terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Liberdade ou prisão?

por Carlos Fabiano de Souza

 
Refletindo sobre o uso dos termos Grade e Curricular

Há grupos de palavras que causam estranheza no que tange à tradução dos termos isolados. Digo isso porque sempre me causou dúvida a utilização de grade curricular para se referir ao caráter de interdependência e temporalidade entre as disciplinas e atividades do currículo de um curso.
Vejamos o seguinte: o termo grade pressupõe ‘prisão’; remete-nos ao ato de prender o que caracterizaria uma privação completa da liberdade. Por outro lado, o termo curricular relaciona-se diretamente ao ‘currículo’ cuja definição tem ganhado novas concepções nos últimos anos segundo alguns estudiosos. Chamou-me especial atenção o apontamento feito por Tomaz Tadeu da Silva no seu livro “Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo acerca do currículo”, quando diz: “É através de um processo pedagógico que permita às pessoas se tornarem conscientes do papel de controle e poder exercido pelas instituições e pelas estruturas sociais que elas podem se tornar emancipadas ou libertadas de seu poder e controle.” (2003, p.54).
Percebe-se que a visão apresentada compreende o currículo por meio dos conceitos de emancipação e libertação. Ah, sendo assim, fica mais fácil compreender o porquê da utilização dos termos grade e curricular, ou seja, a conquista da liberdade surge a partir da consciência adquirida (através do ensino) sobre o papel opressor exercido pelas instituições e estruturas sociais e tudo mais que nos controla e aprisiona. Certo? Bem, um tanto quanto confuso tal relação se associá-la aos termos em questão. Se compreendermos a escola como um grande espaço propício à socialização, um lugar que permita aos educandos fazer uso da criatividade, alimentar seus mais íntimos e profundos sonhos; um local de ousadia, inovação e sobre tudo permeado por diferentes vozes, fica realmente difícil compreender o porquê de continuar usando a expressão grade curricular. Já que criatividade, inovação, sonhos, ousadia e vozes são vocábulos que pressupõem ‘liberdade’, que valor semântico teria a utilização da palavra ‘grade’ neste contexto?
É necessário lembrar que nosso maior objetivo deve ser formar cidadãos conscientes e transformadores. Portanto, é preciso que, enquanto educadores também conscientes e comprometidos com o processo ensino-aprendizagem, não continuemos presos a um conceito tão deturpador. Ora, manter-se em lugar comum é estar preso às amarras que nos impedem de mudar a realidade circundante. Não há porque transformar-se em um professor aprisionado pelo uso corriqueiro de termos conflitantes.
Assim, pela liberdade crítica que deve integrar toda ideologia voltada ao currículo, digamos NÃO ao uso de GRADE CURRICULAR.

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