segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Abandono, reprovação e ensino médio politécnico

Qualquer pessoa que tenha alguma capacidade de observação percebe a precariedade das Escolas públicas estaduais. Quantas Escolas estaduais têm um ginásio coberto para as práticas esportivas? Quantas têm laboratórios de informática? Quando tem o laboratório, falta o técnico responsável pela sua manutenção.

Quantas têm bibliotecas atualizadas e com funcionários responsáveis? Quantas estão em locais de difícil acesso, onde o poder público não oferece um transporte coletivo eficiente?

Paralelo com isso, temos um quadro decadente com professores desmotivados, fazendo de conta que ensinam e alunos fazendo de conta que estudam. professores fazendo jus a um salário absurdamente aviltante. Qual o percentual de alunos que quer ser professor? Os alunos qualificados que emergem desse caos não querem ser professor.

A não ser como uma atividade complementar. A sociedade como um todo também não valoriza o trabalho do professor. Alguns ainda pensam que não é trabalho e ainda tem três meses de férias.

Quando leio que nós professores somos os responsáveis pelos altos índices de reprovação e abandono Escolar, é estarrecedor. O professor que procura fazer seu trabalho apesar de tudo isso, que passa conteúdos fazendo avaliações e cobrando de seus alunos esses conteúdos, esse professor muitas vezes é responsabilizado por esses índices.

A proposta do atual Secretário de Educação do Estado para o ensino médio nas Escolas públicas estaduais está na contramão de nossa realidade. Porque veio praticamente pronta de cima para baixo, com pouca ou nenhuma possibilidade de alteração. Porque está centrada nessa premissa de que o professor é o responsável pelo desinteresse do aluno.

Não é a falta de infraestrutura nas Escolas e nem a desvalorização dos professores que causa todo esse descaso! Porque aumenta a carga horária de aulas, o que seria em si a parte positiva da proposta, mesmo com toda essa precariedade.

O problema é que a metade desse tempo é para a chamada "parte diversificada", fazendo com que o aluno no 3º ano tenha apenas um período de Matemática por semana. O aluno tem que ter atividades culturais e práticas para a inserção no mercado de trabalho, mas isso poderia ser, no máximo, 25% dessa carga horária.

Os alunos estão com muitas dificuldades, principalmente em Português e Matemática. Eles são cada vez mais empurrados para a série seguinte para não aumentar esses índices.

A nossa realidade está exigindo profissionais cada vez mais qualificados. Os nossos alunos precisam aprender a ler e escrever corretamente, a dominar as operações fundamentais da Matemática, a equacionar e resolver os problemas.

Não precisa inventar um ensino "politécnico" com 50% de "diversos" em Escolas sem laboratórios e salas de aula adequadas. Basta melhorar a infraestrutura, oferecer um melhor transporte coletivo e, principalmente, valorizar o trabalho do professor e dos funcionários de Escolas que a melhora nos índices de abandono e reprovação Escolar será automática.

José Celmar Roir da Silva, in: Correio do Povo (RS)

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