Em um dia do ano de 2001 o professor Alfredo Barreto me disse, enquanto conversávamos durante o café no CIEP-458, que eu deveria sofrer de crise existencial em dose dupla pelo fato de ser músico e professor de História. No dia me limitei a sorrir enquanto mastigávamos os biscoitos pedagógicos. Vez ou outra me lembro disso e gostaria de poder dizer ao Alfredo, já falecido , que descobri que a música não me leva a tantos questionamentos transcendentais quanto o magistério.
Na música me realizo pela possibilidade de cantar, num processo de catarse e exorcismo revigorante. Se pintar um cachê melhor. Palmas melhor ainda! Mas o ato de cantar já é um bônus.
No magistério é diferente. Embora o reconhecimento venha, mesmo que timidamente nos sorrisos dos alunos quando nos encontram, nas declarações de afeto, vivo com a sensação de que nunca faço o necessário. Na verdade, nem sei ao certo o que é o necessário, nesta esquizofrenia institucional que as políticas educacionais provocam. Sei que a sensação é de que faço parte de uma grande farsa na qual recebo para desempenhar um papel.
Dezesseis anos de crise, Alfredo. Dezesseis anos renovando meus métodos em uma realidade sem mobilidade e na qual as novidades ficam por conta da mídia. Continuo, procurando novos caminhos, com a certeza permanente de que a minha impermanência é o que me faz continuar.
Agora preciso parar de escrever, o intervalo acabou!
Professor Rogério, músico convicto e professor incerto (Blog História e Coisa e Tal)
Sábias e simples palavras, Primo! Este é o sentimento que também me invade. Somos atores em vez de agentes transformadores; sentimos sede e nos oferecem sal; sentimos fome e nos oferecem pedra. O sistema tem nos transformado em remendões numa colcha apodrecida.
ResponderExcluirAbrçs!
Professor Erivelton, músico de banheiro e dublê de professor (desculpe-me pela paródia! rsrsrs)
Sei muito bem do que ele está falando, pois sou professora de História e também trabalho com música.
ResponderExcluirAgora, façamos também um mea culpa: o que tem de professor do Estado do RJ acreditando que a "nova" política educacional é tudo de bom... e "nova"...