quarta-feira, 11 de maio de 2011

Coreia, Trinidad e Brasil

Na Ed. 2164, de 04/05/2011, Isto É, o economista Ricardo Amorim apresenta opinião sobre investimento na Educação brasileira. Para ele, assim como na Coreia do Sul, aqui se deveria investir mais nas crianças do que nos idosos. Hoje, conforme Amorim, “para cada R$ 1 de gasto público com crianças, são gastos R$ 10 com idosos”. 
A meu ver, uma ponderação de percentuais orçamentários na análise do economista evitaria a simples escolha de faixas-etárias para aplicação de recursos; todos são cidadãos. Assim, antes da conclusão de Amorim – que vai ao encontro do discurso sistêmico do momento de que é preciso cortar gastos na Previdência – quase tudo paira sobre obviedades.
Destaco: o economista aponta que nossa Educação, no último Program for International Student Assessment, “ficou no 53º lugar entre 65 países, atrás de Trinidad e Tobago” (TT). 
Como em 2005 passei uma temporada de três meses de estudo naquelas duas ilhas caribenhas, que formam o país, confesso: não entendi o espanto. É óbvio que a Educaçãode lá é melhor do que a de cá. Todavia, antes de tudo, o principal motivo não está no fato de TT ter feito opção entre infância (futuro) ou velhice (passado).
Lá, é fácil perceber que os mais velhos, em geral, são bons exemplos aos jovens. Até onde soube, em TT não há políticos que beiram o analfabetismo ou que sabidamente nunca leram um livro sequer. 
Mais: além da indispensável questão orçamentária, há rigor na Educação em TT. Ex.: a variante linguística do inglês “trini” – mistura de inglês britânico, dialetos da Índia, África e China – não faz afrouxar o ensino da língua inglesa padrão. Por aqui, ao contrário, ensinar formalidades da língua portuguesa, instrumento para o aprendizado das outras disciplinas, é visto como postura político-pedagógica conservadora/bancária.
Não é sem motivo, pois, que muitos estudantes brasileiros, principalmente das Escolas públicas – aliás, os mais pobres – chegam semianalfabetos às universidades; isso quando chegam. Pior: não saem tão diferentes. 
Em TT não se vê estudantes, mesmo os adolescentes, perambulando fora de hora. Uniformizados, todos vão e voltam ao mesmo tempo dos colégios. Não é comum crianças trabalharem; tampouco pedindo esmola. No BR, cenas de alunos fora da Escola, ainda que em horário de aula, são corriqueiras. Muitos preferem praças, shoppings e... cemitérios... Drogas? 
Educação em TT tem sabor de conteúdo a ser visto de verdade. Sem maiores problemas, o professor ensina o que sabe; o aluno, sem maiores traumas, busca aprender o que desconhece. Se os docentes de lá não têm receio de dizer que vão ensinar, em contrapartida, muitos dos daqui aprenderam a repetir que vão “aprender com o aluno”.
Por lá não se aderiu a invencionices de acadêmicos irresponsáveis – agentes do sistema travestidos de democráticos – que, por aqui, se alastram como pragas, confundindo a própria lógica. Aqui, além da inversão dos papéis, professores são ridicularizados pelos salários, mesmo se matando de tanto trabalhar; e ainda vivem expostos à violência, dentro e fora da Escola. 
Por isso tudo, numa metáfora futebolística, tão a gosto nacional, a Educação brasileira vive na zona do rebaixamento. Ao contrário do que é dito em propagandas do MEC, nossa Educação não está no rumo certo; aliás, nunca esteve tão errada.
Nossas universidades, “PT-tizadas” e mais serviçais da ideologia do que quando se viveu a ditadura, são corresponsáveis da tragédia. Logo, tudo mais ao futuro, mas nada a menos ao passado. 

Roberto Boaventura da Silva Sá, doutor em Jornalismo/USP e prof. de Literatura da UFMT. Fonte: Diário de Cuiabá (MT)

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