas para esse setor.
Observamos que os candidatos limitaram-se a mera repetição, que gerou em torno de: “ampliar a Educação infantil; construir Creches, ampliar gradativamente a Escola de tempo integral, expandir o número de Escolas.”. Fomos frustrados ao perceber a inexistência de propostas, planejamentos, metas e ações mais ousadas e criativas para os problemas que ora enfrentamos na Educação. Lendo algumas propostas de governos estaduais e municipais, tivemos a nítida impressão de total consentimento e submissão destes às diretrizes do Banco Mundial (Bird) para políticas educacionais dos países em desenvolvimento.
A mesmice, ou cautela para os mais “prudentes ”, foi sendo exposta, sem constrangimentos e descaradamente o discurso da Educação para o desenvolvimento (re) aparece em cena. Ainda que esse discurso de aliar Educação e desenvolvimento não seja recente, possui no seu âmago o papel ideológico de livrar o sistema capitalista de maiores julgamentos. Destarte, conforme a ótica neoliberal, o sistema educacional tem a função de suscitar a ascensão social, assegurando a "igualdade de oportunidades", “redução da pobreza ” e de outros “milagres” prescritos pelo Bird. No entanto, esse discurso não se sustém, pois o desenvolvimento de uma nação se dá por um conjugado de fatores. Logo, a Educação não pode ser responsabilizada, nem promovida como salvadora da pátria.
Compartilhamos da tese de que não há grandes nações sem boas Escolas, mas o mesmo deve dizer-se da sua economia, da sua política, da organização administrativa-financeira, da saúde, das políticas sociais e de outros tantos elementos tão importantes quanto à Educação para o desenvolvimento da nação. Os Educadores, “alheios” a esse discurso, tomam posse como “salvadores da pátria”, lutam, fracassam e ainda são julgados culpados pela ineficiência do Ensino. O fato é que os Educadores estão fartos dessa alocução desenvolvimentista, que atribui à Escola uma função quase impossível diante das condições que nos são impostas. Sejamos sensatos e, por favor, não hasteiem a bandeira da “ordem e progresso ” no mastro frágil da Educação.
Como esperar o máximo de retorno com o mínimo de investimento? A política da Educação atual é privatista, paternalista, consensualista, intervencionista e refém da política do Bird. O que evidencia o contrassenso entre os ditos “discursos”, as políticas públicas e o ideário macroeconômico. Sinceramente, não dá para se convencer de que as ações previstas pelos futuros governantes, conforme prescritos pelo Bird estejam à altura da ideologia subjacente ao desenvolvimento preconizado e a demandas educativas da sociedade brasileira. Que tal aproveitar esse momento para realinhar o discurso e iniciar outra conversa?
Eunice Nóbrega Portela, pedagoga e mestra em Educação, in: Jornal de Brasília (DF)

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