quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

56% do tempo em aula são desperdiçados

 
Apenas 44% do tempo previsto para as aulas nas Escolas de ensino médio são, de fato, aproveitadas para ensinar. É o que constatou uma pesquisa realizada em 36 turmas de ensino médio de 18 Escolas públicas do país. Das 4 horas de aula previstas por dia, em 2010, apenas 1 hora e 44 minutos foram efetivamente dadas, em média, nessas turmas.
A pesquisa "Audiência no ensino médio", realizada pelo Instituto Unibanco em parceria com o Ibope e o Instituto Paulo Montenegro, chegou às conclusões monitorando as faltas de professores e de alunos. De acordo com a diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro, Ana Lúcia Lima, o resultado não pode ser estendido para todas as redes e Escolas, mas serve de alerta.
O tempo de aula não dado corresponde a uma perda de até 19 dias letivos. Durante a semana, os dias com menor frequência de alunos e professores foram as quintas e sextas-feiras.
As Escolas foram separadas em grupos, de acordo com o número de aulas dadas. Em algumas Escolas, a quantidade de faltas chega a quase a metade do previsto. "Nelas, há uma violação de direitos absurda, e é preciso haver uma intervenção séria para levar todos de volta para a sala", diz Ana Lúcia.
No grupo de Escolas com o menor número de aulas dadas, por exemplo, o número de falta dos professores chegou a 37%; e o de alunos, a 45%.

Fora da sala
A pesquisa também mediu o tempo de estudos dos alunos fora da sala de aula. A variação foi de 1 hora e três minutos a 1 hora e 15 minutos por dia. Cerca de 20% dos alunos disseram não fazer nenhuma atividade fora da aula.
No ensino médio da rede pública, em geral, não são oferecidas aulas em período integral. A duração das aulas no Estado já chegou a ser de 60 minutos, mas, este ano, passou para 55 minutos - ainda assim, cinco minutos a mais que as aulas das Escolas pesquisadas.
De acordo com Ana Lúcia, o instituto deve elaborar uma segunda etapa do estudo para aprofundar os resultados e entender as motivações que levam às faltas de professores e alunos nas Escolas.

Manter a motivação é um desafio diário
"Motivar a participação dos alunos nas aulas e despertar o interesse é um desafio diário", diz a professora de Artes da Escola Irmã Maria Horta, em Vitória, Maria Cláudia Bachion Ceribeli, que no encerramento do ano letivo, há uma semana, levou todos os alunos do 1º e 2º ano do ensino médio para a quadra da Escola.
Lá, eles participaram de uma apresentação de dança, em grupos, para colocar em prática o que aprenderam nas aulas. A atividade garantiu, além do aprendizado, muita diversão e envolvimento dos alunos. "Eles mesmos prepararam coreografia e figurinos. É uma forma de envolvê-los no tema", diz.
A diretora da Escola, Ida Maria Gasperoni Martins, diz que os projetos que a Escola vem desenvolvendo têm ajudado a diminuir os índices de evasão. "Em cinco anos, nossa evasão caiu de 5,6% para 1%. O período noturno ainda é o nosso maior desafio, porque os alunos, em geral, trabalham durante o dia e têm menos disposição para atividade diferenciadas. Mas vamos chegar lá", ensina.

Falta planejamento dos professores
Cleonara Schwartz, professora do programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)
O mau aproveitamento do tempo de aula nas Escolas deve-se, em grande parte, à falta de planejamento dos professores. Todo o tempo da Escola precisa ser planejado para o aprendizado, e as atividades devem ser organizadas em função disso.
Muitos fatores já contribuem para a diminuição da duração da aula, como a acomodação dos alunos e o tempo que o professor leva para dominar a turma. É importante, portanto, que as Escolas detectem que fatores levam às faltas para impedir, com antecedência, que isso aconteça.
Se os alunos não se interessam em ir para a Escola às sextas-feiras, o que é preciso fazer para incentivá-los? Se os professores se sentem desestimulados e não conseguem criar vínculos fortes com os seus alunos, como fazê-lo mudar? A Escola, como um todo, precisa pensar na sua gestão administrativa e saber encontrar soluções para esses problemas.

Faltas
A falta dos professores, a ausência coletiva dos alunos e outros motivos, como greves e reuniões da Escola, levaram a uma perda de 8 a 19 dias letivos nas Escolas analisadas
 
Aproveitamento
Das quatro horas de aula diárias previstas, o aproveitamento em sala de aula foi de apenas 1 horas e 44 minutos

Ausência
A ausência dos alunos chegou a 45% durante o período. Em média, apenas 24 dos 40 alunos previstos por turma frequentaram as aulas

Fim da semana
Os dias da semana cuja participação dos alunos e professores na sala de aula são menores são quinta e sexta-feira, justamente os mais próximos do final da semana. A terça-feira é, geralmente, o dia com maior presença

Primeiras aulas
As primeiras aulas do dia são sempre as que têm menor audiência de alunos e professores. Essa participação é maior, geralmente, na terceira aula do dia

Noturno
O turno com menor frequência de alunos e professores é o noturno

Extra-classe
Fora da Escola, os alunos dedicam apenas 1 hora e 15 minutos, no máximo, para estudos. A maior parte desse tempo é dedicado a aulas de informática, seguido de cursos profissionalizantes e cursos de línguas

Perspectivas
Entre 63% e 77% dos alunos pretendem entrar no ensino superior quando saírem do ensino médio. De 8% a 15% dos alunos já pararam de estudar, mas voltaram.

A Gazeta (ES)

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