sábado, 1 de janeiro de 2011

Livro, pra que te quero?


O jornal Folha da manhã, do último dia 11, trouxe uma reportagem intitulada "Investimento de 1,5 milhão em livros”, em que a secretária de educação, Joilza Rangel, fala da aquisição de mais de 40 mil novos títulos que serão direcionados às bibliotecas e salas de leitura das unidades escolares da rede municipal de ensino. O objetivo, segunda ela é “estimular a leitura de 55.861 alunos matriculados nas 235 unidades escolares” além de “suprir a demanda de cerca de 30% de analfabetos funcionais”.
A resistência à leitura dentro da escola é maior do que imaginamos! Na 6ª Bienal do Livro realizada em nossa cidade, adquiri 147 livros (sendo 92 de literatura infanto-juvenil utilizados com muito proveito em sala de aula), o que causou espanto de alunos, e até de alguns colegas professores ouvi coisas do tipo: “que desperdício!”, “exagero!” e até “que doideira!”, o que nos dá a real dimensão das dificuldades que serão encontradas.
“Um país se faz com homens e livros”, já disse Monteiro Lobato, e como professor de Língua Portuguesa de uma dessas 235 escolas e também de Literatura em Curso de Letras, aplaudo a iniciativa, mas por não conhecer seus detalhes, esperamos que o investimento não se perca como muitos outros já realizados, resultando em mais um desperdício de dinheiro público, pois à implantação de qualquer Plano de Ação (detesto a palavra “projeto”, que semanticamente cheira à gaveta emperrada) devem anteceder medidas que servirão de alicerce para recebê-lo, tais como:

  • Levantamento do acervo escolar. Quais são os títulos e a quantidade existentes atualmente nas escolas? Quantos bons livros enviados às unidades escolares se perderam e se perdem por falta de local adequado, de cuidado ou até mesmo de escrúpulos daqueles que se apoderam dos bens públicos? Sem controle trabalho nenhum avança.
  • A vitrine de qualquer instituição de ensino/aprendizagem é, e sempre deverá ser, uma boa biblioteca. Verificar a situação atual desses espaços escolares e adequá-los aos objetivos propostos. Um ambiente agradável e com a cara do jovem será a primeira “isca” para estímulo à leitura.
  • Com todo o respeito, os clássicos, na sua maioria, são verdadeiros desestímulos a quem ainda não adquiriu o gosto pela leitura. Preferir livros que abordam temas afeitos à realidade vivenciada pelos jovens na atualidade. Aventuras, ficção e relacionamentos são uma boa pedida.
  • Disponibilizar gente qualificada e comprometida com o Plano de Ação para gerenciar as bibliotecas/salas de leitura. Quando tem, muitos são pessoas despreparadas ou até mesmo “sobras” de pessoal para “tomar conta” dos livros. O comprometimento de quem gerencia pode contagiar até os mais resistentes.
  • Interrelacionar os objetivos do “projeto” ao trabalho desenvolvido em sala de aula. O professor exercerá um papel fundamental no sucesso desta empreitada, pois sem ele todo o esforço se perderá. O distanciamento entre sala de aula e biblioteca será o grande desafio a ser vencido.
  • O gerenciamento (pelo menos até a “coisa pegar”) deverá ficar a cargo da Secretaria de Educação, pois alguns diretores não alcançaram ainda o valor do pedagógico na instituição o que poderá comprometer todo o trabalho.
  • O aluno deverá ser sensibilizado quanto à importância da leitura em sua vida. Como ator principal, sua função deverá ser proativa para que ele tenha consciência do seu papel no Plano de Ação.
  • Não restringir o processo de letramento especificamente ao livro e à escola. Vídeos, internet, apresentações teatrais, movimentos comunitários são meios interessantíssimos para o estímulo à leitura.

Sou um grande apaixonado pela Educação, mas acredito que necessitamos de muito mais do que PAIXÃO para construirmos uma escola pública de QUALIDADE para nossas crianças e jovens. Precisamos mesmo é de saber-fazer-acontecer para que nossas ações sejam, no mínimo, ESTIMULANTES e DURADOURAS.
(artigo publicado no blog de José Renato Rangel Duarte em 28/12/2010)

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