domingo, 25 de dezembro de 2011

Ciranda de Natal (6)

MELANCOLIA

O sol boceja! A Noite Santa avança
e, em meio ao lusco-fusco do poente,
volto a sentir saudades da criança
que a vida fez crescer e, de repente...

Nada, contudo, guarda semelhança
com os Natais do meu antigamente:
o mundo é outro ¾ a bem-aventurança
da data, um breve hiato, num presente

de tanta violência entre os mortais,
que é fácil compreender não volte mais
essa criança que se foi tão cedo;

prefiro vê-la agora recolhida,
neste meu peito que, de volta à vida
mas, infeliz e trêmula de medo!
(Darly Barros)

Natal!
Magia que se renova em cotidiana esperança
Natal!
Magia que embala o despertar silencioso de todos os sonhos
Natal!
Magia da transformação dos sonhos em FÉ
(Neilde Chalita)

Nem só de presentes faz-se
o Natal, nem de comida.
Natal é aquele em que nasce
Jesus Cristo em nossa vida!
                 (A. A. de Assis)

 JARDINAGEM
 
Chuva . Apaga no céu todas as luzes. Motorista do táxi me transporta sob esta chuva herege, insistente, criadeira, e  pergunta, tipo quem meramente comenta, enquanto  transvasa o formigueiro labiríntico de nossas ruas, se já é dezembro. Pergunta logo a mim que nada sei de tempo e até acho complicadas as manobras militares, tão científicas quanto inúteis, com que buscam acorrentá-lo a medidas exatas. Mas parece  que o calendário impunha como resposta, no momento da pergunta, ser o último dia de novembro. Será talvez dezembro quando pousarem olhos sobre o que escrevo. Mas já agora pessoas se adiantam e  agarram velozes os derradeiros vestígios do ano, nos bancos,na praça,  nas lojas de presentes. Aquela vertiginosa  rapidez lenta, e vacilantemente inútil (acaso a única então possível), carregada dos embrulhos que se carregam apesar da chuva. Ruas vazias de espaço, cheias de gente e carros se arrastando numa pressa concorrente e molhada que tenta correr, tropeçante, antecipando expectativa do décimo-terceiro que a matemática – não a lógica singela dos fatos consumados-   diz ser impossível num ano de doze. Será  - ou é- dezembro? Diferença entre doze e treze, entre o que foi, o que é, e o que será. Nenhuma, se dois mais dois igual a sempre, noves fora zero,  resto nada ou, em conta sem erro, esperanças grandes.  A verdade agostiniana proclama só existir o tempo presente, que engloba lembranças presentes do passado e expectativas presentes do futuro.  Dizem e ouço, enquanto cultivo a teimosia de me colocar em estado de Natal não contradizendo ninguém, para ficar em espírito de paz.  Tento, quando Natal se aproxima. Procuro mesmo, nesta época ao menos, reencontrar, entre as nuvens mais espessas, os comandos da Estrela de Belém, mesmo não sendo eu rei nem tendo a sabedoria dos magos, sabedoria de  cujo conteúdo até hoje não se sabe qual fosse.

Mas a chuva cai, sabida e pegadeira .Extremamente inadequada e pagã, como este frio fora de época. Parece que vai durar até  o Natal. O que mostrarei neste Natal ao meu primeiro neto, já nascido e batizado,  que não comemorou ainda seu primeiro dia de Natal? Disse ser a chuva  pagã e  herege? Já não tenho tanta certeza. Sei é que não termina, sonolenta em seus bocejos, de contar  nos dedos incontáveis seu tempo de acabar. Vejo que cai sem pressa, descolorindo nas coisas um tom sem sol, vagamente cinzento, delindo contornos, velando claridades. Impondo em tudo aquele  fora-de-moda, aquele  ar  estranho de retrato antigo cuja verdade foi-se embora. Retrato onde nós, se nele estávamos, de muito nos retiramos daquela inacreditável figura de menino a aguardar de Papai Noel o seu brinquedo. A chuva cai, e vai escorrendo em lágrimas os últimos vestígios assinalados do calendário, encharcando-nos daquela tristeza desendereçada, fria, tão vaga e indefinível que alguns quase que chamam de saudade. Olho para este céu de borralho que vai cancelando no quadro ainda em processo - ano inconcluso-   os últimos restos, neste  novembro-dezembro do Ano da Graça de  dois mil e onze. Nem sei se digo que será chuvoso,  imbrífero, este Natal sem luzes vistas no céu. Nunca me ensinaram a ciência dos meteoros. Só rudimentarmente a  das estrelas.  Pode que possa mostrar minha espera. Pois não sei se a que todos os anos espero conseguirá abrir caminho e alumiar-me  ao menos os sapatos cambaios que, como de costume,  deixarei , órfão de presentes, sob a árvore ou na janela. Conseguirá chegar-me como das outras vezes, demarcando futuras caminhadas como das outras vezes.  Saiba-se que  não aceito em meu Natal menos que uma estrela.

Chuva sem adjetivos, simplesmente? E grande meu desânimo, embrulhado num frio enorme que encapota os dias. Chuva que cai e persevera por toda a parte, na cidade e no campo. Certamente até entre urtigas, entre pedras, entre espinhos . Verão ou quase-verão embora. Ou será que me enganei de época? Se me enganei de ano, serei o único orgulhosamente humilde o bastante para confessar que nada sei de tempo. Estamos não em dezembro de 2011, mas em algum dia de  5772 como querem os judeus? Ou mesmo em 1432 (contando-se a partir da Hégira) como juram muçulmanos? Entre nós mesmos  usávamos não o atual calendário gregoriano, mas o calendário juliano (reformulado por Augusto) vigente ainda hoje entre certos cristãos orientais . Não sei como me situar em todos eles e, neles, o 25 de dezembro. O que frequentemente dificulta situar-me de pronto, sem recurso à agenda, em qualquer deles. Admito até a possibilidade de ser mais simples o calendário chinês, o qual briosamente desconheço. Sei é que me acostumei a ver, no céu cheio de estrelas nas imediações do Natal,  quando ele se aproxima, a Estrela de Belém a me servir de lume..

Indago se ela, encoberta, já  está aí mesmo, tendo mudado só de    aparência, linguagem, ou de intérprete, para ser entendida. Haja passado  mesmo, como que de contrabando, através das nuvens, através da chuva. Descubro que, apesar da chuva, ou exato por causa da chuva, desabrocharam já, nesta primavera-verão de inverno de agora, risonhas flores carregadas  de primavera plena, acaso em lugar de uma só , solitária e esperada estrela. Posso mostrar incontáveis estrelas em constelações codificadas, exuberantemente descidas, ao mesmo tempo, subitamente do céu sobre os canteiros dos jardins mesmo em descuido. Posso, alegre, mostrar alegres e floridas revoadas deixadas de um céu que está, embora até, olhando-se para cima, não se possa ver que está,  em festa. Posso mostrar ao pequenino pequeninos sóis de cores todas, que se afeiçoaram ao chão, se aninhando nele, fazendo  nele raiz e pouso.Tudo isso nas flores cuidadosamente plantadas por esta chuva cristã com seus dedos jardineiros, nos indicando com clareza o que fazer, exatamente o que fazer, mesmo entre urtigas, entre pedras, entre espinhos...

(Elmar Martins)
NATAL EM SENTIDO REAL

Tempo litúrgico, data comercial
Neste poema esbocemos o que é Natal
De modo que, e forma sem igual,
Seja explicado o seu sentido real.

Digas tu qual luz é mais forte a brilhar.
A estrela de Belém ou a artificial a piscar?
Digas tu onde é pertinente depositar nossa esperança:
Num fictício velhinho ou no Deus que se faz criança?

Digas tu qual presente devemos celebrar:
O que é deixado aos pés da árvore
Ou aquele que o presépio vem revelar.

Perpetue ente os seus tudo o que ela ensina
Nosso maior presente ninguém jamais poderá vender,
Pois, Ele veio de graça doar-se você.

Tempo litúrgico, data comercial
Com alegria festejemos o verdadeiro Natal
Aproveitemos essa época de esplendor universal
Para nos unir fraternalmente e desprezarmos todo mal.
(Érica Viana)

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