domingo, 3 de abril de 2011

A escola que ecoa no discurso vazio: com a palavra o educando

Escola pra quê?
Fiz a pergunta acima aos alunos de três turmas minhas (6º Ano – Ensino Fundamental) de uma escola pública da rede municipal de ensino em São João da Barra. Para ser mais exato, pedi que meus alunos redigissem a resposta. Queria ouvir as vozes que vêm dos bancos escolares. Acho que não ouvi vozes e sim gritos, principalmente no que tange aos erros de Português que foram gritantes!
Que lástima! Surpreso? Eu? Receio dizer que não. Já esperava por tal situação diante do quadro que tenho visto em sala de aula todos os dias desde que comecei o ano letivo. Ah, devo ressaltar que esta é minha primeira experiência, de fato, com turmas do Ensino Fundamental na rede pública de ensino. Nossa! Quantos alunos chegam ao 6º Ano sem saber ao menos escrever o próprio nome... Caligrafias horrendas, vocabulário paupérrimo! Letras maiúsculas, ponto, vírgula, acentuação? Ó céus, aonde foram parar? Concordância e regência nem pensar! Só me resta, por ora, lamentar... Poderiam até questionar: mas você tá ministrado aulas de língua estrangeira moderna (inglês), não? E daí!
Cruzar os braços, ver a caravana passar e nada tentar fazer para mudar? Nada disso! Não me darei por vencido. Quero encontrar um jeito de remar contra maré... Surpreender e ser surpreendido (positivamente é mais gostoso – tem sabor de vitória). Eis que no final, entre mortos e feridos hão de salvar alguns. Será? Quem viver verá! Ai, meu Deus! Não vejo a hora deste dia chegar. É bem verdade que a maior contribuição que um educador pode dar é ajudar na formação de um cidadão para a vida e, isto é um processo que demanda tempo.
Bem, não fui à busca de checar o quão bom nossos alunos têm andado em língua portuguesa. Minha ousadia levar-me-ia a mergulhar bem mais fundo, coisa de quem gosta de cutucar onça com vara curta. Assim, li folhas e mais folhas de respostas sem parar. Não posso negar, dei algumas risadas (pelo menos alguns alunos têm senso de humor), porém, por vezes tive vontade de chorar. Pouca coisa que se possa aproveitar... Ah, acho que muitos queriam mesmo é responder qualquer coisa pra sacanear?! Sacanear quem, a mim? Quanta ignorância! Estão tripudiando sobre si mesmos...
Mas de quem é a culpa por muitos não saberem pra quê serve a escola? Será que é pedir muito para alunos do 6º Ano? Surpresa maior é saber que têm alunos do 9º Ano que também não dariam respostas louváveis a tal questionamento. Mas eles sabem tanto sobre outros assuntos! Têm respostas prontas na ponta da língua (muitas vezes afiada) quando o tópico refere-se ao besteirol diário... São campeões na elaboração de discursos convincentes (justificativas cheias de razão com voz impostada e tudo) acerca de quem deveria ganhar o BBB11... Porém, quando o assunto é a razão pela qual eles devem ir à escola, resultado: discursos vazios. Acredito que os nossos alunos precisam compreender o porquê da existência da escola na vida deles. Caso contrário, fica realmente difícil conduzi-los rumo a um norte... Continuaremos a pregar no deserto, jogando palavras ao vento se não mudarmos o curso do discurso, da práxis, e tudo mais. Mas como mudar? (Sugestões serão bem-vindas!)
Finalmente, como tudo na vida tem dois lados, reproduzo abaixo a resposta de um dos meus alunos que considerei a melhor entre tantas lidas. Devo ressaltar que não fiz correção do texto original para que a autenticidade fosse mantida:
“A escola é composta de pessoas diretor, espetores, alunos e professores. Eu acho que a escola é para nos tornar pessoas melhores, ela serve para que um dia agente possa ter uma boa profissão e ser um alguém nessa vida eu tenho certeza que aquela pessoa que não teve a oportunidade de estudar um dia vai dizer poxa como isso me fez falta.” _ Wennan da Silva Monteiro (Turma 605)
Obs.: Qualquer semelhança entre as “vozes” citadas acima e as provenientes de outras escolas não terá sido uma mera coincicidêna!
Prof. Carlos Fabiano de Souza 

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