No interior do Estado de São Paulo, entre plantações de cana-de-açúcar, pés de laranja e estradas vicinais mal conservadas, estão as melhores escolas estaduais. Elas atingiram em 2010 os índices mais altos no Idesp, indicador de qualidade criado pelo governo paulista. Para conhecer as receitas de sucesso e ver o que dá certo na educação pública, a reportagem visitou cinco escolas que não só tiveram os melhores desempenhos, como ultrapassaram a meta pretendida para 2030 pelo Estado, nota 6 no 9º ano do ensino fundamental e 5 no 3º ano do ensino médio.
As escolas Antonio Sanches Lopes, Rizzieri Poletti, Comendador Francisco Bernardes Ferreira, Pedro Mascari e Professor João Caetano da Rocha estão localizadas em cidades pequenas ou distritos rurais e têm em comum, principalmente, o número reduzido de alunos e a falta de equipamentos tecnológicos. Provam que a qualidade da educação passa por poucos alunos por professor e por um corpo docente presente, com vários anos de dedicação à mesma escola.
Andrea Maria Garuzi, professora de geografia e história e também ex-aluna da escola, acompanha a turma desde o 5º ano do ensino fundamental. Para a professora, que já trabalhou em outras escolas maiores, a principal explicação para o bom desempenho é o número de alunos. “Em uma sala com 40 alunos você não consegue explicar a matéria. Não dá para vistar o caderno de cada um. Aqui a gente acompanha o aluno de perto”, diz.
Os alunos percebem o atendimento individualizado e sentem-se como se estivessem em uma escola particular. “O professor explica as dúvidas de mesa em mesa”, conta Taciana Beatriz Mota Neves, de 15 anos, aluna da turma que contribuiu para o alto Idesp.
Os alunos percebem o atendimento individualizado e sentem-se como se estivessem em uma escola particular. “O professor explica as dúvidas de mesa em mesa”, conta Taciana Beatriz Mota Neves, de 15 anos, aluna da turma que contribuiu para o alto Idesp.
A 150 quilômetros de Balbinos está a Rizzieri Poletti, única escola de ensino médio da pequena Cândido Rodrigues. A escola tem apenas seis turmas e atingiu o mais alto Idesp da rede, 5,81. No ano passado, apenas 15 alunos estudavam no 3º ano do ensino médio de manhã e 11 estavam no noturno. “Não temos problema de disciplina, é mais fácil trabalhar com poucos alunos. Aqui é o paraíso”, resume a professora de biologia e ex-aluna da escola, Tathiane Campero.
Na prática, o Saresp não significa nada para os alunos. Não reprova de ano, não dá pontos na nota final, nem bônus no vestibular, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Os estudantes não têm como saber a nota que tiraram na prova, não recebem boletins de desempenho e a Secretaria não divulga os gabaritos. A Secretaria estuda a possibilidade do Saresp conceder pontos no vestibular das universidades públicas estaduais e das instituições de ensino superior que quiserem adotá-lo, mas nada de concreto foi anunciado até agora.
Mesmo assim, os alunos sentem-se na obrigação de “ir bem” porque se preocupam com o nome da cidade e da escola – em muitos casos onde seus pais e irmãos estudaram. “Essa nota é uma meta para a nossa turma”, diz Joseani, Zampieri, 16 anos, aluna do 3º ano do ensino médio.
Outro fator que faz efeito é a metodologia de ensino e o treinamento aplicado. As escolas ensinam o conteúdo das apostilas distribuídas pela Secretaria de Educação, material didático que uniformizou o currículo escolar na rede e no qual o Saresp é baseado. Pelo menos três simulados enviados pelas Diretorias de Ensino são aplicados ao ano. O desempenho de cada aluno é avaliado e os professores partem dele para atuar em cima das dificuldades apresentadas. Em turmas com no máximo 20 alunos, o trabalho fica mais fácil e eficiente.
Companheirismo, colaboração e respeito. Professores e alunos apontam essas características como principais fatores do bom ambiente escolar e da disciplina. “Aqui nunca sai briga”, diz Fernando Zaniboni, aluno da Pedro Mascari, escola de um pequeno distrito de Itápolis, a 18 km do centro da cidade. Com 233 alunos, divididos entre manhã, tarde e noite, os alunos convivem durante o recreio, fazem atividades juntos, excursões e afirmam ser amigos.
Em 2010, a Pedro Mascari ficou em 3º lugar no Idesp do 9º ano do ensino fundamental (6,48) e em 4º no Idesp do ensino médio (5,17). “A gente se destacou nas duas etapas e se Deus quiser este ano vamos tirar um primeiro lugar”, torce Luis Fernando da Silva, 16 anos, aluno da turma do 3º ano do ensino médio.
Referência de cultura, lazer e ponto de acesso à internet, as escolas são abraçadas pela comunidade, que utiliza bastante o espaço. Com o projeto “Escola da Família”, os jovens pararam de pular os muros nos fins de semana para usar a quadra, em muitos casos a única da cidade ou do distrito.
O programa do governo estadual, criado em 2003, chegou há pouco às escolas visitadas. A instituição abre as portas para a comunidade nos fins de semana, oferecendo atividades de esporte, cultura, saúde e trabalho, e jovens universitários ganham bolsas de estudo para trabalhar na escola. “Temos 10 ex-alunos trabalhando aqui. É um estímulo para eles continuarem os estudos”, avalia Marlene Eunice Cavalheiro Bueno Verdiani, diretora da João Caetano da Rocha, localizada em um distrito de Itápolis. Lá, o programa começou só neste ano.
A presença e a participação dos pais são estimuladas nas escolas “campeãs”. É devido a esta relação próxima com as famílias que as faltas e a evasão escolar são problemas menores nas escolas de cidades pequenas. Os educadores vão até a casa dos estudantes se eles faltam mais de um dia. Conversam com os pais, fazem o possível para que os alunos não abandonem os estudos. E como em cidade pequena praticamente todo mundo se conhece, ao avistar um aluno fora da escola no período de aula, os próprios moradores ligam para a escola e avisam a direção. “Aqui todo mundo cuida de todo mundo. O aluno é um ser humano, não um número”, diz Sandra Regina Veronesi Melo, professora de artes da Antonio Sanches Lopes.
Fonte: IG Educação
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