Jaime Pinsky
Nós, brasileiros, discordamos sobre muitas coisas, desde preferências futebolísticas até comida predileta. Mas há uma unanimidade nacional e esta é nossa opinião sobre o que está acontecendo com a Educação.
Todos achamos que ela é importante, que atualmente não é das melhores, que faz parte da infraestrutura que o país precisa melhorar; achamos ainda que um país de analfabetos (reais ou funcionais) nunca conseguirá ganhos duradouros.
Já há vários anos fala-se disso e o Brasil continua oferecendo (com raras exceções, é claro) uma Educação formal de muito má qualidade em todos os níveis, da primeira fase do fundamental (o antigo primário) até o curso superior. Pior: houve nítida perda de qualidade ocorrida com a chamada democratização do ensino. A equação é clara.
Anos atrás, o ensino público tinha qualidade, mas não abrangência e, ao atingir uma faixa mais ampla da população (para além da antiga classe média), perdeu em qualidade.
Se pouco tempo atrás uma afirmação desse tipo encontrava contestadores, atualmente não há ninguém razoavelmente sério, dentro ou fora do governo que negue o fato de que qualidade e quantidade não estão caminhando juntas na Educação brasileira.
Para solucionar a questão, aí sim, parece haver duas linhas de pensamento bastante discordantes. De um lado, os economistas da Educação, de outro os corporativos. Para os primeiros, o problema seria rapidamente resolvido com um choque de gestão.
O ponto de partida deles (é dogma de fé) é que sempre dá para economizar em qualquer empresa bem dirigida. Assim, colocando-se (é claro) economistas e/ou administradores de empresa tocando ministérios e secretarias de Educação, aproveitando-se melhor o dinheiro, a Educação melhoraria muito sem que houvesse necessidade de alocar um orçamento maior.
No outro extremo, aparecem os corporativos, para os quais a solução seria aumentar os salários. Para eles, professores precisam de motivação e motivação é dinheiro vivo, salário no fim do mês e não blá-blá-blá. Já ouvi até argumento segundo o qual a relação do mestre com o seu empregador (mesmo que seja o governo) é baseada na extração da mais valia, o professor é um trabalhador como qualquer outro, e dá-lhe luta de classes em cima.
Nem é necessário dizer que as duas visões, a de economistas e a de coorporativos, embora tenham suas virtudes, pecam por um simplismo franciscano em um assunto que é de uma complexidade tomista.
Se acrescentarmos a essa discussão rasa e inconsequente os interesses políticos envolvidos na Educação (“a Educação é uma excelente forma de se chegar às bases”, me garantia um ex-ministro, “já que por meio dos prefeitos de milhares de cidades o governo ganha enorme capilaridade, poder de barganha e votos”), vemos que não vale a pena manter uma rigidez de supostos princípios.
Minha sugestão é simples: que se aproveitem os próximos meses e se faça uma lista de medidas a serem tomadas no espaço de três anos (2012-2014).
Para isso será necessário haver uma ampla (mas rápida e objetiva, não estamos decidindo o sexo dos anjos) discussão com todos os setores interessados da sociedade; depois, é tratar de implementar medidas que têm se mostrado vencedoras em vários países onde já foram colocadas em prática, sejam elas (as medidas) da Bíblia dos economistas ou do Corão dos corporativos. Ou de nenhum desses livros sagrados.
O Ministério da Educação levaria esse processo para frente (discussão e implementação), com o apoio de secretários estaduais e municipais, assim como dos legislativos.
Um papel importante teria que ser desempenhado pelas universidades (aqui eu falo de universidades com pós-graduação, pesquisa de qualidade, corpo docente estável, publicações originais, etc.), assim como pelas entidades representativas de profissionais ligados às disciplinas básicas do ensino fundamental (associações de matemáticos, linguistas, historiadores e geógrafos, por exemplo).
Entidades ligadas aos editores, gráficos e fabricantes de papel poderiam colaborar (mesmo porque seriam beneficiados com a colocação de milhões de novos leitores no mercado) e sindicatos de professores, nem se fala.
Não é o caso de apresentar aqui a minha receita de bolo (embora eu esteja disposto a discutir o assunto), mas se até países próximos, como o Chile, conseguiram fazer uma revolução educacional não há motivo para que nós não possamos fazê-la. Nossa situação econômica e demográfica é excepcionalmente favorável. Se não agora, quando?
Fonte: Correio Braziliense (DF)
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