domingo, 4 de dezembro de 2011

A reforma do ensino médio

O 4º Congresso Internacional de Inovação, realizado na Fiergs nos dias 16 e 17 de novembro, começou com um painel chamado “Educação: Novos Fluxos de Conhecimento”.
Durante toda a manhã, falaram seis excelentes painelistas: dois pesquisadores da Educação, uma da Alemanha e outro dos Estados Unidos, o criador da Escola da Ponte, de Portugal, o presidente do Instituto Alfa e Beto, o diretor regional da Abimaq e a representante da Secretaria de Educação do RS.
Todos convergiram em duas direções fundamentais: a primeira sobre a necessidade de mudanças profundas nas escolas, para acompanhar as exigências feitas pelas realidades atuais; a segunda sobre as principais características dessas mudanças.
Nesta segunda linha de reflexão, há uma concordância entre o que eles disseram e aquilo a que chegam os estudos mundiais e brasileiros desde a década de 70.
Tomo como paradigma, porque representam muitas outras propostas, as conclusões da conferência mundial sobre Ensino Superior da Unesco, especialmente dirigidas ao século 21 e publicadas em As Demandas do Mundo do Trabalho, de Ulrich Teichler, Centro para a Pesquisa sobre Ensino Superior da Universidade de Kassel, Alemanha.
Embora essas conclusões refiram-se ao Ensino Superior, elas concordam com tudo que os teóricos pensam para o Ensino Médio. Lembro-me de uma reunião entre empresários gaúchos e o então Departamento de Educação Média da SEC/RS, nos primeiros anos da década de 70, em que os empresários disseram aos educadores: “Ensinem filosofia, o resto da profissionalização nós fazemos”.
São como 10 mandamentos que reproduzo a seguir. Seja flexível, isto é, não se especialize demais. Invista na criatividade, não só no conhecimento. Aprenda a lidar com incertezas (o mundo está assim). Prepare-se para estudar durante toda a vida. Tenha habilidades sociais e capacidade de expressão.
Saiba trabalhar em grupo, bons empregos exigem isto. Esteja pronto para assumir responsabilidades. Busque ser empreendedor, talvez você crie seu emprego. Entenda as diferenças culturais (o trabalho se globalizou). Adquira intimidade com novas tecnologias, como a internet.
O Ensino Médio nunca teve uma identidade própria; sempre representou um hiato entre o Ensino Fundamental e o Ensino Superior, suportando os “conhecimentos” formalizados do vestibular. Julgo serem estes 10 mandamentos um referencial suficiente para dar-lhe uma direção.
Uma proposta deste tipo será, também, uma vacina contra a ideia de profissionalização universal no Ensino Médio; sabemos que isto aprofundaria a diferença entre escolas para ricos e escolas para pobres.
Uma proposta assim também evitará o erro da década de 70; vivemos uma situação parecida, com um crescimento econômico importante, com a consequente falta de mão de obra especializada.
Não é hora de fazer do Ensino Médio o lugar da profissionalização, mas de ter escolas técnicas, não muitas, mas de qualidade, de dar a todos um ensino transdisciplinar (não interdisciplinar), de retomar a vocação dos cursos mais rápidos do Senac, Senai, Senar... e de abrir facilidades para que empresas ofereçam cursos de preparação de profissionais, com rapidez e com destino já determinado.

Zero Hora (RS)

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